GACC - Grupo de Assistência à Criança com Câncer

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Desde o início de suas atividades, em 1996, o GACC - então Grupo de Apoio à Criança com Câncer - existe para aumentar a expectativa de vida e garantir a oferta e a qualidade global do tratamento oferecido integral e indistintamente a crianças e jovens com câncer, diagnosticados com idades entre 0 e 19 anos incompletos, independente de sexo, cor, religião ou posição socioeconômica.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011


Felipa Tavares: "É muito difícil alguém perceber que sou transexual. Na balada, muito homem vem para cima de mim"
Dia comum na praia do Leme, zona sul do Rio de Janeiro: muito sol e mar tranquilo, daqueles que só tem umas marolinhas. Mas a monotonia dura pouco. Em uma academia a céu aberto, na praia, um grupo de homens musculosos cultua suas medidas até que a modelo Felipa Tavares, 1,81m, chama a atenção da galera ao posar para fotos com um maiô cavado preto. Os marmanjos ficam alvoroçados. Tanto que nem reparam em um detalhe: a mineira, de 25 anos, nova aposta da Agência 40° de Sérgio Mattos, verdadeiro mulherão, é na verdade um menino.

A modelo transexual Felipa Tavares sonha em seguir os passos de Lea T.

Felipa é transexual. E não operada. Mas o jeito delicado e os traços femininos – de nascença, já que Felipa não fez ainda nenhum tipo de cirurgia-, permite que ela viva a vida como uma mulher qualquer. Provocando, inclusive, cantadas e cortejos por onde passa. “É muito difícil alguém perceber que sou transexual. Na balada, muito homem vêm para cima de mim. As minhas amigas, que são mulheres de verdade, até ficam meio chocadas e tristes porque chamo a atenção”, diverte-se ela.

Felipa é filha de um mecânico e de uma funcionária de cartório aposentada. Desde a adolescência, gostava de usar maquiagens, cabelo rosa, calças justas e camisetas baby look. Quando a mãe morreu, em 2004, decidiu morar com a avó e a tia evangélica em Vila da Penha, subúrbio do Rio. Trabalhou como caixa de uma boate LGBTS em Copacabana e garçonete de um restaurante especializado em carnes australianas. Até que resolveu seguir o sonho e participou do workshop de modelos do Sérgio Mattos. “Sou multiuso. Encaixo no perfil de menina, de trans e de andrógina. Acho que estou na hora certa no mercado de trabalho porque o Serginho pode brincar comigo”, afirma. “Acredito muito no potencial da Felipa”, diz Mattos. “O mundo da moda está pedindo androginia”, completa.

A modelo transexual brasileira Lea T., que conquistou as passarelas internacionais depois de desfilar para a grife francesa Givenchy, foi sua principal inspiração, claro. “Quando vi o estouro dela percebi que a hora de investir nessa carreira era agora. Se ela fez sucesso, outras também podem fazer. Não quero tomar o lugar da Lea, tem espaço para todas”, diz. Mesmo assim, Felipa alfineta a top. “Em toda reportagem ela reclama de alguma coisa. Quem dera se eu tivesse metade dos problemas dela. Ela está muito bem. Claro, a vida é difícil para todo mundo. A de transexual é mais ainda. Mas as pessoas não conseguem viver e levar para a frente?”, provoca ela, durante entrevista exclusiva ao iG.


Felipa Tavares faz parte do casting da agência 40° Graus, de Sergio Mattos

Quando você se percebeu diferente?
Felipa Tavares:
Mesmo quando era criança, sabia que estava no corpo errado. Olhava no espelho e não me via. Na escola, ficava no grupo das meninas. Quando todos queriam jogar futebol, queria brincar de Barbie. Minha mãe não entendia. Quando ela saía de casa, pegava as roupas e sapatos dela escondido. Aos 11 anos, tive certeza de que era diferente. Fiquei com aquele sentimento de revolta, sabe? Queria chocar! Usava jeans apertado, camisas baby looks, piercings. Acho que a pessoa quando não está bem com o corpo se rebela contra ele. A adolescência, com certeza, é a pior parte para uma trans.

Por quê?
Felipa Tavares:
Já é um momento confuso para qualquer um, para mim foi ainda mais. Eu cheguei a ficar com uma menina, mas não dava. Foi um pouco para agradar a minha mãe e um pouco para tentar. Porque a gente não pode falar que não gosta de algo sem experimentar. Também tinha aquela fase de se descobrir. Ela queria ficar comigo e eu topei. Mas não teve jeito.

Como começou a sua transformação?
Felipa Tavares:
Depois que a minha mãe morreu, em 2004, vim morar no Rio com a minha avó e meus tios, que são evangélicos. Cursei até o terceiro período de turismo e comecei a trabalhar em um restaurante. Lá, todos brincavam comigo e me chamavam carinhosamente de Lupita. A partir daí, resolvi que ia começar a me transformar e tomar as medidas necessárias para isso.

Quais medidas?
Felipa Tavares:
Tinha de tomar comprimidos diários, que o médico me orientou, e uma vez por mês injeção de hormônio. Além disso, tive um acompanhamento de uma psicóloga, pois é um processo que não é fácil. A mudança do corpo balançou muito a cabeça e tive até depressão.

Como foi a reação dos seus familiares?
Felipa Tavares:
Com o meu pai foi engraçado porque ele mora em Juiz de Fora e não sabia que eu tinha feito a transformação. Quando fui visitá-lo, ele não sabia o que falar. Mas depois me disse uma frase muito bonita e que nunca vou esquecer: “Sendo meu filho ou filha, vou sempre te amar”. Minha avó, com mais de 80 anos, também foi incrível falando que me aceitava.

E seus tios evangélicos?
Felipa Tavares:
Quando fui morar com eles, já foi complicado porque eles me viam como gay. Mas me respeitaram. Como moro com eles e eles são religiosos, tenho a vida de uma menina de 15 anos. Não posso usar roupa curta e, em casa, tenho de perguntar se posso ou não fazer algo. Mas não vou a nenhum lugar público com eles. É uma coisa minha.

Já fez alguma operação?
Felipa Tavares:
Nada. Nunca ganhei dinheiro suficiente para fazer a operação de mudança de sexo, que é bem cara, custa uns R$ 30 mil na Tailândia. Esse é o meu sonho. Não quero fazer nada antes disso. Não vou mexer no rosto porque quando faz o nariz, acho que entrega. É impossível ficar com nariz de boneca. Penso em colocar um pouco de silicone, mas um tamanho bem natural. Quero ser uma mulher o mais natural possível.


Felipa Tavares: "Não quero tomar o lugar de Lea T. Acho que o mercado tem espaço pra todo mundo"
 E como é o assédio masculino?
Felipa Tavares: 
É muito difícil alguém perceber que sou transexual. Na balada, muito homem vem para cima de mim. As minhas amigas, que são mulheres de verdade, até ficam meio chocadas e tristes porque chamo a atenção. Levo cantadas na rua de ficar sem graça.

Você conta para os homens que é uma transexual?
Felipa Tavares:
Depende. Quando estou numa balada e só vou dar uns beijinhos, não tem por que falar. É uma brincadeira. Mas se virar algo mais sério e começar a perceber que podemos namorar, eu falo. Se o cara gostar de mim, tem de aceitar o que sou – mesmo antes da operação. Com todos os meus namorados, todos me viram como mulher. Tenho certeza. A parte feminina toda eu faço e como também tenho traços femininos, parece que eles estão com uma mulher...

Já sofreu algum preconceito?
Felipa Tavares:
Já, mas acho que as coisas estão melhorando. Teve um dia em que estava ficando com um cara e contei para ele. Ele me disse que a única coisa que ia fazer seria parar de ficar comigo. Eu me senti mal, claro. Ele estava me abraçando e me beijando como uma menina normal. Mas eu pensei, um cara como esse também não quero. Porque para ficar comigo tem que ter a cabeça aberta, sem preconceitos.

É difícil arrumar namorados?
Felipa Tavares:
Para ser sincera, isso nunca foi um problema para mim. Estou solteira porque há sete meses terminei um relacionamento complicado. Agora, quero focar apenas na minha carreira. Não quero ficar dando satisfação a ninguém.

Sonha em casar?
Felipa Tavares:
Claro! Quero casar, com tudo que se tem direito, e ainda ter uma menina. Não sei se adotarei ou vou recorrer a uma barriga de aluguel. Mas sou romântica. Gosto de fazer cartinhas, ligar todos os dias para dizer bom dia e não ir dormir sem dizer boa noite.


Felipa Tavares: "Na adolescência, usava jeans apertado, camisas baby looks, piercings. Acho que a pessoa quando não está bem com o corpo se rebela contra ele"

Como é o seu homem ideal?
Felipa Tavares:
Tem de ter uma cabeça boa, ser romântico e carinhoso. Cozinhar, lavar e passar também é bom. Além disso, não gosto de homens que gostam de transexual. Quero que ele me veja como mulher. Alguns homens têm fantasias, mas eu não consigo fazer. Eu sou menina!

Como surgiu a carreira de modelo?
Felipa Tavares:
Eu estava trabalhando muito, ganhando até bem em uma boate, e resolvi investir o dinheiro em algo bacana. Vi na internet o workshop do Sergio Mattos e resolvi ir. Como saía do trabalho às 6 da manhã, cheguei atrasada no primeiro dia e o Serginho me deu logo uma bronca. Fiquei morrendo de vergonha. Mas acho que acabei chamando a atenção de todos porque era uma das meninas mais altas. No final da aula, ele fez a chamada e veio me perguntar por que o meu nome não estava na lista. Eu expliquei para ele que estava sim e que eu era o Felipe. Todos ficaram chocados e eu expliquei que era uma transexual, que a Lea T tinha me inspirado a seguir o meu sonho. Todos ficaram curiosos. Dei sorte porque ele estava procurando uma modelo com as minhas características.

Não tem medo de comparações com a Lea T?
Felipa Tavares:
Não quero tomar o lugar dela. Acho que o mercado tem espaço pra todo mundo. Assistia aos desfiles da Victoria’s Secret e queria estar ali. Sempre quis ser modelo, mas antes da Lea era algo impossível.

Qual é a primeira coisa que pretende fazer após fazer a operação de troca de sexo?
Felipa Tavares:
Preciso dizer? (risos)

O que acha de algumas transexuais falarem que não é possível sentir prazer após a operação?
Felipa Tavares:
A questão do prazer é muito relativa. Para mim sexo é o conjunto. Tem as preliminares, beijo, o clima.... Não é só encaixar. Tanto que quando operar quero uma pessoa especial. Como se fosse a primeira vez...um príncipe.

Mas a Lea T, sua principal inspiração, disse que mesmo depois da operação nunca vai se sentir completamente mulher...
Felipa Tavares:
Toda reportagem ela reclama de alguma coisa. Quem dera se eu tivesse metade dos problemas dela. Ela esta muito bem. Claro, a vida é difícil para todo mundo. A de transexual é mais ainda. Mas todo mundo não consegue viver e levar para a frente?E não entendo também o pensamento de operar e não se sentir mulher. Eu já me sinto mulher! Com a operação, vou estar 100%. Hoje estou 98% (risos). Eu não sou feliz ainda. Tô correndo em busca da minha felicidade. Mas ela vai vir.

Quais são os seus sonhos?
Felipa Tavares:
Quero trabalhar muito e, quem sabe, desfilar lá fora. Vou também começar a fazer aulas de interpretação. Mas tenho muita vontade de participar de um reality show porque adoro.
A modelo Felipa Tavares fez ensaio exclusivo para o iG na praia do Leme, no Rio de Janeiro

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