Chegou o frio. Apesar de não termos um inverno rigoroso na maior parte do Brasil, as temperaturas caem bastante, principalmente no sul e sudeste. As ruas ficam mais vazias, povo andando de casaco, preguiça de sair da cama de manhã. Falando em preguiça, pode parecer impressão de que o inverno nos deixa mais mal-humorados, mais preguiçosos, ou menos dispostos. Mas não é só impressão não.
Existe uma coisa que chamamos de depressão sazonal, um tipo de distúrbio de humor que ocorre apenas no inverno, ou que se exacerba apenas nesta época do ano. Ela foi primeiramente cunhada pelo psiquiatra Norman Rosenthal em 1982. No entanto, já se tinha notícia da doença 400 anos a.C., quando Hipócrates observou tais quadros, advogando os efeitos terapêuticos da luz solar.
Desde o reconhecimento do transtorno em 1982, muito se tem pesquisado sobre o assunto. Uma importante hipótese rumou para a busca de alguma relação entre latitude e distúrbios psiquiátricos sazonais. Conforme se aumenta a latitude (conforme nos afastamos da linha do Equador), os invernos são mais rigorosos, as noites invernais mais longas, e as temperaturas mais baixas. Foi daí que surgiu tal teoria.
Não obstante, grande parte dos estudos mostrou que, ou não havia relação nenhuma com a latitude, ou que esta relação era apenas discreta. O que se viu na verdade é que o que piorava os distúrbios sazonais era o clima, e não a latitude em si. Ou seja, no fundo o que influencia nosso humor é a luz solar.
Assim, não adiantava comparar um lugar onde as noites de inverno eram longas com outra localidade que vivia nublada, por exemplo. Em outras palavras, podemos dizer que a quantidade de luz solar que recebemos por dia está bastante relacionada com nosso estado de espírito.
Nosso relógio biológico funciona de acordo com dois hormônios: a melatonina e o cortisol. O cortisol apresenta um pico na hora de acordar e vai decrescendo ao longo do dia, e o inverso ocorre com a melatonina. E ambos os hormônios estão também envolvidos na fisiopatologia da depressão.
Além disso, descobriu-se nas últimas décadas que a luminosidade (e não o frio em si) influencia na secreção destes hormônios. A luz solar, por exemplo, inibe consideravelmente a secreção de cortisol e apresenta efeitos benéficos para o humor.
Além disso, atualmente há evidências robustas de que a transmissão de serotonina diminui durante o inverno. Também provavelmente por conta de menor exposição à luz solar.
Assim, viu-se que não só a "depressão sazonal" aparece no inverno, mas que outros transtornos pioram nesta época, como o alcoolismo, a ansiedade, a bulimia nervosa e o transtorno obsessivo-compulsivo, por exemplo. E pessoas normais, sem diagnóstico nenhum, também tendem a pontuar menos em escalas de humor e bem-estar durante o inverno.
Há quem diga que o inverno de São Paulo (de onde escrevo), comparado com o inverno de outras cidades, não é de nada. Mas a variação de luminosidade é bastante grande na capital. No solstício de verão (o dia mais longo da estação), que ocorre no final de dezembro, o dia dura por volta de 13 horas e meia. Já no solstício de inverno (dia mais curto da estação) a luz solar dura apenas aproximadamente 10 horas e meia.
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