GACC - Grupo de Assistência à Criança com Câncer

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Desde o início de suas atividades, em 1996, o GACC - então Grupo de Apoio à Criança com Câncer - existe para aumentar a expectativa de vida e garantir a oferta e a qualidade global do tratamento oferecido integral e indistintamente a crianças e jovens com câncer, diagnosticados com idades entre 0 e 19 anos incompletos, independente de sexo, cor, religião ou posição socioeconômica.

sábado, 14 de julho de 2012

A famosa “Pipoca Especial do Mineiro”

“De três, cinco ou sete?” É a frase que escuto lá do farol ao cruzar a avenida principal no Centro de São Sebastião em direção ao carrinho do pipoqueiro mais famoso da região. Seu nome é Custódio Rilato, 52 anos, mais conhecido como “Mineiro”. E faz a tradicional “Pipoca Especial do Mineiro”, sempre acompanhado por sua esposa Edina Carvalho, 43 anos, e dona da voz que dizia a um freguês quais os preços da pipoca que iria levar, ou seja, a pequena, média ou grande.
Fui recebido pelo casal com muita atenção e num clima descontraído e com cara de amizade de longa data desenvolvemos um papo gostoso e interessante. Realmente parecia que estávamos em família na conversa, onde perguntei sobre a vida do “Mineiro” e como ele veio parar em São Sebastião e o porquê da famosa pipoca.
Num vai e vem de pessoas, com um forte e constante movimento de fregueses conseguimos conversar e também pude ver, na prática, um pouco da vida desse pipoqueiro tão famoso. 

Ele é firme ao dizer “sou de Minas sim, nasci em Lavras e depois fui pra São Paulo trabalhar como azulejista”. Até então nada a ver com pipoca, mas após os seis anos que passou na Capital do Estado (São Paulo) veio a São Sebastião ganhar a vida. Ainda com o talento de azulejista Mineiro passou um tempo na cidade exercendo seu trabalho.
Mas, certo dia, ao passar em frente à rodoviária, “vi um simples carrinho de pipoca com uma panela de pressão à venda, carrinho simplinho de madeira que as portas abriam por cima, tipo borboleta” descreve o simpático pipoqueiro. “Isso faz 20 anos, comprei o carrinho, comecei a fazer pipoca na panela de pressão e ganhei muito dinheiro com isso”, brinca. 
Puxa, nem caberia aqui tudo o que esse homem contou sobre sua vida, mas um pouco dessa bela história de vida, esperança, perseverança e coragem é possível descrever. Até porque, no momento da conversa, éramos interrompidos o tempo todo pelos apreciadores da “Pipoca Especial do Mineiro”. Perguntei para um homem que estava recebendo seu saquinho de pipoca ali, se era a primeira vez que pegava naquele carrinho, e ele disse “eu pego dele direto”, então troquei a pergunta e disse qual o motivo de pegar com tanta frequência, e ouvi uma simples e direta resposta “é mais fresquinha, sai na hora, acabou de fazer, já ta lá”, conclui o freguês assíduo Rodrigo de Paulo.

É até engraçado como pudemos desenrolar um papo tão interessante, já completando uma hora de diálogo sem que as pessoas parassem de chegar. Mesmo em meio a esse intenso movimento Mineiro continua sua história dizendo sobre o nome do seu comércio, onde sua esposa Edina diz “os fregueses falavam “eu quero aquela pipoquinha especial do Mineiro”. Então o nome foi dado”. Mas o pipoqueiro experiente e cheio de memória lembra que “na verdade Edina tá se confundindo, quando mandei fazer o adesivo para colar no vidro do carrinho, o homem da gráfica onde o adesivo foi impresso sugeriu que eu colocasse “Pipoca Especial do Mineiro”, aceitei a sugestão e até hoje o nome é esse”, conclui ele em relação à criação do nome. 
Ainda nesse assunto, pensamos juntos que é um caso meio “Tostines”, e em risadas observamos que tanto faz; se a pipoca é “Especial” porque é tão fresquinha, ótimo, e se for fresquinha por ser tão especial, tudo bem também! O importante não é que ela vende mais devido ao nome, mas sim, que no paladar, a pipoca do Mineiro é uma delícia! E claro, é especial!

Outro fator interessante é que, não somente o que é dito por ele é relevante, mas também o que se ouve das pessoas sobre ele. Para saber um pouco melhor o perfil desse comerciante, andando nas ruas e entre amigos perguntei se conheciam um pipoqueiro que fica ali na esquina da avenida principal, e todas às vezes ouvi em alto e bom som “claro, o Mineiro?”. E acrescentavam: “A pipoca dele é muito boa”. Então, percebi também que alguns já conheciam sua história. Até um colega de trabalho que vende pipoca a poucos metros dali, com muita educação e disposição passou informações sobre como era possível encontrar o Mineiro. Isso quando o procurei pela primeira vez, já tarde da noite. 
Com anos de sucesso e credibilidade no ramo, Custódio, o “Mineiro”, investe em novo carrinho e ensina o filho a trabalhar com o mesmo profissionalismo e carisma do pai. O filho mais novo do pipoqueiro fica em outro carrinho, mas não abre sempre e ainda não tem um horário definido como o do pai, que costuma chegar todos os dias por volta das 14h e fica até às 20h na esquina da avenida Guarda Mor Lobo Viana com a rua Duque de Caxias. Aos finais de semana, após fechar o carrinho no ponto tradicional, ele vai para a Rua da Praia onde vende sua pipoca até às 22h. E segue também, esporadicamente, para alguns pontos onde ocorrem festividades.

São variedades para todos os gostos, pipoca doce, salgada, com queijo, sem queijo, da maneira que o freguês quiser. E ainda tem a batata frita que ele mesmo faz. O que chama a atenção também é que o carrinho do Mineiro segue a velha tradição, não somente as crianças gostam da pipoca, mas os jovens e adultos apreciam muito. O padrão de qualidade e o estilo do carrinho são o mesmo de 20, 30, 40 anos atrás. Mineiro não “secularizou” seu comércio, não encheu seu carrinho de chicletes, figurinhas e tantos outros produtos que supostamente agregam valores e estão sendo utilizados por muitos pipoqueiros em várias cidades. 
Para os “mais velhos” e saudosistas, parar no carrinho de pipoca do Mineiro é como retroceder algumas décadas e voltar à ingênua infância onde se frequentava com a família, ou somente entre amigos, parquinhos de diversão, praças, circos e tantos outros locais onde podíamos, sem o medo de hoje em dia, desfrutar de bons momentos degustando uma deliciosa pipoca em frente àquela charmosa luz do interior do carrinho, que clareia levemente o rosto de quem está em volta, e que tantas vezes proporciona até certo clima romântico para os casais. Esse momento “retrô” é o que podemos sentir ao responder a pergunta de Edina “de três, cinco ou sete?” Onde é do gosto do freguês escolher o tamanho do saquinho de sua pipoca.
Quando foi elogiado sobre sua história, e o clima gostoso que existe ao comprar sua pipoca especial, e que seu carrinho é igual aos que frequentávamos quando éramos crianças, o famoso pipoqueiro responde: “tem que ser assim”. 

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