A eleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ) para a presidência da Câmara reposicionou a relação entre o Palácio do Planalto e os tucanos, tirou o senador Aécio Neves (MG), presidente do PSDB, da defensiva e abriu caminho para a formação de um consórcio de poder para as eleições de 2016 e 2018.
Os principais líderes do Congresso apontam o político mineiro como o principal articulador da vitória da “antiga oposição” e o consequente isolamento do Centrão. Não por acaso, Maia decidiu visitar o tucano antes de Temer no dia seguinte à eleição.
“A visita do Rodrigo (Maia) foi uma tentativa de recolocar Aécio no jogo”, disse o deputado Júlio Delgado (PSB-MG), que desistiu de disputar o mandato-tampão na Câmara a pedido do presidente do PSDB. Para Delgado, o movimento por Maia “recolocou” Aécio no quadro da eleição presidencial de 2018.
“O Rodrigo Maia valorizou o Aécio como o Temer havia valorizado o José Serra ao colocá-lo no ministério (das Relações Exteriores). Agora é o (governador) Geraldo (Alckmin) quem precisa se reposicionar”, disse o deputado do PSB.
Citado por delatores e investigado em dois inquéritos no Supremo Tribunal Federal na Operação Lava Jato, o senador mineiro, que nega envolvimento em irregularidades, enfrentou nos últimos meses o pior momento político desde a eleição de 2014 – quando foi derrotado no segundo turno por Dilma Rousseff. Perdeu protagonismo no Congresso e pontos em pesquisas sobre intenção de votos para a eleição presidencial de 2018. Ele ainda rompeu com o principal aliado em Belo Horizonte, o prefeito Marcio Lacerda (PSB).
Aécio também viu seu grupo político sofrer um golpe com a prisão de Nárcio Rodrigues, ex-presidente do PSDB mineiro, suspeito de envolvimento em desvio de verba pública. Aliados passaram a defender que ele voltasse suas atenções para Minas Gerais e desistisse do projeto presidencial.
Máquina. Ao comandar a vitória de Maia, porém, Aécio deixou claro que ainda mantém intacto o seu principal ativo: o controle da máquina partidária e das bancadas do Congresso.
“A eleição de Maia abriu a possibilidade de se aglutinar, com robustez, essas forças políticas – PSDB, DEM e PMDB – nos Estados. Nesse processo ficou claro o protagonismo do presidente do PSDB”, afirmou Antônio Imbassahy (BA), líder da bancada tucana na Câmara.
A estratégia de longo prazo montada pelo senador prevê a eleição de Imbassahy para o comando da Câmara em 2017 com apoio de Temer e da “antiga oposição”. Em seguida, quer trabalhar por um aliado com bom trânsito entre as correntes tucanas para suceder-lhe na presidência do PSDB. A disputa do comando partidário será decisiva para as pretensões dos presidenciáveis do partido.
Políticos ligados a Serra e Alckmin, que também postulam a vaga de presidenciável tucano, relativizam a vitória política de Aécio. Em caráter reservado, dizem que o futuro dele “vai depender da Lava Jato”. Já o campo “aecista” do partido lembra que a Lava Jato atingiu políticos de todas as siglas e pode chegar a Serra. O ministro nega envolvimento em irregularidades.
No xadrez tucano de 2018, Serra ganhou posição ao assumir o cargo de chanceler. Amigos reconhecem que ele não tem a mesma influência de Aécio na máquina partidária, mas o cargo na Esplanada lhe garante visibilidade. O ministro também conta com a retaguarda do PSD, partido do aliado Gilberto Kassab, e de parte expressiva do PMDB que gostaria de tê-lo como candidato pela legenda ao Planalto.
Assim como Serra, Geraldo Alckmin também conta com uma linha auxiliar, o PSB, que abriu as portas para ele disputar a Presidência. O governador e o ministro, porém, travam em São Paulo, berço do PSDB, uma disputa deflagrada pela escolha do empresário João Doria como candidato tucano à Prefeitura. A avaliação recorrente no PSDB é de que essa disputa deve contaminar a executiva da sigla.