GACC - Grupo de Assistência à Criança com Câncer

GACC - Grupo de Assistência à Criança com Câncer
Desde o início de suas atividades, em 1996, o GACC - então Grupo de Apoio à Criança com Câncer - existe para aumentar a expectativa de vida e garantir a oferta e a qualidade global do tratamento oferecido integral e indistintamente a crianças e jovens com câncer, diagnosticados com idades entre 0 e 19 anos incompletos, independente de sexo, cor, religião ou posição socioeconômica.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Tenho Tido Vontade de Sair com um Travesti. Será que Sou Gay?

Casal,

Tenho 32 anos e sempre namorei com mulheres, nunca tinha tido dúvidas sobre minha orientação sexual até então. Mas de uns tempos para cá, tenho fantasiado com travestis e estou com muita vontade de fazer sexo com um deles. Mas é claro que venho reprimindo esse desejo, pois tenho medo do que as pessoas possam achar e tenho medo que isso possa indicar que sou gay. Me ajudem, por favor.

Leitor Anônimo

Querido Leitor Anônimo,
Se existe algo que ainda é um tabu gigantesco na sociedade, são as travestis. Nem me refiro ainda ao sexo com elas, me refiro a invisibilidade na qual elas são submetidas. Falamos  sobre isso em um outro texto:
“Além de terem nascido em um corpo que não corresponde com sua mente, as travestis são, talvez, as maiores representantes da classe dos invisíveis existentes na sociedade – o que chega a ser irônico, dada a aparência excêntrica delas. Ninguém fala sobre a situação de discriminação que elas vivem. Travesti já nasce sem oportunidade – ou vai trabalhar em salão de cabeleireiro ou vai pra ruas. Nem casas noturnas costumam as aceitar, quem dirá os outros estabelecimentos. Pense bem, quantas travestis você conhece que trabalham em lugares que não sejam esses dois citados? E não venha me dizer que não conhece porque provavelmente existem poucos travestis no mundo – basta dar uma voltinha pelos seus pontos de encontro que com certeza irá mudar de opinião. E aí, como fica? O que acontece com as travestis que não querem ser prostitutas e nem cabeleireiros? Essa situação deveria ser caso de cotas, como as de deficientes – todo estabelecimento responsável deveria ser obrigado a contratar uma porcentagem de funcionárias travestis. Seria um tapa lindo na cara dos preconceituosos e traria de volta a dignidade dessas pessoas.”
Ou seja, o tabu é tão grande que mal se pode falar sobre a existência delas, quem dirá falar que sente tesão por elas. Isso nos leva de volta à questão já muitas vezes abordada aqui no Casal Sem Vergonha, sobre a intrigante mania que as pessoas têm de precisar definir tudo. Queremos dividir bilhões de seres humanos únicos em categorias limitadas – gay, hétero ou bi. Mas existe muita gente que não se enquadra e nenhuma dessas categorias – e passa a vida sendo convencido de que deveria se encaixar em alguma delas.
Um exemplo clássico são homens que, como você, sentem desejo por travestis. Durante muito tempo da minha vida, tentei entender em qual categoria essas pessoas se enquadravam. Nunca consegui uma resposta concreta, porque não acreditava que apenas gostar de sexo anal, por exemplo, pudesse transformar um homem em gay – já que ser gay implica em uma outra série de desejos e comportamentos, não tem nada a ver com sentir prazer em uma parte específica do corpo. Até que um dia, ao entrevistarmos o psicólogo e sexólogo Cláudio Picazio, perguntamos quais os motivos para um homem querer sair com um travesti. E ele respondeu da forma mais simples e esclarecedora que eu poderia esperar:
“Muito simples. Porque ele gosta de um travesti. Um cara que sai com um travesti não é um gay incubado, porque é mais fácil sair com outro homem. Alguém se encontrar com um homem no carro, é mais fácil – “Esse aqui é meu amigo lá do futebol”. E é mais fácil também sair com uma mulher. Então, ele sente tesão por um travesti. Por essa mulher com pênis. Ele tem tesão em ser penetrado sim, mas por um homem? Não. Por uma mulher. Ele não é gay – ele deseja uma mulher com pinto. Tem mulheres que usam um pênis de borracha e comem seus maridos. Ok. Provavelmente se isso não acontecesse, eles irias procurar travestis. Ele sente prazer com penetração anal, mas ele não quer um cara. Ele quer uma mulher.”
Essa explicação simples foi uma lição de vida pra mim. Ela ilustrou o grande erro que cometemos ao querer classificar as pessoas, como se fossem produtos. Ela me mostrou que as coisas nem sempre são da forma que imaginamos – e que não cabe a nós julgarmos as escolhas do outro.
Então, meu caro leitor, termino essa resposta dizendo que esse desejo não faz com que você seja gay – apenas indica que você sente tesão por uma mulher com pinto. Bizarro, algumas pessoas podem dizer. Mas quem não tem alguma fantasia bizarra que atire a primeira pedra. Aliás, no sexo, ser muito “normal” faz com que desperdicemos possibilidades infinitas de sentir prazer.
Boa sorte e não se reprima!

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