Acusado de peculato, corrupção ativa e formação de quadrilha no processo do mensalão que tramita no Supremo Tribunal Federal, o ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, afirmou no domingo que, seja qual for a decisão do STF, não abandonará a política e que não se arrepende de nada do que fez, “mesmo amargando cinco anos de isolamento”. Ele participou de uma reunião no domingo à noite, na sede de um sindicato, em Recife, onde pediu o apoio da militância e tentou provar sua inocência, distribuindo cópias da sua defesa nas quais alega que até o momento não ficou provada a prática dos crimes de que é acusado.
- O STF recusou a denúncia de peculato e ninguém conseguiu provar o uso de um só centavo do governo, disse, lembrando que em 2002 “ infelizmente” era tesoureiro do PT, e foi convocado para resolver problemas financeiros do partido, como dívidas nas campanhas estaduais e levantamento de recursos para o segundo turno das eleições. Confirmou a responsabilidade pelo empréstimo de R$55 milhões junto ao Banco Rural e ao BMG, mas disse que ninguém comprovou até agora que alguém tenha “ colocado esse dinheiro no bolso” e que ele “ não serviu para pagar a políticos”, mas para débitos de campanha.
Delúbio está percorrendo o país para dar sua explicação sobre sua atuação no caso. Mas não deu entrevista. Limitou-se a conversar com cerca de 100 militantes do PT. Entre eles o ex-prefeito do Recife e deputado federal, João Paulo Lima e Silva (PT-PE) e o ex-presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores de Agricultura, Manoel Santos, que é deputado estadual pelo PT. Delúbio explicou sua presença na capital ao definir o que será o julgamento dele e dos demais envolvidos no escândalo:
- Vão ser dias e mais dias de julgamento. Vai ser um espetáculo, com todas as tvs botando a carinha da gente lá. Estou só pedindo julgamento justo, com base nos autos, não nos boatos. O fato é uma coisa. O boato é outro, justificou. Ele disse que tentou recompor a vida, mas como estava enfrentando várias ações judiciais, não conseguiu trabalho, motivo pelo qual decidiu fundar uma empresa, no caso um site de venda de imóveis. No domingo chegou ao Recife discretamente, onde disse ter feito uma reunião com homens de negócios do mercado imobiliário para aumentar a clientela. Até o próximo ano pretende abrir uma filiar de sua empresa, a Geral Imóveis, segundo disse, em Recife.
Ele esteve acompanhado do advogado e militante Luiz Eduardo Greenhalgh, que fez questão de dizer que estava em Recife às próprias custas, em solidariedade ao amigo. Informou que não é advogado de Delúbio, mas que estava em viagem em apoio ao ex-tesoureiro:
- É uma atitude de companheiro prestando solidariedade. E se não houver (a solidariedade) só a ele, como a todos os outros, todos estarão condenados no STF, disse. Explicou que Delúbio era um dos mais importantes dirigentes do partido na crise de 2005 e defendeu que o STF deixe para realizar o julgamento em ano não eleitoral, longe, portanto, do calor das discussões políticas. Lembrou que os envolvidos no processo ficaram estigmatizados, eram humilhados nas ruas e até hostilizados em restaurantes, quando saíam com suas famílias. Para o advogado, o Supremo é isento, mas como a opinião pública já está anteriormente formada com base no noticiário da imprensa,o périplo pelo país é necessário.
- O processo pode ser considerado o maior do país. São 400 volumes, mais de 400 testemunhas, 40 perícias e laudos técnicos e quase 500 mil folhas. Não nos iludamos, será o evento, a notícia, o fato. Acredito que serão no mínimo 30 dias de julgamento. O Brasil vai parar para olhar. Mas infelizmente essas pessoas já estão condenadas pela opinião pública e absolvição poderá não ocorrer em função do caráter midiático, disse.
Para o advogado, a acusação vai ser derrubada porque até agora não foram provadas as denúncias:
- Não houve dinheiro público, então o peculato é zero. Corrupção não existe e os empréstimos eram verdadeiros, segundo constam nos autos. Então, a prova acusatória sucumbiu, disse, lembrando que o processo chegou à fase final. Só falta o julgamento.
- Mas há uma profunda desinformação. É necessário que haja consciência e ciência dessa informação (dos autos, nos quais, segundo eles, as provas não se mostraram suficientes).
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