"Meu irmão, logo que estourou a barragem, mandou uma mensagem pelo Whatsapp no grupo que temos da família"
Um recado via aplicativo de celular alertou Wendel, volante do Sport e campeão brasileiro de 2003 pelo Cruzeiro, sobre um dia atípico na sua querida Mariana. O rompimento de duas barragens de rejeitos da mineradora Samarco, na última quinta-feira, resultou em uma enxurrada de lama no distrito de Bento Rodrigues, localizado em sua cidade natal. Ele não imaginava a proporção disso.
Filho ilustre de Mariana, cidade histórica e primeira capital do Estado de Minas Gerais, Wendel manteve a rotina após olhar a mensagem: se arrumou, foi ao treino e trabalhou com os companheiros de Sport. Após tudo isso, ao mexer novamente no celular, veio o baque: parte do município que nasceu, cresceu e aprendeu a jogar futebol estava sob um ‘mar de lama'
Os compromissos com a equipe pernambucana, que ainda briga por uma vaga na Copa Libertadores da América de 2016, e os mais de 2.100 km de distância limitaram qualquer ação. Entretanto, mesmo longe, Wendel não se esqueceu da sua cidade: o experiente volante de 33 anos lidera uma campanha de arrecadação para ajudar a reconstrução do distrito atingido pela quebra das barragens - até o momento, seis pessoas morreram na tragédia.
A amizade com o prefeito Duarte Junior, que chegou a ser internado depois da tragédia por apresentar um quadro de estresse acima do normal (segundo relatos da mulher, ele não dorme desde o ocorrido), e o prestígio adquirido pela carreira no futebol transformaram Wendel em um símbolo de luta no momento mais complicado da cidade, localizada no centro de Minas Gerais.
"Eu e o prefeito temos praticamente a mesma idade. Acabou que ele me ligou e sugeriu que a gente fizesse uma campanha. Aproveitei o fato de o Sport ter um grande número de torcedores e sei que ajudariam muito. Colocaram no Facebook da equipe e graças a Deus está com uma repercussão boa", contou o volante, em entrevista concedida na noite da última terça-feira.
Mesmo longe de Mariana há 20 anos, Wendel segue ligado ao local em que nasceu. Os pais, o irmão e alguns parentes ainda vivem na cidade, e um deles foi atingido pela lama. "Depois que meu irmão me contou mais detalhes, soube que um primo afastado chamado Romeu, que trabalhava na mineradora, conseguiu escapar. Ele ficou todo sujo de lama, mas graças a Deus se salvou", conta.
As notícias atualizadas surgem por internet e telefone, mesmas vias escolhidas por Wendel para ajudar Mariana. Inclusive, todo o elenco do Sport se envolveu com a campanha do filho ilustre da cidade mineira. "A gente tem um grupo e os meninos ajudam muito na divulgação. O goleiro Danilo (Fernandes) já fez a sua ajuda, outros também. Graças a Deus o povo brasileiro tem esse incentivo para ajudar o próximo. No que eles podem ajudar, eles tem me ajudado", acrescentou.
Mariana, parte minha
Mariana é parte da vida de Wendel. Nascido na primeira capital mineira da história, o volante canhoto deu os primeiros passos nas ruas de paralelepípedos da cidade. O terreno irregular não atrapalhava, e uma até então criança chamou a atenção. Aos 12 anos veio a mudança para a cidade grande - Belo Horizonte e o Cruzeiro o receberam de braços abertos.
"Meu bairro, o bairro da Colina, foi onde aprendi a jogar futebol; foi lá que cresci e me criei como jogador. A gente perde o contato dos amigos, mas fiz grandes amigos na infância, alguns ainda vivem lá. Gosto bastante de Mariana, meus pais e meu irmão moram lá ainda. Dei os primeiros passos de jogador foram lá, bairro da Colina", relembra o jogador campeão brasileiro pelo Cruzeiro.
O carinho pela cidade-natal é mantido por visitas praticamente anuais. Wendel passou as festas de final de ano em 2014 e já marcou o retorno para 2015, com o intuito de ajudar - desta vez de maneira presencial.
"Vou ver meus pais em Mariana e quero conversar com as pessoas, com o prefeito e com quem mais eu possa ajudar. Nessas horas, o pouco que a gente pode ajudar é válido", discursou o experiente meio-campista, que, neste momento, usa as palavras para confortar as vítimas da tragédia.
"Tenham força. É um momento complicado, E só quem passa por esse momento pode sentir na pele. Tenho certeza que Deus vai confortar o coração dessas pessoas, e com a ajuda do povo mineiro, brasileiro, vão conseguir tentar reconstruir um pouco daquilo que perderam nessa tragédia. Força, luta, oração e que Deus abençoe a todos", completa alguém que sentiu de longe o peso de uma catástrofe na cidade do coração.
Dados para doação:
Banco do Brasil:
Agência: 2279-9
Conta Corrente: 10000-5
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