“Faith” é o terceiro álbum de estúdio do The Cure, lançado em 1981 – quarto para alguns, se considerar a compilação “Boy´s Don´t Cry”. O trabalho mostra o clima que a banda vivia na época, causado pela perda de vários amigos, o final de algumas relações de amizade, assim como a morte da amada avó de Smith e da mãe do baterista Lol Tolhurst. O grupo também voltara a ser um trio após a saída do tecladista Matthieu Hartley, devido a desentendimentos graves com Robert Smith.
Robert Smith havia concebido “Faith” como uma série de canções que investigavam a idéia de fé como crença e durante sua composição visitava regulamente a Igreja. Ele entendia que as pessoas iam lá porque acreditavam na eternidade, no entanto, ele não tinha essa fé.
Segundo Roberto Smith, “Faith estava planejado para ser mais positivo, mas, devido aos diversos problemas pessoais que se abateu sobre nós na época, ele acabou se tornando mórbido, semi-religioso”.
A capa representa as ruínas da abadia de Bolton no nevoeiro. Fundado pela ordem agostiniana, nas margens do rio Wharfe, Yorkshire, Inglaterra.
O clima religioso, arrastado com teclados sombrios e percussão minimalista, começa na faixa de abertura “The Holy Hour”, conduzida por uma linha de baixo marcante de Simon Gallup.
Em seguida vem “Primary”, a única faixa “alegre” em Faith, lançada em single também foi o maior sucesso do álbum, chegando ao Top 50 do Reino Unido e 25º nas paradas dos EUA. A música começou a ser composta à época da turnê “Seventeen Seconds”, sob o nome de “Cold Colours” e com uma letra completamente diferente.
Fato curioso: muitas vezes antes de tocar a canção, a banda dedicava-a a Ian Curtis, líder do Joy Division.
Falando em Joy Divison, algumas canções aproximam muito do estilo “cold wave” do Joy Division, fase “Closer”. É o caso de “All Cats Are Grey” (uma citação shakesperiana), lenta e melancólica, Smith em sua teoria da derrota e perda celebra a elegia da morte. Todo este clima sorumbático continua na faixa seguinte “The Funeral Party”, que faz o ouvindo mergulhar de vez numa atmosfera surreal e etérea.
“The Drowning Man”, fala de uma menina que se afoga em um rio, enquanto Smith simula um canto gregoriano do submundo.
O álbum encerra com a faixa-título, talvez o momento mais sublime do álbum. Um fim digno de um trabalho amargo, duro, difícil, esmiuçando-se o estado emocional de seu compositor. Sua versão ao vivo, algumas vezes ultrapassa 15 minutos de duração (o dobro da original de estúdio).
Drogas e álcool desempenharam um papel importante na criação do álbum, bem como durante as sessões de gravação do álbum anterior, “Seventeen Seconds”.
Em 25 de abril 2005, “Faith” foi relançado em versão CD duplo, inserido na série de Universal Music Deluxe Edition, no qual teve a inclusão da canção “Carrage Visors”, de quase 30 minutos de duração.
Originalmente “Carrage Visors” só saiu na versão cassete de “Faith”. Trata-se de uma longa faixa que muda permanentemente de andamento, sem perder a forma. A idéia veio quando o Cure decidiu não ter mais bandas abrindo seus shows. Para deixar seu público distraído com alguma coisa, enquanto os concertos não começavam, o grupo fez “Carnage Visors”, um curta que seria exibido antes das apresentações. O filme, dirigido pelo irmão do baixista, Richard Gallup, não tinha enredo e mostrava uma dançarina mexicana fazendo acrobacias em um jogo impressionante de cores.
A versão Deluxe oferece também outras raridades da banda e faixas ao vivo. Além do single “Charlotte Sometimes”, que também está na coletânea de singles “Standing on a Beach”.
Um registro deprimente, certamente, mas também um dos álbuns mais subestimados e belos do Cure. A banda ainda voltaria nesse tipo de tristeza exuberante, embora um pouco menos sombrio e mais pop, em “Disintegration”, de 1989.
Outro fato curioso: a canção “All Cats Are Grey” é tocada no encerramento do filme “Maria Antonieta” (2006), de Sofia Coppola.
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