Senador licenciado do PRB critica "ingratidão" de Sérgio Cabral
A crise entre PT e PMDB, agravada pelas declarações do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, nesta semana, provoca um quebra-cabeça no cenário eleitoral do Rio de Janeiro em 2014. Enquanto o PT cogita lançar o senador Lindbergh Farias, o PMDB não abre mão de ter na corrida pelo governo do Estado o atual vice-governador, Luiz Fernando Pezão. Como o PT vem se mexendo para emplacar Lindbergh, Cabral ameaça romper com Dilma o que pode comprometer apoio de parte do PMDB à campanha dela à reeleição.
Apontado como forte candidato ao governo do Rio, o ministro da Pesca e Aquicultura, Marcelo Crivella, criticou a postura de Cabral de ameaçar romper com Dilma e de até comprometer a campanha presidencial da petista. Em entrevista ao Blog do Guilherme Araújo, o senador licenciado pelo PRB lamenta a manobra do PMDB para afundar a candidatura do PT ao governo do Rio.
Obrigar o partido da presidente [PT] a adiar pela segunda vez o direito de disputar o governo do Estado seria, para dizer o mínimo, um Himalaia de ingratidão e uma Baía de Guanabara de presunção.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista:
O senhor recebeu quase 3,5 milhões de votos do povo fluminense na última eleição ao Senado concorrendo por um pequeno partido, sem tempo de televisão e poucos recursos de campanha, e ainda assim conseguiu derrotar o candidato da máquina do Estado, do PMDB. As pesquisas o apontam como um forte candidato ao governo do Rio em 2014. Como viu as declarações do governador Sérgio Cabral de que vai romper com a presidente Dilma e apoiar Aécio se o PT insistir na candidatura do senador Lindbergh ao governo do Rio?
Marcelo Crivella: Não estive com o Cabral e não ouvi sua fala. Mas, se realmente exigiu a capitulação incondicional da candidatura do PT, é uma agressão à democracia que pressupõe a disputa de partidos e a possibilidade da alternância do poder. Passa também que o PMDB tá com medo de perder. Mas o pior é por em dúvida o apoio à presidenta Dilma. Nós do Rio devemos muito ao governo Lula e Dilma: a construção da base naval e do primeiro submarino nuclear em Sepetiba, a maior refinaria de petróleo do País e um polo petroquímico em Itaboraí, a Rodovia do Contorno com dezenas de pontes, a terceira usina nuclear em Angra e a modernização da indústria naval. Todos esses projetos, somados aos demais programas do governo Federal, à Copa do Mundo e às Olimpíadas, ultrapassam 300 bilhões de dólares na economia fluminense. Isso tudo são majoritariamente investimentos federais. Obrigar o partido da presidente a adiar pela segunda vez o direito de disputar o governo do Estado seria, para dizer o mínimo, um Himalaia de ingratidão e uma Baía de Guanabara de presunção.
O senhor vai apoiar a candidatura de Lindberg ao governo?
Eu vou é apoiar o Rio. Assim como defendo o PT disputar a eleição, defendo que o PRB e os demais partidos possam também apresentar seus planos ao povo. Isso é o melhor para a democracia e é o melhor para o Rio. Se não for o escolhido, apoiarei num eventual segundo turno aquele que melhor represente a união do Rio com o vitorioso governo da presidente Dilma. Lembro que ela, entre tantas coisas, teve a coragem de enfrentar os que queriam perpetuar no Brasil o paraíso da usura, reduzindo as mais altas taxas de juros do mundo que tiravam suor, as lágrimas e até o sangue do trabalhador brasileiro. E não se deu por satisfeita. Mostrou ao Brasil que detentores de concessões de obras públicas, erguidas com esforço de todos, cobravam tarifas abusivas e as fez baixar. Ora, uma dama tão ilustre que mantém a inflação sob controle e a economia gerando empregos enquanto o mundo em crise mergulha desarvorado na hecatombe da recessão não merece ser chantageada. Pelo contrário, precisamos lhe garantir o apoio necessário.
Como o senhor acha que vai ficar a relação do governo Cabral com o presidente Lula?
No plano pessoal, considero irreversível a admiração mútua. Faço votos de que não ocorra entra eles o que no passado ocorreu entre Cabral e Marcelo Alencar e depois Cabral e Garotinho. Na vida há dois tipos de amigo: o das boas horas e o de todas as horas. O amigo de todas as horas não pensa só nele mas no que é melhor para todos. E o melhor para todos é que haja uma disputa republicana, democrática, aberta, e de preferência para os que tem a índole de servir ao povo com idealismo e renúncia. E que vença a melhor proposta. Espero também que não se coloquem em risco os projetos federais em andamento no Estado que nos redimem de anos de atraso, razão maior da crise de violência em que nos contorcemos. Nossa gente sofrida e valente na sua imensa maioria, trabalhadora, humilde e modesta não merece isso.