Com base nos documentos apreendidos com a facção criminosa durante os três anos e meio de investigação, o Ministério Público Estadual (MPE) montou o organograma da facção e obteve o "censo" do Primeiro Comando da Capital (PCC), feito pelo setor da organização denominado Sintonia Geral dos Outros Estados.
Por meio do censo foi possível verificar que os dois Estados, além de São Paulo, onde a facção tem o maior número de adeptos são Paraná e Mato Grosso do Sul. No primeiro, o PCC tem 626 integrantes, dos quais 545 estão detidos - destes, 20 são originários de São Paulo.
A forte presença da facção no Paraná tem dois motivos principais. O primeiro é histórico. Nos anos 1990, seis integrantes da cúpula da facção, entre eles José Márcio Felício, o Geleião, um de seus fundadores, foram enviados pela Administração Penitenciária de São Paulo para o Estado vizinho em uma tentativa de desarticular o bando.
Em vez disso, os criminosos fundaram ali o Primeiro Comando do Paraná (PCP) e passaram a dominar o sistema prisional do Estado, liderando rebeliões e fugas. Além do enraizamento nas cadeias, o outro motivo para a forte presença da facção é o fato de o Estado servir de rota para o tráfico de drogas.
Logo ao lado, no Paraguai, está baseado um dos maiores fornecedores de cocaína para a organização: trata-se de Carlos Antonio Caballero, o Capilo. Foi com Capilo em 2008 que o PCC firmou seu primeiro acordo com um traficante internacional. O diário de Wagner Roberto Raposo Olzon, o Fusca, foi apreendido naquele ano pela Polícia Federal e revelou os detalhes do acerto para o envio de drogas do Paraguai e da Bolívia para a facção paulista.
Em 25 de maio de 2010, no começo da investigação - arquitetada pelo então secretário da Segurança Pública, Antonio Ferreira Pinto -, o acusado Samuel Augustino Roque, o Tio Pec, recebeu um telefonema no qual lhe foi passada uma ordem da Sintonia Final Geral do PCC, a cúpula da facção. O "salve" dizia que a facção não devia se preocupar apenas em dominar o crime organizado na faixa de fronteira do Paraguai, mas todo o país por meio do "fortalecimento do PCC, da conscientização de companheiros e outros criminosos".
Depois de São Paulo e Paraná, o Estado que concentra a maior quantidade de membros da facção é o Mato Grosso do Sul. Ali o bando mantém 558 integrantes, dos quais 469 estão em penitenciárias e 89 são foragidos. O Estado ocupa essa posição na geografia do PCC em razão de sua importância como rota de passagem da droga que vem do Paraguai e da Bolívia para o Estado de São Paulo.
Dominando o Estado, o PCC consegue tornar o território em uma área hostil para as facções rivais paulistas ou para outros grupos organizados que tentem desafiar seu poder. Esse seria o caso de bandos como o Comando Revolucionário Brasileiro da Criminalidade (CRBC).
Estrutura. As interceptações telefônicas reuniram milhares de áudios nos quais os integrantes da Sintonia Final Geral do PCC negociam a compra de fuzis, pistolas e drogas para a facção. Em um telefonema, por exemplo, flagrado em 17 de outubro de 2010, Roberto Soriano, o Tiriça, conversa com Tio Pec e faz as contas: só em sua reserva de armas a facção tinha naquele dia 55 fuzis, 3 metralhadoras calibre .30, 100 pistolas e 15 carabinas. No fim do ano, a facção teria alçado a marca de uma centena de fuzis - a meta era atingir um total de mil fuzis e usar o Rio como território para treinamento de tiro.
Para evitar a ação das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), a cúpula do PCC decidiu descentralizar o paiol do grupo. Cada seção da facção devia manter cinco fuzis e uma quantidade um pouco maior de pistolas. Também devia ter em cada região uma casa com um "mineral" enterrado - a reserva de R$ 1 milhão usado para compras de emergência do grupo.
Todas as decisões estratégicas da facção são tomadas pela Sintonia Final Geral. Composta por Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, e outros sete criminosos, os bandidos têm um grupo de suplentes. Trata-se do Apoio da Sintonia Final Geral, formado por nove bandidos, entre eles o sequestrador Paulo Cézar Souza Nascimento Júnior, o Paulinho Neblina.
Foi Neblina quem substituiu Tiriça, o único integrante da Sintonia Final Geral que não está detido na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau.
Tiriça foi mandado em novembro de 2012 para a Penitenciária Federal de Porto Velho, em Rondônia, depois de ter sido flagrado ordenando ataques a policiais militares no Estado de São Paulo. Os criminosos alegavam que os atentados eram retaliações por causa de supostas execuções praticadas pela Rota contra integrantes do PCC. Ao todo, 104 PMs foram assassinados em 2012.
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