Personagem central no desfile que a Viradouro apresentará no sambódromo, neste domingo, Luiz Carlos da Vila era figura fácil em Niterói, antes de sair de cena, em 2008. Do Pagode do Beltrão, em Santa Rosa, que frequentava nos anos 90 — perto de onde nasceu a escola de samba —, às rodas do Candongueiro, em Pendotiba, o poeta do Cacique de Ramos e morador da Vila da Penha se sentia em casa na cidade, tanto que chegou a comprar um terreno na Região Oceânica. Agora, o samba da vermelho e branco leva a assinatura dele, porque “o show tem que continuar”.
Presidente da escola, Gusttavo Clarão uniu dois sucessos do compositor, “Nas veias do Brasil” e “Por um dia de graça”, de onde vem quatro versos do refrão (“Em cada palma de mão, cada palmo de chão...”). A crítica especializada garante tratar-se de um dos melhores sambas da safra 2015, e a expectativa é grande. A ideia do carnavalesco João Vítor Araújo é contar com os versos de Luiz Carlos a boa influência africana no Brasil.
Para citar outra composição do artista, Niterói era o “Doce refúgio” de Luiz Carlos. Tantas eram as andanças dele pela cidade que um amigo brincava que devia se mudar de vez e adotar o nome Luiz Carlos da Vila Real da Praia Grande, numa referência ao antigo título da cidade. De roda em roda, em 1997, ele assinou o hino “Ao amor do público” para o bloco Filhos da Pauta e, frequentemente, era acompanhado por músicos niteroienses em seus shows.
Também compositor, o diretor da Viradouro, Rubem Viana, lembra que, em 1997, foi à final da disputa na quadra da escola com um samba feito com Luiz Carlos da Vila e Gusttavo Clarão. Agora, 18 anos depois, a Viradouro volta ao Grupo Especial após quatro anos na Série A, apostando na força do samba de Luiz Carlos. Na última vez que a Sapucaí ouviu a poesia do compositor, com “Kizomba”, em 1988, a Vila Isabel conquistou o primeiro campeonato.
— Minha amizade com o Luiz Carlos começou na década de 90, no pagode do Beltrão, organizado pelo amigo Wagner. Antes de conhecê-lo pessoalmente, desfilei em 1988 na Vila Isabel, atraído pelo samba “Kizomba”. Aí, quando o conheci, falei dessa admiração pelo seu trabalho. Ao longo dos anos, nossa amizade, assim como outras que ele fez em Niterói, foi estreitada. Ele frequentava minha casa com sua mulher, a Jane, era muito querido pelos meu pais. Era uma pessoa muito doce e amorosa — lembra Rubinho, que ingressou no samba, em 79, na extinta Acadêmicos do Beltrão e compôs sambas na Portela e diversos sucessos da Viradouro.
A ideia de entrar na avenida com o samba de Luiz Carlos surgiu em 2011, num bate-papo entre Rubinho e Gusttavo, mas como a escola estava no grupo de acesso, eles acharam melhor guardar o reforço para o retorno à elite do samba. No desfile de amanhã, amigos e familiares do sambista vão desfilar num carro alegórico em homenagem a ele.
— Num dos pagodes do Beltrão, Luiz Carlos cantou pela primeira vez o samba “Nas veias do Brasil” e me contou que compôs a pedido da Beth Carvalho, que estava terminando de gravar um CD e queria uma canção de sua autoria. Quando eu e o Gusttavo paramos para pensar no carnaval de 2012 surgiu a ideia dessa música, que o Gusttavo também lembrava de ouvir no Beltrão. Foi dele a ideia de incluir uma estrofe de “Por um dia de graça”. A Viradouro espera prestar uma homenagem à altura da grande obra do Luiz Carlos da Vila e tem certeza que onde quer que ele esteja vai estar vibrando e torcendo pelo sucesso da escola — completa Rubinho.
Grande amigo do sambista e responsável por reunir em Niterói diversos bambas consagrados na roda de samba do Candongueiro, o músico Hilton Mendes lembra de Luiz Carlos com muito carinho. Não foram poucas as vezes em que o compositor passou os fins de semana na casa dele com a família. Sendo ou não dia de roda de samba, o artista gostava de chegar sem avisar:
— O Luiz Carlos era uma figuraça e é uma das pessoas que fazem falta nas rodas de samba. Foram tantos momentos que passamos juntos que fica difícil lembrar de apenas uma situação. Ele quebrava as regras. Aconteceram situações de ser ele a atração principal do Candongueiro e ir passando a noite, e ele não aparecer. Aí chegava, às 3h, com cara de criança e ficava fingindo que estava escondido, atrás da pilastra de madeira. Pegava o microfone escondido, dizia que ia cantar só duas músicas e cantava mais de dez. Uma farra!
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