A internet expõe cada vez mais a fragilidade de um mecanismo assustador no que diz respeito a uma das classes mais poderosas desse país. O pacto de silêncio e o medo que muitos artistas tem de manifestar suas opiniões com relação a assuntos importantes e de cunho social e político tem uma Raiz forte na falsa sensação de liberdade da qual supostamente desfrutamos.
Tenho medo também. Mas arrisco fazer uma análise fria, sem generalizar e consciente de que a escolha pelo não envolvimento de nomes consagrados, não só da musica, mas de todos os demais segmentos como a TV, Cinema, Teatro, que falam diretamente com o público de massa, leia-se o POVO, está diretamente relacionado com as questões financeiras a qual todos nós estamos necessariamente ligados e de certa forma dependentes.
Escolho fazer este manuscrito, ciente de que já não sou bem visto por muitos de meus colegas artistas, porém, com o cuidado daquele que precisa registrar uma opinião onde falta exatamente a opinião. Não me sinto mais capaz do que ninguém, e muito menos me sinto mais corajoso do que outros já foram ou estão sendo. Me sinto apenas responsável por buscar um entendimento geral em meio a tanto silêncio.
Por que parte da Classe artística prefere não se posicionar diante dos assuntos em pauta no Brasil?
A melhor palavra que encontro é MEDO. E não me entendam mal, o medo é importante para que você possa delimitar o grau de risco que quer correr, mas ele é negativo quando lhe tira o poder de decisão e lhe joga diante de uma atitude covarde.
É como se estivéssemos todos pisando em ovos o tempo inteiro. Medindo cada discurso, cada frase, cada palavra. Tentando não afetar os interesses daqueles que determinam os rumos do poder, das verbas e das influências. Quanto mais em cima do muro, quanto mais escorregadio, quanto mais jogo de cintura, melhor. Ninguém se compromete com nada que possa gerar constrangimentos aos que dão as cartas. Para isso: assessores de imprensa, empresários, empresas que cuidam, resgatam e trabalham a imagem perfeita, do artista perfeito. Aquele que vende sorrisos, que estampa publicações sobre amenidades, que desfruta das melhores festas, nos melhores canais, ao lado de gente que decide seus rumos nos trabalhos futuros e criando um desejo coletivo dos que acompanham seus passos em se tornar como eles, felizes ininterruptamente.
Quem vai querer se indispor com um Governador de um Estado influente? E perder o incentivo para seu filme ou seu show? Quem vai questionar um Prefeito que todo ano contrata aquele show bacana com um cachê gordo? E não temos como julgar a procedência de tais recursos. O que podemos é fazer a nossa parte dentro da lei. Quem é que vai apontar os problemas de uma cidade e prejudicar o bom andamento do rebanho? Quem? Para quê? E com quais garantias?
Como se não bastasse muitas vezes estar nas mãos de políticos, que por sua vez detém muitos veículos de mídia em seus tentáculos, os artistas ainda precisam se cuidar com relação as grandes empresas. Boa parte de recursos para patrocínios vem destas mega corporações que por sua vez inevitavelmente passam pelo crivo e pelas relações com os homens de terno e gravata que orientam em que investir e quem representa riscos para seus interesses.
Vale a pena associar a imagem da sua empresa a alguém que esta constantemente envolvido em assuntos que queremos todos jogar para debaixo dos tapetes?
Será que é interessante dar voz pública a eles?
Com as redes sociais, fica cada vez mais evidente esse silêncio e esse cuidado em manifestar opiniões que possam render polêmicas “desnecessárias”.
Certa vez ouvi de um dos meus ídolos, que prefiro omitir o nome.
Você quer ganhar dinheiro ou quer mudar o mundo?
Se quiser ganhar dinheiro, esquece esse discurso “rebelde” e revolucionário. Fica quieto no seu canto, faz a sua música e não incomoda ninguém. Você será bem vindo e certamente poderá desfrutar de mais conforto.
Quero ter meu dinheiro, minha autonomia, minha vida com conforto para meus filhos, minha família. Quero pagar minhas contas em dia e não preciso de tantas regalias ou luxos. Sou feliz com o que conquistei as custas de muito trabalho, de opções que nem sempre foram as melhores escolhas diante desta equação que envolve o jogo de cintura e o usufruto da influência daqueles que comandam. Poderia hoje ser mais rico, ter o respaldo dos núcleos que fomentam e escolhem as melhores bocadas para os que se dispõem a colaborar com o silêncio, mas se optasse por isso e simplesmente só por isso, não sei se conseguiria dormir em paz.
O preço que pago é alto. Menos espaços, menos atenção, um certo ar de deboche onde passo, piadinhas que pensam que não percebo, mas acima de tudo, me sinto coerente com o estilo de vida pelo qual optei. Nos momentos em que tentei ser mais “flexível” com relação a minhas abordagens, senti que estava traindo algo dentro de mim e isso não me fez bem. Seria prepotência da minha parte exigir que outros artistas fizessem o mesmo, mas me intriga o silêncio completo... Diante de Massacres como o do Pinheirinho, das Greves dos PMs pelo Brasil, das elucubrações políticas que desviam milhões de Reais pelos ralos da corrupção e nós sabemos o poder de influência de um artista de massa diante de seu público. O quanto isso faria com que algumas pessoas pudessem no mínimo perceberem o que se passa ao redor além das tradicionais baladas.
As respostas, quando vem, são camufladas de uma aura de cumplicidade, é mais inteligente pedir PAZ do que se posicionar diante de questões que repercutem na vida de todos nós. Pedir PAZ é estar neutro, é querer que um anjo venha do céu e ilumine a cabeça daqueles que estão envolvidos nos escândalos ou nos cenários mais absurdos, como os que estamos acompanhando ultimamente.
Não lhes culpo.
Quando um filme nacional acaba, fico para ver quem foi que deu o apoio, quem foi que bancou aquele projeto e são sempre as mesmas empresas, algumas delas inclusive Estatais. Como fazer um roteiro contundente usando o dinheiro daquele que poderá ser o alvo?
Nos anos de chumbo, existia uma cumplicidade entre a classe artística porque o inimigo estava de farda e dando ordens de uma maneira ostensiva e repressora.
Atualmente estamos sob um regime muito semelhante no que se refere a liberdade de expressão e suas consequências.
Se você optar por abrir o verbo e questionar ou apontar para alguma direção que vá de encontro aos interesses destes homens que determinam as novas regras, fatalmente terá a antipatia deles. E como numa rede, um aponta para o outro aqueles que são fáceis de manejar e os que “Vão causar encrenca”, seu nome na lista negra é a certeza de menos espaços e menos possibilidade de atingir o público.
Nesse cenário, é que me pego completamente perdido em como agir para manter meu território, conseguir ultrapassar a barreira e o isolamento a qual de certa forma fui exposto e sobreviver com minhas convicções de que a ARTE tem como poder transformador as mãos que movimentam o âmago da sociedade, e os artistas tem como função levar o sorriso e a alegria para seus fãs e seguidores, mas não teriam também a função de protegê-los desse mecanismo cínico?
Não estou direcionando este texto para ninguém diretamente.
Apenas propondo uma reflexão coletiva, que indica uma Possível maneira de controlar opiniões através da manutenção e da administração das influências e das verbas de patrocínio e incentivo.
Artista que tem opinião em geral é mau visto e morre ignorado.
Com a internet o cenário mudou bastante, mas está longe de ter apoio da população.
É como se os Artistas fossem apenas anjos designados para nos saudar com sorrisos e atitudes de conivência.
Rogo para que não me entendam mal, mas para que compartilhem deste pensamento.
Porque existe um Pacto de silêncio tão grande entre as estrelas do Brasil?
E se eles se manifestassem com mais veemência seriam as estrelas que são?
Pense sobre isso.
Abs