Há 90 anos, a mulher deixou o salto alto e a louça um pouco de lado para entrar no mundo masculinizado do futebol. Na época, a luta árdua foi para ter os mesmos direitos que os homens. Hoje, sem nenhum tipo de espaço, desmoralizadas e sem apoio, as meninas se esforçam para manter viva a esperança de serem lembradas e de não verem seus sonhos se afundarem num poço sem volta. No Rio de Janeiro, o futebol feminino agoniza, como mostra a série "Sem Grife".
O Brasil é considerado um dos quatro melhores times do mundo. Há um mês, a seleção brasileira, liderada pela estrela Marta e acompanhada por Cristiane, era tida como uma das favoritas para a Copa do Mundo, da Alemanha. Uma posição no cenário mundial que contrasta com a penúria vivida no Rio de Janeiro.
Na Cidade Maravilhosa, os grandes clubes não investem na formação de equipes — recentemente, Botafogo e Fluminense desmontaram seus times. Dos quatro grandes, o Vasco mantém um time de fachada, que sobrevive graças à ajuda da Marinha do Brasil. Duque de Caxias, Volta Redonda, Bangu, Bonsucesso, Imperial FC e o Grêmio Mangaratibense resistem ao caos.
— Tudo depende de parceria. Não há estrutura, os clubes não se importam com as equipes e nem tentam patrocínio para ajudar as meninas. Nem a prefeitura, nem o governo mostram interesse. Não há como meninas se esforçarem para jogar por algo que ninguém dá valor — diz Fernanda Magalhães, ex-técnica e supervisora do time do Botafogo, que não existe mais.
Sem salários
Quem ainda se arrisca no mundo da bola feminino sabe o quanto ele é quadrado. Se no futebol masculino, um jogador recebe até R$ 1,2 milhão, como Ronaldinho Gaúcho, as meninas não conseguem nem ajuda de custo para bancar passagens e alimentação.
— Os clubes não querem assinar carteira. Não há como sobreviver sem ajuda. Nem nas categorias de base, nem no profissional. Elas veem os homens ganhando muito dinheiro, e o futebol feminino não consegue nem pagar as passagens. É uma vergonha — diz Fernanda.
Em São Paulo, a realidade é diferente. A Federação Paulista de Futebol (FPF) e clubes, como Santos, São Paulo e alguns de menor expressão — Botucatu, Santo André — não deixam as mulheres na mão. Pagam salários entre R$ 500 e R$ 1 mil. Cristiane e Érika, da seleção, têm salários top de linha.
— Em São Paulo, os campeonatos são televisionados pela Rede Vida. Aqui, a Federação (FFERJ) mal consegue manter uma competição. É triste. Não vejo final feliz.
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