Pela primeira vez Cid Carvalho assinou um enredo na Mangueira e se disse realizado. “Se eu me aposentar depois da Mangueira, vou me aposentar feliz e realizado. Era um sonho, independente da linguagem e da estética, todo carnavalesco deveria pelo menos uma vez ter a honra e o privilégio de desenvolver o Carnaval para a Mangueira, é único”, disse Cavalho, que apostou principalmente nas cores da escola, verde e rosa, para as fantasias e alegorias.
Para falar sobre o tradicional bloco, a escola, com 4 mil componentes, 50 alas e sete alegorias, faz um passeio pela história do Carnaval carioca, começando pela Praça Onze, o berço do samba carioca. A fantasia da ala das baianas fez menção à famosa Tia Ciata, que reunia em sua casa grupos de sambistas.
Os sambistas Beth Carvalho e Jorge Aragão vinham ladeados de orixás em cima da alegoria que trazia a comissão de frente, representando um terreiro de candomblé com sua tamarineira, onde teria nascido o Cacique de Ramos.
Por volta de 20 minutos de desfile, a bateria fez uma parada de cerca de 2 minutos, que durou toda a extensão do samba e fez o público cantar junto com a escola. Antes, a escola já havia feito uma primeira paradinha, mais curta e não-programada, causada por um problema no carro de som, que logo foi resolvido. Em outros momentos do desfile, os sambistas Alcione e Dudu Nobre, destaques de uma alegoria que representava uma roda de pagode, deram palhinhas em plena avenida, cantando o samba da escola.
O carro abre-alas, "Sou Cacique, Sou Mangueira", resumia o enredo trazendo o surdo símbolo da Estação Primeira e um enorme cacique. Na parte de trás, o Palácio do Samba, como é conhecida a quadra da mangueira.
Em momento marcante do desfile, a bateria parou e deu espaço para a apresentação do primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Rafael e Marcela Alves, que veio representando o bloco homenageado e seu rival, o Bafo de Onça: ele de cacique e ela de onça.
A fantasia da rainha de bateria Renata Santos também reverenciava os dois blocos, com uma índia que se transformava em onça no meio da avenida.
Pierrôs e colombinas ocupavam o baile de máscara em cima de uma carruagem em forma de cisne no carro "Folia da Elite Carioca", segunda alegoria da escola, lembrando as grandes sociedades, corsos e bailes da elite carioca.
A festa da Penha, considerada até a década de 1930 a segunda maior festa do Rio, foi o destaque do terceiro carro, "Festa da Penha, a Festa do Samba". “Tinha o Carnaval e a festa da Penha, onde a primeira geração de sambistas caia na folia. Enquanto a elite subia as escadarias (da igreja da Penha) para rezar, os negros faziam um verdadeiro Carnaval. O samba era marginalizado”, ressaltou Cid. A alegoria trazia atores negros embaixo e brancos em cima, simbolizando a separação social.
As alas seguintes representaram os antigos blocos cariocas que deram origem a escolas como Portela, Estacio de Sá e à própria Mangueira.
O quarto carro alegórico destacou o Bafo da Onça, o bloco rival do Cacique. A onça veio sentada em um trono.
O quinto carro carro, todo em tons de verde, representava o orixá Oxossi, protetor das matas, e a tamarineira sob a qual o Cacique de Ramos foi criado.
A alegoria que fechou o desfile da verde e rosa fez uma brincadeira com o “samba em Marte”. Segundo lembrou o carnavalesco, em 1997, a NASA enviou uma missão não tripulada à Marte e escolheu a música "Coisinha do pai", popularizada por Beth Carvalho, para acordar o robô". “A música é de Jorge Aragão e do Cacique de Ramos. Fazemos uma brincadeira para reafirmar que o nosso samba pode agonizar, mas jamais vai morrer”. Nesta última alegoria, a escola levou para a avenida uma nave espacial chegando com o “bonde do Cacique a Marte”, acrescentou.
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