O ex-ministro dos Negócios Estrangeiros Luís Amado disse hoje que Portugal está preso "numa armadilha terrível" que exige dos "atores políticos mais responsabilidade e mais empenho", considerando "muito perigosa a instabilidade que domina" a política europeia.
"Estamos presos numa armadilha terrível. É que façamos o que fizermos não temos ainda a garantia de que os passos que estamos a dar são passos que nos levam para o paraíso e não para o inferno. E é essa ambiguidade do nosso destino colectivo [como europeus] que torna o problema português ainda mais sério e dramático e, por isso, deve exigir dos atores políticos mais responsabilidade e mais empenho", disse.
Luís Amado considerou ainda "muito perigosa a situação de grande instabilidade, incerteza e insegurança" que domina o processo político europeu.
"A Europa tem um enorme problema político, uma disfunção terrível que tem que resolver e nos estamos presos a essa incerteza", acrescentou.
Considerando que a Europa está hoje mais estável do que há um ano "do ponto de vista dos objectivos que definiu", Luís Amado afirmou que não existe ainda "a absoluta garantia e certeza de que o percurso dos próximos anos será vivido sem grandes sobressaltos e conflitos".
O antigo ministro, que falava hoje em Lisboa num encontro sobre oportunidades de expansão do triângulo América Latina - Europa - África, destacou "as âncoras de relacionamento" de Portugal nestes espaços, mas advertiu que Portugal tem que resolver primeiro o problema europeu para poder potenciar plenamente essas vantagens.
"[Portugal] tem que resolver o problema europeu na medida em que for [possível] também a resolução do problema europeu, porque mesmo que façamos o que tivermos que fazer para o ajustamento que nos é exigido estamos sempre condicionados pelo destino do ajustamento europeu", sublinhou.
Amado estimou que o debate em termos da permanência na moeda única europeia "vai tornar-se mais conflituoso ao longo dos próximos meses" e garantiu que se não for encontrada "uma plataforma de consenso" em relação ao destino de Portugal na Europa, o país não terá "destino no mundo".
"Temos de o perceber colectivamente. Os principais partidos que representam e procuram enquadrar as aspirações e expectativas do povo português têm que ser capazes de interpretar os sentimentos e as oportunidades que se nos oferecem e os riscos que corremos em função das opções que assumimos colectivamente", disse.
Amado lembrou que a responsabilidade de "encontrar um rumo estável e seguro" é de todos os povos europeus.
"Foi colectivamente que nos metemos neste grande buraco e que é dele colectivamente que temos que sair", disse.