RIO - Maratona Sganzerla em campo: três retrospectivas, dois documentários e o lançamento de “Luz nas trevas — A volta do Bandido da Luz Vermelha” mantêm vivos — e em tela grande — a obra e o pensamento do realizador catarinense, ícone da transgressão do chamado Cinema Marginal, morto em 2004, aos 57 anos. Hoje, às 18h, enquanto o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) exibe “O signo do caos” (2003), o último longa-metragem do cineasta, na mostra Cinema Brasileiro: anos 2000, 10 Questões, a Caixa Cultural estará inaugurando o festival A Luz e O Cinema de Rogério Sganzerla, cujo longa-metragem de abertura será o mítico “O bandido da luz vermelha” (1968), às 18h30m. Na plateia vai estar o cineasta Joel Pizzini, hoje ocupado com a montagem do que chama de “filmensaio” em longa-metragem em tributo ao diretor.
— “Mr. Sganzerla” é um filme que recria o ideário de Rogério a partir dos quatro signos recorrentes em sua filmografia: Orson Welles, Noel Rosa, Jimi Hendrix e Oswald de Andrade. O método de criação, a musicalidade do olhar, o estilo inovador na montagem e a sua permanente postura iconoclasta atravessam meu longa-metragem numa linguagem que se contamina com a dicção vertiginosa do artista — explica Joel, que participará de um debate sobre a estética >ita
Pizzini já havia homenageado Sganzerla em 2003 com “Elogio da luz”, feito para o Canal Brasil e codirigido por Paloma Rocha, filha de Helena com Glauber Rocha. A produção será exibida pela Caixa Cultural no sábado, às 17h30m. Além de ter filmado parentes do cineasta em Joaçaba (SC), sua terra natal, Pizzini incluiu em “Mr. Abracadabra” imagens de dois de seus atores mais populares, Jorge Loredo, o Zé Bonitinho, e José Mojica Marins, o Zé do Caixão, além do diretor Ivan Cardoso, o mestre do “terrir”. Foi Ivan quem clicou a foto de Sganzerla usada no cartaz da mostra na Caixa Cultural. O cartaz de “Mr. Sganzerla” também usará uma foto de Ivan.
— Sganzerla foi o maior cineasta americano nascido no Brasil. Ninguém entendeu Hollywood como ele — diz Ivan. — Sua obra expõe o que o cinema brasileiro poderia ter sido.
Filha de Helena e Rogério, Sinai Sganzerla assina a curadoria da mostra na Caixa Cultural, que termina no dia 8 de maio, quando será exibido “Tudo é Brasil” (1988). Ao todo, serão 24 produções, entre elas os cultuados “Abismu”, de 1977 (amanhã, às 17h30m), e “Sem essa, Aranha”, de 1970 (na quinta-feira, às 19h). Paralelamente, Sinai e a irmã Djin preparam a carreira nacional e internacional de “Luz nas Trevas — A volta do Bandido da Luz Vermelha”, dirigido por Helena e Ícaro Martins, que ganhou o prêmio da crítica no Festival de Locarno em 2010. No longa, que será exibido em Porto Alegre nesta sexta-feira, às 21h30m, na mostra gaúcha CinEsquemaNovo, o cantor Ney Matogrosso retoma o papel que foi de Paulo Villaça no >ita
— Com a ajuda de um edital da Petrobras que ganhamos, estamos preparando a estreia de “Luz nas trevas” para abril de 2012. Até lá, devemos segurar o filme, que já passou pelo Festival do Rio. Decidi até deixá-lo de fora da retrospectiva — diz Sinai, que, aos 4 anos, acompanhava o pai na mesa de montagem de “Abismu”. — Comecei a trabalhar com cinema quando meu pai adoeceu, por uma necessidade de preservar e difundir sua obra, que vem sendo descoberta após a sua morte.
‘Belair’ estreia em junho
No dia 10 de junho, Sganzerla volta ao circuito com a estreia de “Belair”, documentário de Bruno Safadi e Noa Bressane centrado na produtora fundada pelo realizador de Joaçaba em parceria com Julio Bressane.
— O filme registra um momento de virada na obra do Rogério. Após o sucesso de “O bandido da luz vermelha” e de “A mulher de todos”, de 1969, ele vem para o Rio e filma três longas em dois meses: “Sem essa, Aranha”, “Copacabana mon amour” e “Carnaval na lama” — explica Safadi, lembrando que seu filme integrará a mostra Curta Circuito, realizada de 2 a 30 de maio no Palácio das Artes, em Belo Horizonte, com filmes de Sganzerla e de Bressane.
Pizzini também faz alusões ao currículo de filmes da Belair em “Mr. Sganzerla”:
— Seu parceiro na Belair, Julio Bressane chama a atenção para um aspecto fundamental: Rogério sonhava para o Brasil um modelo de cinema que nunca se afirmou ao longo da história, sofisticado e popular ao mesmo tempo, dentro da perspectiva oswaldiana, “biscoito fino para as massas”.
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