Para o prefeito, as dificuldades do inicio da administração exigiram um trabalho mais centrado nos primeiros anos, cujos resultados passaram a ser mais notórios em 2011
O prefeito de Ilhabela, Toninho Colucci (PPS), fez um balanço dos seus três anos a frente da administração do arquipélago. Em entrevista exclusiva ao Imprensa Livre, Colucci, que está em seu primeiro mandato, fez uma análise do período e apontou desde as dificuldades enfrentadas, até o que está previsto para Ilhabela em 2012. Dentre os temas abordados pelo prefeito, foram destacados avanços em alguns setores, como transporte público, saneamento básico e educação.
Imprensa Livre (IL) – De que forma o senhor avalia os três primeiros anos de seu mandato a frente da prefeitura de Ilhabela?
Toninho Colucci (TC) – Eu acho que tivemos um começo difícil. Foi difícil para todos os prefeitos, mas em especial para Ilhabela, pois pegamos um orçamento na cidade com diversos compromissos. O orçamento que foi preparado pela gestão passada não casava com os objetivos dessa administração. A previsão era de R$ 86 milhões e acabamos tendo R$ 72 milhões para as realizações, ou seja, muito longe da previsão orçamentária deixada para nós.
Tivemos que trabalhar essa questão da cobrança de IPTU e outros impostos, correr atrás de verbas estaduais e federais. A partir do momento que consolidamos um orçamento mais real, a coisa começou a caminhar. Temos noção que no início a gente somente plantou e começou a colher os frutos em 2011.
IL – Já que o senhor falou em desafios, qual foi o maior que enfrentou nesse período ou que ainda enfrenta?
TC – É difícil falar de um setor isolado em relação a desafios. Mas a gente tem a questão do saneamento. Quando eu assumi a prefeitura em 2009, Ilhabela tinha 4% de esgoto coletado. Acho que esse era um grande desafio que tínhamos. As descargas eram feitas nas cachoeiras e rios, as fossas sépticas comprometiam o solo e a balneabilidade estava numa piora constante. Agora, depois de três anos de trabalho já passamos a marca dos 30% de esgoto coletado e estamos caminhando para uma curva de melhora. Outro grande desafio era a questão da educação. Sabemos da importância dessa área e a municipalização do segundo ciclo do ensino básico, do 6º ao 9º ano, e das creches eram necessárias para melhorarmos as condições do ensino.
IL – O que mais foi feito em educação?
TC – As creches até então não faziam parte do sistema público municipal. Precisávamos de novos prédios para as escolas, a fim de desafogar um pouco os existentes. Investimos muito nisso. Em quatro anos serão cinco novas escolas, das quais duas já foram entregues. As comunidades tradicionais também receberam um investimento grande na educação.
IL – Quais foram os principais investimentos na saúde de Ilhabela?
TC – A questão da assistência no setor da saúde foi priorizado, com investimentos no Hospital Mário Covas. Ele foi preparado para receber uma semi-UTI, no ano que completará 10 anos de funcionamentos. Ainda foram ampliadas as equipes do Programa de Saúde da Família (PSF), e a construção e adequação de dois novos postos de saúde. No total a cidade tem nove equipes para atender a população local. Também temos um atendimento diferenciado para comunidades tradicionais, como Ilha de Búzios e Bonete. A qualificação do socorro, com a entrada do Samu e Bombeiros na cidade, foram otimizadas. Uma coisa importante é que tínhamos um compromisso com a saúde em relação aos medicamentos. Todos os postos de saúde possuem uma farmácia para distribuírem os remédios, mas para aqueles prescritos pela própria unidade. Também temos uma farmácia no centro, aberta para toda população, que por meio do programa “Nossa Farmácia”, garante medicamento para toda a população, inclusive para aqueles que têm prescrições particulares. Em dois meses foram distribuídos 70 mil medicamentos.
Outro desafio grande, que era uma queixa grande da população era a questão dos animais, principalmente de grande porte, soltos pelas ruas. Nós mudamos a cara da cidade. Tem sido feito um trabalho forte na conscientização das pessoas sobre isso, assim como a apreensão dos animais soltos. Ilhabela, até 2009 tinha zero de castração de animais castrados. Agora temos quase três mil animais castrados e microchipados.
IL – O município é conhecido por suas belezas naturais, mas ao mesmo tempo chama muito atenção de pessoas que visam construções
irregulares. Há cuidados da prefeitura nesse aspecto?
TC – A especulação imobiliária em Ilhabela é tão grande como em todo o Litoral Norte. É uma região que se valoriza demais e precisa ser firme para contar abusos. Nossa principal atitude foi contratar uma empresa logo no primeiro ano para fazer um geoprocessamento do município e com isso mapeá-lo. Isso ajudou a verificar as construções irregulares ou que não estavam pagando IPTU. Realizamos um concurso e dobramos o número de fiscais. Temos um trabalho forte referente à segurança. Queremos trazer para cá, em parceria com a Polícia Militar, uma unidade da Polícia Ambiental. Já temos o pedido e a área. Com o convênio que permitiu a gratificação por atividade delegada, espera-se também ampliar a atuação da Polícia Ambiental.
IL – Em relação à habitação, qual o panorama de Ilhabela?
TC – Todos nós do Litoral Norte temos dificuldades com relação a áreas. Temos um metro quadrado muito caro e a questão principal é sobre a documentação dos terrenos, que normalmente não são registrados no Cartório de Imóveis. Muitos são de posse e dificulta os programas habitacionais. Porém, nós assinamos com o Governo Estadual e fizemos um contrato com a Caixa Econômica Federal, para construirmos 198 casas do ‘Minha Casa, Minha Vida’. Agora só falta conseguir a área. Assinamos junto ao Governo do Estado o convênio “Cidade Legal”, que tem como objetivo a regularização dessa situação fundiária.
IL – O lixo é um problema para todo o Litoral Norte. Como Ilhabela se enquadra nesse item e quais as possíveis soluções que o senhor poderia apontar?
TC – A gente tem uma dificuldade maior que é transpor a balsa. Então melhoramos o trabalho de coleta seletiva, que hoje tira quase 20% do lixo produzido na cidade e o recicla. Temos um centro de triagem no antigo aterro, que equipamos de modo a poder oferecer melhores condições de trabalho a quem atua no local. Isso garante pelo menos a sobrevivência de 20 famílias, que vivem da separação desse lixo. Ainda temos hoje o problema de mandar esse lixo para Tremenbé. Hoje estamos discutindo muito em como criar um consórcio entre as quatro cidades do Litoral Norte para poder dar uma solução ao lixo produzido por aqui. A coisa precisa avançar de forma coletiva. A Petrobras já se colocou disposta a ajudar resolver esse problema, talvez com a licitação de uma usina de tratamento térmico do lixo, ou a discussão do aterro no Pau D’Alho. Acredito que a criação da região metropolitana vai aumentar as discussões ligadas ao tema.
IL – Em sua opinião, como os grandes projetos previstos para o Litoral Norte, como duplicação da Rodovia dos Tamoios e ampliação do Porto podem refletir em Ilhabela?
TC – Temos no turismo a nossa maior fonte de renda. Isso é importante de se lembrar. Por isso, sempre que for pensar em duplicação de Tamoios e ampliação de Porto, é preciso levar em conta essa questão do turismo, que é o setor que mais gera empregos. Temos que dar essa atenção especial a indústria do turismo e não podemos permitir que alguns projetos se contraponham a isso. É por esse mesmo motivo que temos que tomar cuidado com o caminho que o Porto pode tomar. Somos a favor da ampliação e modernização do Porto de São Sebastião, mas nunca de modo que atrapalhe o nosso turismo, que é a nossa fonte de empregos e principal atividade econômica.
IL – Falando em empregos, como está a atenção do município a esse segmento?
TC – Temos uma parceria grande com a Secretaria Estadual do Emprego, que trouxe para cá diversos cursos voltados ao mercado de trabalho da região, como cozinheiro, bar man, vendedores, agentes de turismo. Esse foi o foco do nosso trabalho. Não esquecendo de cursos mais comuns como pedreiro, carpinteiro, pintor. O Senac e a Secretaria Estadual nos ajudou muito com isso. Fizemos em 2011 o primeiro vestibular da Etec em Ilhabela e a partir desse ano, 80 jovens poderão cursar a Escola Técnica em salas descentralizadas aqui em Ilhabela.
IL – A questão do transporte público tem gerado certa polêmica na cidade. O que de fato mudou nesse setor em Ilhabela? O que será alterado com a vinda de uma nova empresa ao município?
TC – Era um compromisso político nosso de oferecer um transporte público de qualidade, que barateasse o custo para as pessoas que se deslocam de locais mais distantes. O bilhete único também era um compromisso e desde o início da gestão, tinha em andamento um contrato que estava aí há 20 anos, sem licitação. Não previa a necessidade de acessibilidade nos ônibus, tinha poucos horários e um custo superior. Procuramos um novo sistema e conseguimos fechar a proposta no início de 2010. De lá para cá, foram seis licitações, das quais cinco foram frustradas. A última, feita em setembro, nós conseguimos êxito e temos uma nova empresa em vias de início de atividades. O custo da passagem diminuiu, indo para R$ 2,2, o menor preço do litoral paulista. É importante lembrar que é sem subsídio, a prefeitura não está subsidiando nada para abaixar a passagem. Ela tem um sistema de operação mais enxuto, o que reduz custos, mas terá mais horários, mais chegar mais próximo da casa das pessoas, com novos itinerários, e com a grande inovação, que é a integração com o bilhete único. Importante dizer que toda a frota com acessibilidade e já adequada às normas da Fifa, uma vez que Ilhabela é um dos destinos turísticos do Brasil. Os táxis também foram implementados e hoje todos da cidade possuem taxímetro e estarão padronizados na cor cinza até 2013.