O tenente-coronel da PM Cláudio Oliveira, exonerado do comando do 22º BPM (Maré) e preso nesta terça-feira (27) depois que uma testemunha o apontou como mandante do assassinato da juíza Patricia Acioli, também foi acusado de chefiar um esquema de corrupção pelo qual ele e os agentes do GAT (Grupamento de Ações Táticas do 7º BPM) receberam dinheiro dos traficantes de drogas de São Gonçalo, município da região metropolitana do Rio de Janeiro.
Segundo o depoimento do cabo Sérgio Costa Junior, que participou da execução do crime na noite de 11 de agosto último, o tenente-coronel - que comandava o 7º BPM na época da morte da magistrada - era o responsável por distribuir o popular “arrego do tráfico” (espécie de taxa paga pelos criminosos). O depoimento do PM ocorreu na 3ª Vara Criminal de Niterói na última segunda-feira (26).
Além de receber dinheiro diretamente do crime organizado, o ex-comandante do 7º BPM também é acusado de se apropriar dos bens e materiais (a exemplo de armas, aparelhos eletrônicos e até drogas) apreendidos durante operações do GAT nas favelas de São Gonçalo. O policial militar que revelou o esquema de corrupção fez uso do direito à delação premiada (redução da pena em troca de informações).
De acordo com o depoimento do cabo, Oliveira recebera informações de que Patricia Acioli poderia expedir uma ordem de prisão contra ele a qualquer momento, o que acabou motivando o crime. A informação de que o ex-comandante do 7º BPM estava envolvido com corrupção policial e assassinatos foi confirmada pelo delegado da Divisão de Homicídios, Felipe Ettore.
“A juíza Patrícia estava no encalço do coronel Cláudio. Há indícios de que ela gostaria de prendê-lo, e ele acabou lançando mão desse artifício para impedir isso. Nós concluímos que ele encomendou aos subordinados o assassinato da juíza para evitar uma ordem de prisão que sairia mais cedo ou mais tarde”, disse Ettore.
O PM Sérgio Costa Junior revelou ainda que o grupo já tinha planejado duas tentativas de assassinato da magistrada. Em uma delas, Patrícia não compareceu à 4ª Vara Criminal de São Gonçalo, da qual era titular, por ter participado da reconstituição de um crime. Antes disso, um policial militar foi designado para monitorar o horário de saída da juíza no fórum e informar aos assassinos, mas acabou dormindo durante a tocaia.
Na segunda-feira (26), após o depoimento do cabo, o juiz Peterson Barroso Simões, da 3ª Vara Criminal de Niterói, expediu ordens de prisão temporária (15 dias) contra Cláudio Oliveira e outros seis policiais supostamente envolvidos no crime - apenas um não foi localizado. Por determinação judicial, todos foram encaminhados para o presídio Bangu 8, no complexo penitenciário de Gericinó, zona oeste do Rio.
Entenda o caso
Cláudio Oliveira foi detido e exonerado do cargo que ocupava atualmente - o comando do 22º BPM (Maré) - depois que a 3ª Vara Criminal de Niterói expediu o mandado de prisão na noite de segunda-feira (26). O tenente-coronel da PM esteve ontem na Divisão de Homicídios para prestar depoimento, mas disse que só falará depois que o seu advogado tomar conhecimento dos autos. Ao chegar ao local, ele negou envolvimento no crime.
A Justiça expediu ordens de prisão contra outros seis PMs acusados de participação no assassinato da magistrada, dos quais cinco estão lotados no GAT (Grupamento de Ações Táticas) do 7º BPM e são acusados pelo assassinato de Diego Beliene, 18. O jovem foi morto no Morro do Salgueiro, em São Gonçalo, município da região metropolitana do Estado, em um caso de falso auto de resistência. O sexto PM, lotado no 12º BPM (Niterói), ainda não foi localizado.
O assassinato de Diego Beliene - ocorrido em junho de 2010 - era investigado pela juíza Patricia Acioli, ex-titular da 4ª Vara Criminal de São Gonçalo, que algumas horas antes de morrer expediu três mandados de prisão contra o tenente Daniel Benitez Lopez e os cabos Jefferson de Araújo Miranda e Sérgio Costa Junior (que também eram comandados por Cláudio Oliveira no 7º BPM).
A investigação da Divisão de Homicídios apontou que os três foram os responsáveis pelos 21 disparos que mataram a magistrada. Eles estão presos em unidades diferentes da Polícia Civil após serem transferidos, na semana passada, da Unidade Prisional da PM, em Benfica, na zona norte.
Cláudio Luiz de Oliveira está na Polícia Militar do Rio há 26 anos e já foi membro da divisão de elite da corporação, o Batalhão de Operações Especiais. Além do 7º BPM e do Bope, o tenente-coronel já passou pelo 16º BPM (Olaria) e 9º BPM (Rocha Miranda).