Acusado de lavagem de dinheiro e evasão de divisas, o publicitário Duda Mendonça assumiu publicamente que recebeu recursos no exterior do mensalão, mas, no Supremo Tribunal Federal (STF), não deu explicações sobre o que fez com os R$ 10,8 milhões depositados pelo chamado valerioduto. Depois do alarde que promoveu na CPI dos Correios, quando revelou que montou a empresa Dusseldorf, nas Bahamas, um paraíso fiscal, para receber dinheiro enviado por Marcos Valério, Duda passou a adotar uma estratégia de defesa tentando se livrar dos crimes pelos quais responde e também de um eventual processo por sonegação fiscal.
Esse último, o publicitário cuidou de enfrentar ainda em 2006. Pagou R$ 4,3 milhões à Receita Federal por não ter declarado o recebimento dos recursos no seu Imposto de Renda. E depois fugiu do assunto. Ao ser oficialmente interrogado sobre o tema, em janeiro de 2008, já na qualidade de réu do mensalão, afirmou que “os recursos depositados na conta Dusseldorf não voltaram ao Brasil”.
Três anos antes, ainda na fase policial da investigação, Duda dissera que, encerrados os depósitos na Dusselforf, ainda em novembro de 2003, passou a utilizar o dinheiro, mas não sabia explicar como, nem onde gastou a bolada. Laudo pericial comprovou que os US$ 3,6 milhões (R$ 10,8 milhões na época) que a conta da Dusseldorf recebeu entre fevereiro de 2003 e janeiro de 2004 não permaneceram na conta. O saldo final encontrado foi de apenas US$ 175,10.
Cruzando dados de outras investigações sobre remessa ilegal de recursos ao exterior, arquivos do Banestado e documentos remetidos pelo governo americano com autorização judicial, os peritos destrincharam o fluxo do dinheiro.
Segundo eles, as remessas foram feitas por doleiros e empresas registradas em paraísos fiscais que operavam junto ao Bank Boston e ao Banco Rural. Cada remessa costumava usar contas diferentes. Na lista estão nomes como Deal Financial, SM Import, SM Comex, GD International, Kanton, Radial Enterprise, Banco Rural Europa e Trade Link Bank. Os dois últimos, segundo a perícia oficial, eram operados pelo Banco Rural brasileiro, que nega envolvimento. O dinheiro que entrou na Dusseldorf de Duda Mendonça saiu para contas operadas no Bank Boston International, no Chase Manhattan e no Credit Suisse First Boston. Mas as investigações não comprovaram que tenha voltado para o Brasil.
Além de não dar explicações sobre o que fez com o dinheiro, Duda Mendonça não quis admitir o que o Ministério Público comprovou: a Dusseldorf não foi sua única conta no exterior. Indagado na fase judicial se já teve outras contas, invocou o direito de ficar em silêncio. Em janeiro de 2006, o Ministério Público recebeu um ofício do Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos informando da existência de três contas em nome de José Eduardo Cavalcanti Mendonça: Dusseldorf Company 10012977; Jose Eduardo Mendonça 61122642; e Pirulito Company 10017249.
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