RIO - Os últimos traços de uma história que mistura ex-escravos, produção de cerveja e samba serão apagados no dia 5 de junho, quando deverá ser implodida a antiga fábrica da Brahma, na Cidade Nova, para dar lugar a quatro módulos de arquibancadas e a um empreendimento comercial no terreno da cervejaria. Os três prédios serão derrubados entre 8h e 9h. Por questões de segurança, edifícios num raio de 200 metros do Sambódromo terão de ser desocupados horas antes da detonação. Nesta terça-feira deverá ser concluída a demolição do último dos 31 blocos de camarotes do setor dois.
A demolição da fábrica lança luz, segundo o historiador Milton Teixeira, sobre um curioso capítulo da memória da Praça Onze e do Estácio, onde foram morar centenas de escravos libertados pela Lei Áurea, em 13 de maio de 1888. Muitos acabaram empregados na cervejaria aberta pelo judeu alemão Joseph Villiger, em setembro daquele mesmo ano, com nome de Manufactura de Cerveja Brahma Villiger & Companhia. A fábrica que irá ao chão não é mais a construção original. Ampliado em 1894, o antigo galpão foi demolido nos anos 40 para a construção dos prédios que agora serão implodidos.
— A fábrica era de tijolos vermelhos. É curioso ver como ela juntou dois povos — o alemão e o africano — e a cerveja com os futuros criadores do samba. Foi a partir dali que a Praça Onze começou a surgir do modo como todos a conhecem — diz Teixeira.
Explosivos serão acionados em série De acordo com Giordano Bruno Pinto, da Fabio Bruno Construções, empresa de demolição contratada para o serviço, os três prédios serão implodidos ao mesmo tempo. Esta semana começarão a ser retirados os telhados, janelas e portas das edificações, livrando a área de peças que possam se soltar na hora da detonação. As perfurações para colocação dos explosivos já estão sendo feitas. Uma tela de proteção será instalada no entorno do terreno. Outro cuidado será o modelo de detonação escolhido, chamado de cargas por esfera, em que os explosivos são acionados em série, para diminuir a vibração.
No sábado, operários começaram a fechar com tapumes o trecho do Sambódromo na esquina da Rua Salvador de Sá com Travessa Pedregais Rabello. Cartazes já proíbem o estacionamento no local. Também no fim de semana, as últimas quatro famílias, de um total de 60 que moravam em imóveis degradados nas imediações, deixaram o local. De acordo com o secretário municipal de Habitação, Jorge Bittar, 53 famílias concordaram com a opção de moradia oferecida pela prefeitura, um condomínio do programa Minha Casa, Minha Vida, na Avenida Cesário de Mello, em Campo Grande. Já as outras sete alegaram forte vínculo com o bairro e optaram pela indenização.
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