RIO - A polícia vai ouvir o agente penitenciário Dayvid Eduardo Nunes Martins, que teria tido um relacionamento amoroso com a juíza Patrícia Lourival Acioli, assassinada com 21 tiros quando chegava em sua casa, em Piratininga, na região oceânica de Niterói, na quinta-feira à noite. Ele já foi localizado, mas a data do depoimento ainda não foi divulgada. Na manhã de sábado, a chefe de Polícia Civil, Martha Rocha, e o desembargador Nelson Calandra, presidente da Associação de Magistrados do Brasil, estiveram na Divisão de Homicídios (DH) que investiga o caso.
Em fevereiro deste ano, David apresentou queixa na 81ª DP (Itaipu) contra o cabo da PM Marcelo Poubel, que foi casado com a juíza. Ele disse ter sido agredido pelo policial que teria invadido a casa de Patrícia Acioli. O casal, que estava no quarto, teria sido obrigado pelo PM a ficar de joelhos. Dayvid e Patrícia teriam ainda sido agredidos com socos e pontapés. No sábado, porém, policiais da DH disseram que Poubel, ouvido por mais de seis horas na sexta-feira, não é considerado suspeito do crime.
Guarita de segurança estava vazia no dia do crime O fato de a guarita de segurança do local onde morava a juíza Patrícia Acioli estar vazia no dia do crime chamou a atenção da polícia, que anteontem localizou o vigia responsável pelo plantão. Ele esteve na 77ª DP (Icaraí), mas não foi revelado ainda o teor do depoimento. Vizinhos, ouvidos no sábado por repórteres do GLOBO, disseram ter estranhado a facilidade com que os assassinos tiveram acesso à vítima. Até agora, as informações são de que ela foi executada por quatro homens encapuzados em duas motocicletas. Mas ontem já se falava que o crime pode ter sido cometido por uma dupla de bandidos numa moto.
— Aqui tem muita segurança. É estranho como eles conseguiram chegar tão perto dela — afirmou um morador do local, que preferiu não se identificar.
Para chegar até a casa da juíza, os bandidos tiveram que atravessar uma ponte e passar pela guarita. A cerca de 500 metros do local, fica localizada uma unidade do Exército.
Ao chegar à Divisão de Homicídios (DH), na Barra da Tijuca, para acompanhar a investigação do assassinato, Nelson Calandra estava acompanhado do presidente da Associação de Magistrados do Estado do Rio de Janeiro (AMAERJ), o desembargador Antônio Siqueira. Calandra revelou que 12 pessoas são suspeitas de envolvimento com o crime:
- Desses 12 suspeitos de participar do atentado à nossa colega, com certeza, grande parte deles deve ter condenações anteriores.
Desses 12 suspeitos de participar do atentado à nossa colega, com certeza, grande parte deles deve ter condenações anteriores
Após ficar cerca de uma hora reunido com investigadores na DH, Calandra deixou o local por volta de meio-dia. Ele minimizou a afirmação do número de suspeitos de envolvimento no caso:
- A gente sabe que é um número elevado de agressores. Ao menos, mais do que um. O número de 12 agressores é o que está sendo dito pela mídia, o que tem se falado. Não vamos entrar no mérito da investigação. Confiamos na polícia e estamos aqui para prestar solidariedade. Viemos trazer a certeza de que os criminosos sejam presos e processados.
O Disque-Denúncia recebeu até as 22h de sábado 57 denúncias desde que a juíza Patrícia Acioli foi assassinada. De acordo com o ONG, todas as informaçõe estão sendo encaminhandas diretamente para Delegacia de Homicidios. O anonimato é garantido.
Mais cedo, o desembargador Calandra ambém criticou as leis penais brasileiras:
- A juíza Patrícia Acioli é uma vítima das organizações criminosas, de um sistema processual penal onde a Sua Excelência é o réu, e não o juiz, onde as pessoas cometem um crime de morte e saem pela porta da frente junto com a família da vítima. As pessoas só são punidas quando o Supremo Tribunal Federal (STF) chega.
O presidente da AMB ainda cobrou a criação de um sistema de segurança para magistrados:
- O sistema está fragilizado. Não há um sistema de segurança para todo o magistrado. Isso deveria ser responsabilidade do Ministério da Justiça.
Por fim, ele disse que a quantidade de magistrados ameaçados de morte no Brasil pode ser superior ao número divulgado na sexta-feira pelo Conselho Nacional de Justiça:
- O número de 86 magistrados ameaçados pode ser maior, pois muitos não comunicam.
Desde o início da manhã, cerca de 20 policiais da DH estão nas ruas empenhados nas investigações da morte da juíza Patrícia Acioli.
A chefe da Polícia Civil, delegada Martha Rocha, chegou à DH por volta das 10h, mas não falou com a imprensa.
AMB critica legislação que permite ao condenado responder em liberdade A chefe de Polícia Civil, delegada Martha Rocha, também esteve na Divisão de Homicídios do Rio, reunida por cerca de três horas com o delegado Felipe Ettore, titular da unidade.
- A juíza Patrícia Acioli é uma vítima de organizações criminosas e de um sistema processual criminal, em que as pessoas que cometem um crime de morte são julgadas e saem pela porta da frente, junto com a família da vítima. As penas só são cumpridas depois que o caso chega ao STF - afirmou Salandra.
Calandro defendeu a criação de um sistema de segurança próprio para o magistrado brasileiro:
_ A juíza Patrícia Acioli foi morta porque combatia as milícias. Defendo a criação de um sistema para cuidar da segurança de dezenas de juízes ameaçados em todo o país.
Martha Rocha quis apenas se inteirar das investigações sobre o assassinato da juíza Patrícia Acioli, morta em Piratininga, Região Oceânica de Niterói.
- Este é o momento de se analisar todas as informações, tratá-las com coerência e cuidado. E o silêncio neste momento é muito importante. Tenho certeza que a Polícia Civil está trabalhando com todo o seu talento, técnica e dedicação para chegar ao objetivo que é a solução deste caso.
O delegado Felipe Ettore, que preside o inquérito, também não quis comentar a investigação e voltou a afirmar que todas as hipóteses estão sendo verificadas.
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