GACC - Grupo de Assistência à Criança com Câncer

GACC - Grupo de Assistência à Criança com Câncer
Desde o início de suas atividades, em 1996, o GACC - então Grupo de Apoio à Criança com Câncer - existe para aumentar a expectativa de vida e garantir a oferta e a qualidade global do tratamento oferecido integral e indistintamente a crianças e jovens com câncer, diagnosticados com idades entre 0 e 19 anos incompletos, independente de sexo, cor, religião ou posição socioeconômica.

sábado, 17 de setembro de 2011

Mais de 5 mil pacientes são transportados para região vizinha por falta de estrutura médica

A péssima situação da saúde pública brasileira não é novidade para ninguém. No Litoral Norte a realidade do setor acompanha a tendência nacional. Além da falta de médicos interessados em atuar na região, Caraguatatuba, Ilhabela, São Sebastião e Ubatuba ainda sofrem com a histórica ausência de investimentos das esferas superiores (Estado e União). O Governo Paulista bem que tentou amenizar os problemas com a instalação de um Ambulatório Médico de Especialidades (AME), em 2008. No entanto, menos de dois anos depois da inauguração, a unidade já apresentava saturação no atendimento.
A operação do AME praticamente não alterou uma realidade ainda mais dura para a população do Litoral Norte: a busca por hospitais e exames de média e alta complexidade. Ou seja, se um morador do Litoral Norte tiver sido acometido por um câncer, ele obrigatoriamente terá de realizar o tratamento fora daqui.
Entretanto, um exemplo é muito pouco para o tamanho do problema enfrentado pelos enfermos da região. Ao todo, as prefeituras da região transportam cerca de 5 mil pacientes por mês, em função da falta de estrutura médica no Litoral Norte. Tratamentos como oncologia, cardiologia, fissura de lábios e outros tantos só são realizados em hospitais de outras cidades. Portanto, os males são diversos, mas a solução tem só um caminho: a estrada.
Só em Caraguatatuba são transportadas, em média, 140 pessoas por dia aos hospitais do Vale do Paraíba, da Capital e do interior do Estado. A demanda é tão grande que a própria direção de planejamento da secretaria municipal de Saúde fez questão de ressaltar o trabalho do setor de transporte sanitário. “O João faz mágica”, disse o secretário de Saúde de Caraguá, Antônio Nisoli Pereira da Silva, sobre o chefe da divisão de transportes, João Andolfo.
Segundo a secretaria, são cerca de 40 veículos, entre vans, micro ônibus e ambulâncias que ficam diariamente à disposição para as viagens com os pacientes e acompanhantes. Apesar de ter a maior frota da região, o secretário caraguatatubense destaca que o volume crescente e as condições de saúde das pessoas tornam o trabalho muito complexo.
“Nós estamos lidando com pessoas doentes e com destinos diversos. Organizar essa demanda requer um trabalho intenso diariamente. Nós só conseguimos cumprir com essa obrigação, pois a prefeitura dá todas as condições para isso ocorrer. No entanto, esse é um problema que não tem como ser resolvido pelo município. Para reduzir o número de viagens é preciso que o Estado invista de forma pesada em estruturas médicas de média e alta complexidade na região”, explica Antônio Nisoli.
Enquanto as soluções definitivas ficam apenas nas promessas do Estado sobre um hospital regional, o chefe dos transportes, João Andolfo quebra a cabeça para formatar a planilha de viagens do dia seguinte.
Os primeiros carros saem lotados de Caraguatatuba logo durante a madrugada. Para pacientes que têm agendado algum procedimento no período da manhã na cidade de São Paulo, é necessário que a saída de Caraguá ocorra até às 3h. “Geralmente são pessoas que já estão debilitadas, então, a orientação é que se faça uma viagem sem pressa, com tempo para o caso de uma eventual parada. Além disso, quando o destino é a capital, o ideal é que se chegue em São Paulo antes das 6h, pois ainda temos de levar em conta o trânsito da metrópole. Enfim, é um trabalho complexo, mas que não pode parar ou dar errado, pois estamos lidando com a saúde de pessoas que precisam de nossa eficiência pra melhorar. Qualquer eventualidade, por exemplo, pode significar a perda do atendimento já agendado pelo morador aqui da cidade”, relata o chefe do setor de transportes da secretaria de Saúde de Caraguatatuba.
Além dos pacientes, as prefeituras também precisam disponibilizar a condução para os acompanhantes. Mesmo no caso da enfermidade não ser tão grave, idosos e crianças necessitam naturalmente da companhia de algum familiar.

Demais cidades

Na cidade de São Sebastião, só em agosto, foram transportados 1.082 pacientes e 432 acompanhantes, o que gerou um total de 1.512 pessoas que utilizaram o transporte sanitário oferecido pela prefeitura. A média do mês passado no município portuário foi de 68 moradores por dia utilizando o serviço de locomoção sanitária da gestão municipal.
Em Ubatuba, a média dos transportes sanitários realizados praticamente dobra com relação à São Sebastião. Segundo a prefeitura ubatubense, os veículos disponíveis para o setor levam 120 pessoas por dia para a realização de procedimentos médicos fora da cidade. Entre elas, algumas recebem tratamento no próprio Litoral Norte, no entanto, a grande maioria sobe a serra rumo aos hospitais do Vale e da capital.
Na Ilhabela o número é mais baixo e acompanha a proporcionalidade da população municipal. Mesmo assim, para um arquipélago, a demanda de viagens é significativa. No mês de agosto o município atendeu aproximadamente 250 pacientes com transporte para as cidades mais distantes (São José dos Campos, Taubaté, São Paulo, etc.). Além de pacientes que utilizam o transporte sanitário oficial, a prefeitura de Ilhabela também disponibiliza passagens intermunicipais para enfermos que possuem condições físicas e psicológicas para viajar de ônibus. No mês passado, cerca de 50 munícipes utilizaram esse serviço para cidades fora do Litoral Norte.
Neste ano, ocorreram dois acidentes envolvendo pacientes tratados em outras cidades, ambos na rodovia Tamoios. Os grupos retornavam de consultas para Caraguatatuba e São Sebastião. Seis pessoas morreram e uma ficou gravemente ferida.

Pacientes que utilizam transporte da Saúde temem acidentes

Beatriz Rego

Alguns usuários do serviço de transporte oferecidos pelas Secretarias de Saúde da região foram entrevistados pela reportagem, e contaram um pouco sobre suas experiências durante suas viagens.
Flávio Silva Lima, 25 anos, morador do bairro de São Francisco, em São Sebastião, utiliza o carro desde janeiro para fazer tratamento em Taubaté, no Vale do Paraíba, de um linfoma de Hodgkin. “Já precisei do carro diversas vezes, para fazer consulta, exames e quimioterapia, estou em tratamento. Subo a serra com bastante frequência, mas graças a Deus nunca passei por nenhuma situação de risco na rodovia, que pudesse me colocar em perigo. Porém, devo confessar que fico bastante apreensivo cada vez que tenho que realizar uma viagem. Sabemos, através da mídia, de vários acidentes com ambulâncias e carros com pacientes que vão procurar assistência médica em outras cidades. Infelizmente é um risco que corremos, mas até hoje eu só tenho a agradecer”.
Lauana Magalhães Alvarenga Ribas, 29 anos, é outra paciente que utiliza o serviço de transporte periodicamente, ela mora em Caraguatatuba, e contou que este ano já viajou três vezes, também para Taubaté, devido a um problema cardiológico. “Sempre viajo de madrugada, e fico com medo, pois a gente ouve diversas histórias de acidentes. Mas é preciso ir. Temos que buscar tratamento fora daqui, então precisamos nos submeter a todo tipo de situações. Já ouvi de motoristas que dormem ao volante, que trocam de turno, ou dobram o turno. E todas essas situações colocam os pacientes em risco. Toda vez que eu viajo procuro conversar com os motoristas e policiá-los, porque é a minha vida que está em jogo”.
Lauana afirmou também que em Caraguatatuba, o principal problema que os pacientes enfrentam é a falta de ambulâncias para atender toda a demanda. “Certa vez fui para Taubaté fazer cateterismo, o exame é feito através de uma intervenção pela virilha; Eu precisava voltar em uma ambulância, deitada, porque depois do procedimento o paciente não pode dobrar a perna. Mas a prefeitura não tinha uma ambulância à disposição. Então, eu tive que voltar num carro convencional, sentada, felizmente não aconteceu nenhum problema comigo por causa disso”.
Carlos Puríssimo, 60 anos, morador do Parque Itatinga, em São Sebastião, relatou que não é paciente, mas que utiliza o serviço oferecido pela prefeitura como acompanhante de sua esposa Daniela. “Minha companheira faz tratamento de endometriose em São Paulo. Há oito meses utilizamos o transporte público. Geralmente, nós agendamos a consulta no hospital em São Paulo, e depois ligamos na Central de Veículos aqui em São Sebastião para solicitar o carro”. Puríssimo declarou também que sempre o transporte sai durante a madrugada, percorrendo a Costa Norte e a Sul para pegar os pacientes e ir para São Paulo. “Sempre ficamos um pouco preocupados, pois sabemos o quão cansativo é o serviço dos motoristas. Eles saem de madrugada daqui, e quando chegam a São Paulo depois de desembarcar todos os pacientes, não possuem um lugar especifico para descansar e depois ir pegar todo mundo de volta. Acho que esse deve ser o principal fator que contribui para tantos acidentes que vemos por ai”.

Motoristas das prefeituras se desdobram para atender demanda de pacientes

Um motorista foi entrevistado pela reportagem, mas preferiu não se identificar, denunciou que muitas vezes os profissionais dobram o turno e saem de uma viagem para entrar em outra na sequência. “Nós precisamos das horas extras, e as prefeituras precisam da mão-de-obra, então é uma ajuda mútua. Acredito que o problema poderia ser resolvido com a contratação de mais pessoas. Nossa região cresceu muito, e o quadro atual de motoristas das prefeituras, é muito pequeno em relação à demanda de pacientes que, diariamente, precisam de auxílio e tratamento em outras cidades”.
O motorista reclamou também que para viagens mais longas o desgaste é muito grande e falta estrutura para os profissionais. “Durante as viagens, o motorista deveria ter um local para descansar enquanto espera os pacientes retornarem de seus compromissos. Acredito que se nós tivéssemos um local apropriado, os riscos nas viagens diminuíram. Tenho colegas que já dormiram ao volante com a van lotada de pacientes, e quase acarretou em um grave acidente. Mas felizmente nada aconteceu, porém, não são todos que dão esta sorte, pois estamos vendo com certa frequência a quantidade de acidentes envolvendo a área da saúde”, concluiu.

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