GACC - Grupo de Assistência à Criança com Câncer

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Desde o início de suas atividades, em 1996, o GACC - então Grupo de Apoio à Criança com Câncer - existe para aumentar a expectativa de vida e garantir a oferta e a qualidade global do tratamento oferecido integral e indistintamente a crianças e jovens com câncer, diagnosticados com idades entre 0 e 19 anos incompletos, independente de sexo, cor, religião ou posição socioeconômica.

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Sem mágoa, Joel cita peso da camisa e torce para Vasco continuar na elite Há dez meses desempregado, treinador não guarda ressentimentos da saída de São Januário e acredita em permanência na Série A do Campeonato Brasileiro


O telefone não parava de tocar. Foi assim durante toda a entrevista, perdemos a conta. Foi um pedido de Joel antes da entrevista para deixar o celular ligado. Ele quer voltar a comandar um grande clube do futebol brasileiro, não quer perder a oportunidade de um convite. Mas não qualquer convite, um atraente, um que esteja à altura de seu currículo, deixa bem claro. A conversa foi num restaurante, um de seus preferidos, em Copacabana, Zona Sul do Rio. A hora era do almoço e a fome de voltar aos gramados é grande.
E foi em meio a fome que todo o longo papo se desenrolou, sem aquele mau humor que nos assola quando estamos em jejum à espera da principal refeição do dia, pelo contrário, resenha pura, como falam os boleiros. Mas engana-se aquele que acha que nada tira o sorriso frouxo de Joel Santana. As duras críticas ao seu trabalho e aqueles que o ridicularizam (palavra usada pelo próprio), principalmente por causa do inglês, embrulham o seu estômago.
Mas se tem mais uma coisa que Papai Joel provou e não digeriu bem foi "atender o DDI" para comandar a seleção da África do Sul e, por consequência, ter de deixar o Flamengo, no dia 7 de maio de 2008 - dia em que Cabañas virou pesadelo dos rubro-negros. O arrependido Natalino tem a convicção que comeria o melhor prato de sua carreira: seria campeão da América com o Fla.

Leia a íntegra e assista ao vídeo de trechos da entrevista de Joel Santana abaixo:

Joel, você está passando um ano em branco pela primeira vez desde que começou sua carreira de técnico.  Vimos que o telefone não para. Mas toca para convites?
Convites sempre chegam. Para ser técnico, conselheiro, supervisor... Mas nem sempre é aquilo que eu quero. Você chega a um certo momento da vida que quem responde não é o Joel Santana é o meu currículo. Lógico que o mercado mudou, tenho que acompanhá-lo, mas eu tenho um preço. Também possuo minha maneira de ser e trabalhar. Se não for aquilo, não tem jeito. Mas hoje não é negócio contratar o Joel Santana.


Porque não é interessante contratar Joel Santana?
Porque sou um técnico que vou rebater. As pessoas criam situações sem conhecer profundamente um profissional. Quantos treinadores ganharam oito títulos cariocas? Foi ganho por acaso? Foi com bandeirinha? E foi com times diferentes, hein?


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Falam muita besteira de você?
Amigos, se não quiserem falar bem, não venham querer me desmoralizar. Pode me criticar, pode achar que escalei errado... O cara nunca viu um treino meu, pode achar que estou ultrapassado, mas não venha querer me ridicularizar. Sou um cara de mais de 60 anos, viajei o mundo, sou formado ali na UFRJ. Aí vem um camarada querer me esculachar? Nunca vi na vida e nunca viu nada meu. Não vou acertar sempre.


É, isso realmente te incomoda...
As pessoas que falam certo, eu cumprimento, tenho muitos amigos na imprensa. O que me incomoda é quando falam besteira, quando a pessoa não sabe nada. Se der uma bola, não dá três embaixadas. Amigo, se você nunca mexeu em carro, como você vai ser mecânico? Ah, leu no livro? Vai lá mexer...


Vamos falar de Brasileirão agora. Acredita na permanência do Vasco na Série A?
Ano passado o Vasco estava numa situação parecida, tinha tomado de cinco do Avaí em casa. Eu conheço o Vasco, como conheço o Flamengo, Botafogo e Fluminense. Sou carioca, conheço da rouparia à presidência do clube. Na época, eu sabia dos problemas e conseguimos virar a situação. Acho que tem chance, quando matematicamente é possível, eu acredito. É um clube que tem torcida, camisa, jogadores e profissionais experientes, não podemos desprezar isso.

   
Joel também tem fé na permanência do Vasco na Série A do Brasileirão

Ficou chateado de não ter continuado no Vasco para temporada 2015?
Infelizmente não fiquei lá, mas o problema não é meu, é da diretoria. Acabou, morreu. Sem ressentimento, sem mágoa, não existe isso.


Como você vê o futebol carioca de maneira geral? O Vasco passando aperto, o Botafogo voltando para elite...
Não gostaria que o Vasco caísse, isso é ruim para nós do futebol. Não que seja a morte. E a sorte está rondando pelo Botafogo, hein? Está bem encaminhado. Tem que ter os quatro lá em cima para brigar com São Paulo. Se Santa Catarina pode colocar três ou quatro, por que não podemos colocar? Estou sofrendo como torcedor. Tem que torcer para Flamengo e Fluminense chegarem à Libertadores também. São times grandes, times que fazem nossa história, pô! Mas muita coisa ainda tem que mudar.


O que tem que mudar, Joel?
O problema do futebol brasileiro é o próprio futebol brasileiro. Não tem essa de copiar lá fora, tirar foto com Mourinho, tirar foto com não sei quem. Ninguém vai se reciclar em uma semana, cara. Isso é uma mentira danada. É um tempo muito curto. Tem que ficar no mínimo seis meses lá fora, fazer um curso e ver o que está acontecendo. O que não deve ser nada de mais, é só cultura diferente de futebol.


Não acontece nada de mais lá fora?
Antigamente, quando o Brasil ficou 24 anos sem ganhar uma Copa, era porque o nosso problema era a preparação física. Quando resolvemos isso, igualamos a eles. Não tem nada diferente, os métodos são iguais.


Então tem muita coisa errada no Brasil?
Quem respeita quem aqui? Aqui tem que valer o quanto pesa. No Brasil você tem que ser debochado, botar um apelido. Ê, botou apelido, ê, legal... Uma vez fui trabalhar num lugar e o cara deu o maior azar. Fez uma musiquinha e deu de cara comigo na televisão. Pô, meu amigo, você faz música ou comenta futebol? Qual é sua área? Temos que separar programa humorístico de futebol.


É difícil trabalhar com medalhão?
Nada, é muito mais fácil. Diz um cara aí que eu não trabalhei. Trabalhei com todo mundo que está aí, de norte ao sul deste país. A gente vai no olho no olho e falamos o que a gente quer. Vocês já viram o Romário fazer média com alguém? Ele é igual a mim, é falador. E sempre fala a verdade. Tem Renato Gaúcho, Viola, Sávio, Pedrinho... Ih, tem tantos...



Joel Santana queria seguir com o Flamengo na Libertadores-2008 
   

Tem algum jogador que você trabalhou durante toda sua carreira que te chamou atenção?
Tive um jogador, que eu quero que fique gravado, que se chama Fábio Luciano. Eu não precisava falar nada.


Você se arrepende de alguma decisão durante todos estes anos como técnico?
Quer saber? Eu me arrependo de ter saído do Flamengo e ter ido para África do Sul. Tenho certeza que íamos ser campeões da Libertadores. Me arrependo muito! O grupo fechou comigo. Quando vinham ponderar alguma coisa, eles falavam o que queriam e eu também falava o que queria. E o Fábio Luciano batia o martelo para mim.


Aquela eliminação para o América do México no Maracanã ainda martela na sua cabeça?
Ih, que nada! Amigos, se martelasse cada jogo que perdi, iria enlouquecer. Vou pensar também no título que perdi com o gol de falta do Pet? Eu tenho que festejar os 200 títulos que eu tenho, pô! Coisa ruim eu já chorei no dia do enterro e pronto. Foi embora.


Já trabalhou com Ronaldinho, né? Como foi o convívio?
Legal, normal, natural. Nenhum tipo de problema. 


   
Ronaldinho foi um dos craques que Joel teve oportunidade de treinar

Você trabalhou no exterior. Como são os jogadores lá? São como aqui no Brasil?
O jogadores lá fora são iguais ou piores aos daqui. Mentirosos para caramba. Matam uma pessoa todo dia e chegam atrasado. A mulher fica grávida duas vezes em menos de um ano. Tá de sacanagem, né? Eles esquecem, anoto tudo na minha prancheta. Ela serve para isso.


A imagem de "Papai Joel" te atrapalha?
Vocês gostavam de apanhar ou ser aconchegado pelo seus pais? O que adianta bater nas pessoas? Isso não leva a lugar nenhum. Eles vão sempre ter o meu carinho quando precisarem. Não batam nos meus jogadores, falem comigo. Deixem eles quietos.


Você tem muitos filhos por aí...
Pois é, mais do que apanhou o Toró? Até hoje ele me liga. "Papai, estou com saudade", "Papai, é isso, é aquilo". E vários outros que eu escalava e nego me batia. E eu acabava campeão com o jogador. Márcio Costa no Fluminense (tirei ele do Bonsucesso), Fahel no Botafogo (é homem, firme, um cara que te ajuda). Essa é a panela boa.


No futebol existe panela?
Tem. Panela é quando os jogadores estão e ao mesmo tempo não estão ao seu lado. Aqueles que te aceitam, mas te derrubam.


Então jogador derruba treinador?
Essa perguntinha é para o Papai Noel? Ah, para com isso, né? Passa para próxima (risos).


E desafeto? Alguém já pisou no calo do Papai?
Ah, devo ter. Cristo, que foi Cristo, penduraram ele. O cara foi lá, beijou e cuspiu. Não vão fazer isso com o Papai Joel? Mas da minha parte não tem nada, não guardo rancor. Sabe o que eu faço quando não quero ver alguma coisa? Vou lá no meu laptop e deleto: "Tuff, tchau!"


E seu futuro, Joel? Sabemos que você está flertando com a política e até para ser comentarista de futebol...
Sobre a política primeiro. Eu atingi um nível de popularidade muito grande. Tiro várias fotos nas ruas, fazem questão de dizer "Fala, Joel"... Eu não sei se isso é simpatia, não sei se isso é gostar de mim, não sei o que é. Uma pessoa muito importante levantou essa situação de entrar para política. Mas esse lance de política é tão complicado. Fico pensando se devo sair da minha vida tranquila para futuramente levantarem alguma suspeita sobre mim. Eu vivo com que eu tenho. Moro num apartamento simples, meu carro é 2010... Sobre ser comentarista de futebol, é meu ramo. Mas eu seria diferente. Vou dizer coisa que não escuto aí. Não vou comentar resultado, e sim, com a razão do jogo.



Romário e Joel sempre se deram bem dentro e fora dos gramados
   
Foi o Romário que te ligou para falar sobre política?
Aí é outra história (risos). Passa para próxima pergunta.


Vocês dois se dão bem, né?
A hora que eu ligar para ele, a gente almoça junto, isso há vários anos. Na época que ele jogava na Holanda, a gente almoçava em São Cristóvão. Aí ele brinca comigo, eu brinco com ele. Mas daquele tamanho ele não vai querer encarnar em mim, né? (risos)


Os problemas de saúde ainda te atrapalham?
Eu estava empurrando muito as coisas com a barriga. Aproveitei para fazer cirurgias. Primeiro tratei do meu antigo incômodo na perna. Começou na esquerda, depois a direita começou a chiar e aí fiz a outra há três meses. Aí veio a catarata de um olho, depois do outro. Aproveitei para colocar pneu e farol novo, o carro já estava precisando.


Então o carro está zero. Pronto para assumir um clube?
Estou prontinho, assumo ontem. Fiz isso a vida toda.

A
s brincadeiras com inglês são comuns nas suas entrevistas. Sentiu um alívio hoje?
Do you have a dollar? (laughs)

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