"Você me faria um grande favor", teria dito o tenente-coronel Claudio Luiz Silva dos Santos ao ser perguntado pelo tenente Daniel Santos Benitez Lopes se a juíza Patrícia Acioli deveria ser assassinada. A declaração consta do depoimento do cabo Y., prestado na tarde desta sexta-feira na 3ª Vara Criminal de Niterói, em troca do benefício da delação premiada — que prevê redução de pena em caso de condenação. Y. é o segundo dos 11 PMs presos acusados de envolvimento na morte da magistrada que decidiu colaborar com as investigações.
Em seu depoimento, que durou cerca de duas horas e contou com forte esquema de segurança, Y. confessou que ajudou no planejamento da morte da juíza. Ele também reforçou as suspeitas de que o tenente-coronel Claudio teria sido o mandante do crime, ocorrido em 11 de agosto. "Se ele (Claudio) desse um ‘veto’, a execução da juíza não teria ocorrido", disse o cabo.
Ainda de acordo com Y., além de Patrícia, um inspetor da 72ª DP (Mutuá) também estava marcado para ser morto pelo tenente Daniel Benitez e pelo tenente-coronel Claudio, então comandante do 7º BPM (São Gonçalo). Na opinião dos dois, segundo Y., o inspetor "distorcia os autos de resistência (mortes de suspeitos em confronto com a polícia) levando ao Ministério Público as situações invertidas".
O cabo Y. revelou que o tenente Benitez dizia que o inspetor deveria "levar um rodo" (ser morto), e que o coronel Claudio teria respondido que "covardia se combate com covardia". Procurado pelo EXTRA, o inspetor preferiu não se manifestar.
— Y. narrou muitos detalhes da participação do tenente-coronel (Claudio) no crime. O Ministério Público não tem dúvida de que não havia possibilidade de o crime ocorrer sem a participação ou, no mínimo, o conhecimento e a aquiescência do tenente-coronel — disse o promotor Rubem Vianna, da 2ª Central de Inquéritos, que acompanhou o depoimento.
Além dele, estiveram presentes o juiz Peterson Barroso Simão, outros três promotores, três defensores públicos, três representantes da OAB-Niterói, e o advogado Manuel de Jesus Soares, que defende o tenente-coronel Claudio.
Ao contrário do cabo X., que depôs na última segunda-feira e revelou a participação do tenente-coronel Claudio no crime, Y. não pediu para ingressar no Programa de Proteção à Testemunha.
Duas visitas à Região Oceânica para planejar
Outra novidade revelada pelo depoimento de Y. foi o fato de o tenente Daniel Benitez ter seguido a juíza até seu condomínio, em Piratininga, na Região Oceânica de Niterói, no fim de junho. Na ocasião, Benitez — que estaria acompanhado de sua namorada — não identificou qual era a casa de Patrícia.
O tenente retornou ao local em 11 de julho, um mês antes do crime, junto com o cabo Y., o cabo Sérgio Costa Júnior e Handerson Lents Henriques da Silva, na época lotado no 12º BPM (Niterói), para fazer o reconhecimento do local. Preso na quinta-feira, Lents prestou depoimento ontem na Divisão de Homicídios (DH).
O cabo Y. disse ainda que cada policial do Grupo de Ações Táticas (GAT) do 7º BPM recebia de R$ 10 mil a R$ 12 mil de propina, por semana, para não reprimir o tráfico em favelas de São Gonçalo. Quando a arrecadação era grande, segundo Y., Benitez separava uma parte para o tenente-coronel.
No depoimento, Y. revelou que o tenente-coronel teria dito não cumpria ordens da juíza que não fossem dadas por escrito, como manter fora das ruas PMs envolvidos em autos de resistência.
Advogado quer coronel fora de Bangu 1
A defesa do tenente-coronel Cláudio Luiz de Oliveira, preso preventivamente no presídio Bangu 1 há três dias, solicitou ontem à Justiça a transferência do oficial para uma unidade prisional da Polícia Militar.
— Quando fiquei sabendo que o tenente-coronel estava em Bangu 1, custei a acreditar. Estamos falando de um oficial militar. Ele deveria estar num quartel da PM — argumentou o advogado Manuel de Jesus Soares.
Segundo ele, a penitenciária de segurança máxima permite a visita de advogados a cada dez dias. E não há previsão de quando Claudio poderá ter contato com seus parentes.
Em relação ao depoimento de Y., Manuel disse que as declarações não incriminam seu cliente:
— O cabo não faz nenhuma referência da participação do coronel no fato em apuração.
Segundo o promotor Rubem Vianna, o inquérito deve ser relatado pela DH até a próxima terça-feira:
— Estamos certos de que o crime contou com a participação dos 11 policiais que já estão presos, e que não houve envolvimento de mais ninguém.
Soldado confirma que indicou endereço da juíza para assassinos
O soldado Handerson Lents Henriques da Silva, de 27 anos, preso temporariamente por envolvimento na morte da juíza, se apresentou na manhã desta sexta-feira na Divisão de Homicídios (DH), e confirmou à polícia que indicou o endereço dela a outros PMs acusados de envolvimento no crime. Mas afirmou desconhecer o plano para executá-la. A informação foi dada pelo defensor público Leonardo Rosa Melo da Cunha, que vai pedir a revogação da prisão semana que vem.
— A prisão foi desnecessária. A participação do soldado no crime foi e involuntária — disse o defensor.
Segundo o advogado, Lents disse que foi convencido a entrar numa viatura e mostrar onde a juíza morava porque os policiais militares alegaram que estavam investigando uma briga entre Patrícia e o namorado dela, um PM, em janeiro deste ano. Como Lents participou da ocorrência, era o indicado a levá-los ao local.
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