RIO - Ele mudou pouco desde a época em que fazia campanha e empolgava as massas nos Estados Unidos, com a sua promessa de um mundo melhor. Quase três anos depois, já desgastado por um governo impopular e iniciando uma nova guerra, Barack Obama mostrou que ainda tem o charme de um rock star e o talento de um encantador de serpentes, ao discursar para um público vip no Theatro Municipal do Rio, salpicado por representantes do movimento negro e de frequentadores de projetos sociais.
Vestido com a sua clássica camisa branca engomada e sem gravata, um pouco mais magro e com seu eterno sorriso, ele deixou em todos a sensação de que sua passagem por ali era um momento histórico.
— Não dava para perder isso — exclamou o diretor da Editora Objetiva, Bob Feith, repetindo as palavras ditas um pouco mais cedo pela cantora Alcione.
O pessoal adorou. De Henrique Meirelles, a nova autoridade olímpica, a Abdias do Nascimento, o decano do movimento negro, passando pelo senador Eduardo Suplicy e por Jaciara da Silva, do grupo da terceira idade de Bangu. A ex-candidata Marina Silva criticou a falta de ênfase a medidas contra o aquecimento global, e o presidente do Olodum, João Jorge, reclamou que ele não deu um apoio explícito à ambição brasileira de ter um lugar permanente no Conselho de Segurança da ONU. Mas, ressalvas à parte, todos se renderam ao carisma de Obama.
“O Rio é ainda mais bonito do que no filme que a minha mãe viu”, disse, contando de novo a história de que “Orfeu Negro” foi inspiração para a mãe se apaixonar pelo seu pai, um negro do Quênia. “Ela jamais poderia imaginar que eu viria aqui pela primeira vez como presidente da América.”
— Ele é inspirador, sinto como se tivesse aprendido uma lição — disse Júnior, do AfroReggae, um dos responsáveis por povoar com rostos das comunidades cariocas o templo da elite carioca.
Obama foi puro charme ao dizer para os cariocas que voltará ao Rio nas Olimpíadas de 2016 e elogiar a ação da prefeitura e do governo do estado na favela que acabara de visitar.
“As pessoas têm que ver as favelas não com pena mas como fonte de engenheiros, advogados, médicos com soluções globais para o Brasil”, disse, para alegria do governador Sergio Cabral e do prefeito, Eduardo Paes, que junto com o embaixador brasileiro em Washington, Mauro Vieira, assistiam ao discurso de camarote. Um pouco mais atrás, o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, era só sorrisos.
— Ele tocou nas questões mais importantes da alma brasileira — disse Abdias do Nascimento.
Foi na trajetória de Lula e Dilma, de luta pela liberdade e de uma vida melhor, que Obama foi buscar os exemplos de “yes, we can”.
— No fim e no fundo, é a nossa história que nos dá a esperança de um mundo melhor — afirmou.
Mas “o cara”, que mais uma vez deixou a plateia em êxtase com suas palavras de esperança, cometeu um único engano, ao citar o escritor errado para concluir sua mensagem: “É por isso que acreditamos nas palavras do Paulo Coelho: com a força do nosso amor e vontade, podemos mudar nosso destino”, disse.
A sofisticada plateia recebeu com frieza a frase do mago, mesmo ao ser reforçada pelo político mais midiático do planeta. Mas, depois do “muito obrigado ” de Obama, todos estavam contentes e enlevados, como na saída de um grande espetáculo.
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