Flávia Alessandra não fazia ideia, mas ao observar a pequena Olívia — sua segunda filha, de apenas 4 meses, do casamento com Otaviano Costa —, acabou se preparando para a personagem que vem pela frente. O olhar curioso da nova mocinha da família, que é despertado a cada novidade que aparece, servirá de inspiração para Naomi, a androide — sim, foi isso mesmo que você leu — que a atriz vai interpretar em "Morde & assopra", nova novela das sete.
— Sabe aquele olho perdido, que quando surge algo novo no campo visual vira o pescoço rapidinho? Olívia faz isso. Eu disse para ela: "Mamãe, vai roubar isso de você!" — conta a atriz.
Na história de Walcyr Carrasco, Flávia começa humana e se torna uma máquina. Explicando: Naomi é uma mulher solar, criativa, alegre e linda, casada com Ícaro, papel de Mateus Solano. Ela morre num naufrágio e ele entra em desespero. Ao descobrir que no Japão já existem máquinas que correspondem à mulheres perfeitas, recriadas a partir de protótipos, o moço atravessa o mundo e constrói a sua própria boneca tecnológica à imagem e semelhança da falecida.
— A primeira coisa que a gente pensa é: que gente doida, abusada! Mas as imagens que a produção fez no Japão com as três androides que já existem são impressionantes. Elas falam, sentam, fazem atividades do lar, como o café da manhã... Vamos combinar? É o sonho de todo homem. Na hora da DR (discussão de relação), é só desligá-la. É perfeito! Daqui a pouco, vão fazer homens. Imagina isso: o macho vem, faz massagem nos seus pés, faz carinho, e você ali, quietinha. Um sonho! — comemora Flávia.
Para encarar um universo tão distante e mirabolante, Flávia está devorando o livro "Era das máquinas espirituais", de Ray Kurzwei, emprestado por Solano, e repassou os filmes "Inteligência artificial", de Steven Spielberg, e "Substitutos", com Robin Williams.
— Nós achamos que somos "prafrentex". Daqui a dez anos, teremos esses andoides por aí — vislumbra.
Essa vaga é minha!
Flávia não estava escalada para "Morde & assopra". Na verdade, pensava em ficar afastada um ano, babando a cria. Bastou ler a sinopse para se apaixonar pela personagem. Como o marido já estava no elenco (veja no "Quem é quem", da pág. 12), e ela é muito próxima de Walcyr, decidiu "cavar" sua vaguinha:
— Liguei para Walcyr e perguntei: "Quem vai fazer Naomi?" e ele me disse que tentariam lançar alguém, fazer uns testes. Falei que ela era o sonho de qualquer atriz. Amo o que faço. Quando vou ter chance de fazer uma androide na vida? É totalmente diferente de tudo o que eu fiz. Não queria ser a mocinha de novo, claro. Mas vi um território novo a ser explorado, a posibilidade de sair da zona de conforto, e disse que queria fazer — conta.
Ela ainda estava grávida quando pegou o papel. Um mês depois de Olívia nascer, Flávia voltou à ginástica, mas se sentia fraca:
— Dizia para o meu médico que nunca mais conseguiria malhar, que só queria dormir. Também, era muito leite para a pequena. Olívia engordou 1,5kg em um mês, a danada!
O jeito foi esperar um pouco mais para começar a se transformar em Naomi. Nada, porém, foi tão difícil quanto servir de molde para uma réplica dela mesma. Na trama, Ícaro vai aparecer em cenas que mostram a construção da androide. Flavia precisou fazer moldes de si mesma no Instituto de Tecnologia, no Rio. Braços, pernas, tudo foi replicado. Mas ao moldar a cabeça...
— Foi desesperador. Eles foram lá em casa e colocaram na minha cabeça aquela espécie de gesso de dentista, que é meio molengo. Só as narinas ficam de fora. Depois, vem um gesso mais pesado. A gente combinou alguns sinais para dizer como eu estava me sentindo. Quinze minutos depois, já mostrava o dedo médio (risos), porque vai pesando na glote. Quando a gente foi tirar, esqueci de guardar o ar para respirar, e foi punk demais. A sensação foi de estar sendo enterrada viva — conta ela, que ao ver o resultado final também se chocou um pouco: — Nossa, quando vi minha boneca lá no estúdio, sentada, careca, sem cílios, sobrancelhas, nada, foi estranho. Era como se eu estivesse morta.
Falante e agitada, a atriz está "apanhando" também para encontrar uma forma contida de se expressar. Afinal, ninguém imagina que um androide vá ter o mesmo gestual de um humano.
— É diferente, mas não chega a ser um robô. Estou indo exatamente em cima disso. Tem uma fluidez de movimentos, o piscar, o se movimentar. Ela não tem expressão facial. Essa é a parte mais difícil. Aposto que vão dizer: "Ela está fazendo uma androide inexpressiva". Tomara! Tinha que ter colocado botox, sabe? Porque não ia mexer nada — diverte-se ela, que ainda vai tocar piano em cena: — Tive cinco aulas. Tenho uma dublê, mas quero tocar a música inteira. Só que estou ferrada, porque é aquela valsinha tema de "O fabuloso destino de Amélie Poulain" (o filme com Audrey Tautou).
O maior amor do mundo
Ao estar inserida num universo tão profundo quanto polêmico, como a recriação de seres humanos através demáquinas, Flávia não esconde que o assunto vem mexendo com ela. Principalmente quando olha para as filhas:
— Acredito muito no movimento natural da vida. Mas a maior dor de um ser humano deve ser perder um filho. A gente vai trabalhar com a Cissa (Guimarães), né? Ainda não consegui dizer nada a ela. Não sei se por fraqueza minha ou se por sensatez, nem sei se isso se tenta conversar. Dá para viver sem um filho? Talvez, nessa situação, pensasse na recriação, sei lá...
É grudada em suas meninas que Flávia vai amadurecendo como mãe. Giulia, do casamento com Marcos Paulo, já vai fazer 11 anos, e está na fase crítica de quem começa a entrar na adolescência:
— Conversamos muito, fico de olho. Mas é lógico que, quando se é mãe novamente, e mais velha, a gente passa a valorizar outras coisas — avalia.
A relação com Otaviano Costa, que já dura cinco anos, tornou-se ainda mais sólida após a chegada de Olívia:
— Nossa cumplicidade aumentou muito. Estou me sentindo mais amada e mais excluída também. Otaviano agora olha a filha e diz: "Você é a mulher da minha vida". E eu falo que estou ouvindo tudo. Sei que vai ser assim até ela ter uns 15 anos. Depois, reino no pedaço de novo.
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