Wagner Moura se encontra com ele mesmo em 'O Homem do Futuro'
"Wagner Moura e Alinne Moraes em cena do filme 'O Homem do Futuro'"

Em A Mulher Invisível (2009), a imaginação fez com que o personagem do ator Selton Mello fosse capaz de conversar com si mesmo, com ajuda de uma namorada que só existia em sua cabeça. Agora, o cineasta Claudio Torres (Redentor e A Mulher do Meu Amigo) utiliza o tempo para aprimorar essa façanha e fazer Wagner Moura, no papel de Zero, se encontrar não apenas com uma versão dele mesmo, mas com duas. Com orçamento de R$ 8 milhões, O Homem do Futuro, mistura de comédia romântica com uma dose de ficção científica, chega hoje aos cinemas com a promessa de se tornar o grande sucesso nacional do segundo semestre.
A premissa do longa-metragem nasceu exatamente de uma cena de Mulher Invisível. 'Estávamos filmando uma sequência em que Selton brigava com Luana (Piovani). Falei: 'Vai para o lugar dela e diz o texto'', lembra Torres. 'A cena dele contracenando com ele mesmo é uma das que eu mais gosto do filme. Então, percebi que ali havia um assunto interessante.'
No início da trama, Zero (Wagner Moura), um cientista genial e amalucado, está obcecado com o desejo de montar um acelerador de partículas, capaz de criar uma nova forma de energia. Com um ar de derrotado e um quê cômico, o homem busca em seu trabalho um jeito de esquecer o fatídico dia 22 de novembro de 1991. Data em que começou a namorar Helena (Alinne Moraes), a garota mais linda da faculdade, foi humilhado em uma festa à fantasia e levou o maior fora de sua vida.
O problema é que o aparelho criado por Zero não funciona da forma esperada e o leva diretamente ao ano de 91, dando a chance para que mude toda a trajetória de sua vida, o que, claro, vai causar muita confusão. Não, qualquer semelhança com a trilogia De Volta Para o Futuro ou A Dona da História não é mera coincidência (leia mais abaixo). Aqui, vale ressaltar a qualidade dos efeitos especiais criados por Torres e sua equipe. São simples, mas convencem. Merece também destaque a recriação do Rio no início dos anos 90. Os carros, as roupas, os celulares enormes e a presença na TV de Fernando Collor de Mello, no auge de seu mandato, constroem a ambientação.
Com adereços simples, os atores vivem os personagens em duas fases: aos quase 20 anos e na faixa dos 40. Para Maria Luisa Mendonça, que dá vida a uma amiga de Zero, o figurino ajudou. 'A história se passa num baile à fantasia. Então, isso já te coloca de maneira diferente em cena', diz. No caso de Fernando Ceylão, que interpreta o comparsa do cientista, a barba e a postura fizeram toda a diferença na hora de compor seu personagem. 'Usei barba para parecer mais velho e ergui o queixo para ficar sem papada na versão jovem.'
A produção tem bons momentos cômicos, sem apelar para o humor bobo. Como no rápido e espirituoso diálogo entre Zero e um transeunte engravatado (Gregorio Duvivier) e a admiração do protagonista ao perguntar em um bar se é permitido fumar lá dentro. As dicas sobre o futuro que Zero distribui pelo caminho também rendem boas risadas. Uma delas é: em hipótese alguma, estejam em Nova York no dia 11 de setembro de 2001.
O resultado da viagem de Zero é (tcharam!) uma nova viagem no tempo, para tentar recuperar seu amor, o que possibilita o tal encontro entre ele, ele mesmo e ele outra vez. Tudo na mesma festa à fantasia.
A capacidade que Wagner Moura tem de se reinventar a cada diferente Zero impressiona. Ceylão é outro que segura o personagem com louvor.
Antes do malvado Ricardo (Gabriel Braga Nunes) humilhar Zero, Helena, a bela Alinne Moraes, solta a voz em Tempo Perdido, da Legião Urbana. Soam os versos: Todos os dias quando acordo/Não tenho mais/O tempo que passou. Lindo. O único contratempo é que, quando o personagem de Moura acompanha a amada, o filme remete a Vips, em que ele cantou Será, música da mesma banda.
Com atores globais, mas sem criar um ar novelesco, a obra bebe em referências variadas, mas consegue amarrar tudo de maneira despretensiosa. E divertida.