O ex-jogador e deputado federal Romário
"Muitas dessas obras, talvez 80% de todas que se referem à Copa do Mundo, estão atrasadas justamente para entrar naquele momento de obra de emergência, em que algumas não precisam licitação e em outras a licitação não é como teria que ser. Esse é o momento de as pessoas roubarem. E muito"
O deputado federal Romário (PSB-RJ) tem, aos poucos, deixado de ser reconhecido apenas como uma celebridade que chegou à Câmara. Tornou-se um crítico ferrenho da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e da organização da Copa do Mundo no Brasil. Com menos de 500 dias para o Mundial de futebol, o ex-artilheiro diz que o legado do torneio será insuficiente e afirma que a demora em algumas obras alimenta a corrupção. Ao site de VEJA, ele também falou do retorno de Luiz Felipe Scolari à Seleção e contou o que pensa sobre o argentino Lionel Messi, eleito o melhor jogador do mundo.
O senhor tem feito muitas críticas ao andamento das obras da Copa. Mas, recentemente, dois estádios já foram entregues. A situação melhorou? Pelo que eu tenho acompanhado através da Comissão de Esporte da Câmara e da minha assessoria, as obras que já estavam avançadas deram uma acelerada. Mas as que estavam atrasadas continuam atrasadas. Algumas, inclusive, não vão poder ser entregues porque não têm mais tempo suficiente – principalmente obras que se referem à mobilidade urbana, que seriam, na minha opinião, o maior legado dessa Copa do Mundo para o brasileiro. São obras de transportes, alargamento de rua, aeroportos, acessibilidade. Infelizmente, a Copa não vai ter o legado que deveria.
Os governos priorizaram os estádios e se esqueceram das outras obras? Acho que a ideia é entregar os estádios. E eu acredito que nem todos os doze estarão 100% na época da Copa do Mundo. Mas, em se tratando de brasileiros, a gente sempre dá aquele jeitinho. Então os doze serão entregues e, desses doze, quatro dificilmente terão vida própria - os estádios de Manaus, Cuiabá, Brasília e Natal. Vão servir para tudo, menos para jogo de futebol. Talvez, quem sabe, aproveitem em alguns dias do mês para fazer show porque vão ser arenas; mas, fora isso, esses quatro estádios para mim são micos.
Faltou planejamento ou execução? Eu acho que faltaram várias coisas. Faltou principalmente o governo, lá atrás, quando aceitou a Copa do Mundo, reconhecer que o Brasil tem muitos problemas para resolver, principalmente na saúde e na educação. O governo não poderia ter aceito algumas imposições da Fifa em relação, por exemplo, aos estádios e à Lei da Copa. O Brasil estava com vontade de sediar a Copa do Mundo e, para isso, em outras palavras, abriu as pernas. E o povo brasileiro, depois de 2014, vai pagar por isso.
O senhor acha que ainda virão à tona casos de corrupção envolvendo as obras da Copa? Isso aí eu não acho, eu tenho certeza. Muitas coisas erradas aparecerão. Muitas dessas obras, talvez 80% de todas que se referem à Copa do Mundo, estão atrasadas justamente para entrar naquele momento de obra de emergência, em que algumas não precisam de licitação e em outras a licitação não é como teria de ser. Esse é o momento de as pessoas roubarem. E muito.
Sendo tão crítico, o senhor pretende participar dos eventos ligados à Copa? Eu só vou onde me convidam. Se não me convidam, eu não vou.
E se convidarem? Dependendo de quem convida e para onde é, vai ser um prazer poder participar.
O que o senhor achou da escolha de Luiz Felipe Scolari para dirigir a seleção? No momento, é a melhor escolha que o Brasil poderia ter, principalmente porque ele vai estar junto do Carlos Alberto Parreira. São os dois últimos campeões do mundo com a seleção, treinadores que convocam sempre aqueles que eles entendem que são os melhores. Com certeza, o povo brasileiro – tanto os jogadores quanto o torcedor e a imprensa – tem um grande carinho e respeito por eles dois, principalmente pelo que eles fizeram nesses dois últimos títulos para o Brasil. Eu tenho certeza de que agora o Brasil tem muitas chances de melhorar bastante o seu nível de jogo.
O senhor ainda tem problemas com Scolari por causa da não-convocação na Copa de 2002? Não. Eu já estive com o ele duas vezes depois da Copa de 2002. A última foi no ano passado, em Fortaleza, e a gente conversou. Não tenho nada contra o Felipão. É claro que gostaria muito de ter participado daquele título, mas a vida é assim: nem sempre tudo o que a gente quer a gente consegue. As coisas já foram conversadas e eu desejo a ele muito boa sorte.
A imprensa, principalmente na Europa, especula se Lionel Messi pode ser comparado a Pelé. Mas ele já superou Romário? Com certeza ele ainda tem que passar por mim, pelo Ronaldo, e depois ele começa a pensar em Maradona e Pelé.
Mas o senhor vê esse potencial nele? Ele ainda tem tempo. A partir do momento em que começar a conquistar títulos com a camisa da seleção argentina, principalmente o da Copa do Mundo, ele pode com certeza ser colocado entre os cinco maiores jogadores de todos os tempos.
Por enquanto, as comparações são um exagero? O que ele vem fazendo com a camisa do Barcelona está bastante acima da média. Ele está fazendo o que ninguém conseguiu fazer. Mas, na minha opinião, o jogador precisa fazer não só no seu time, mas também na seleção, para ser completo. Não que ele não faça. Mas um título mundial é muito importante para o jogador ser considerado do nível de Maradona e Pelé. Tem que ter um título mundial.