CAIRO - Num país em que a média de idade da população é de 25 anos, imaginar que a Irmandade Muçulmana seja formada apenas pelas autoridades religiosas mais idosas que visitam a Praça Tahrir para as preces diárias já esbarraria num problema estatístico.
E por maior que seja o apelo do grupo político-religioso junto aos mais de 30 milhões de egípcios vivendo abaixo da linha da pobreza, sua popularidade também chega à mesma classe média que se diz tão assustada com a ascensão do islamismo no Egito pós-Hosni Mubarak.
Obama vê progresso político no Egito
Saiba mais sobre a Irmandade Muçulmana
EUA temem posicionamento anti-Israel da Irmandade Muçulmana
No centro dos protestos contra os 30 anos de ditadura estão profissionais liberais e mesmo pequenos e médios empresários ligados à Irmandade Muçulmana.
Contribuem para o esforço de resistência dos manifestantes, que vêm comovendo o mundo e colocando o governo em xeque: tanto pela coordenação da linha de suprimentos que vem possibilitando a permanência de milhares de pessoas na praça quanto pelo trabalho de relações públicas junto aos jornalistas ocidentais.
Imagem externa do grupo preocupa a ala jovemMas essa face oculta daquele que é o movimento mais organizado da sociedade civil também tem ambições políticas. Enquanto a ajuda a carregar caixas com comida e cobertores para os manifestantes, Ahmed Nassar, um veterinário de 25 anos, há sete dias acampado na praça, debate política com os outros voluntários e se sente tentado a pensar numa candidatura.
- A Irmandade é unida, mas os integrantes jovens também querem ter voz. Não se trata de divergências. Precisamos do maior diálogo possível com a sociedade num momento em que também é necessário construir instituições depois de décadas de imposições - explica Nassar.
Acima de tudo, Nassar e outros integrantes mais jovens do grupo sentem-se responsáveis por uma mudança de imagem nas percepções sobre a Irmandade, especialmente fora do Egito. Desde o início dos violentos protestos, há duas semanas, nenhuma discussão sobre o futuro do país deixou de passar pelo argumento de que a ascensão do bloco islâmico poderia resultar no fim do pacto secular que hoje deixa o país mais perto da modernidade turca que da teocracia iraniana:
- Fala-se muita bobagem sobre o Islã. Somos contra a violência e nossa ideia para o Egito envolve democracia e tolerância. Mais grave do que acharmos que a religião pode andar junto com a política é o fato de hoje a Irmandade Muçulmana ainda ser impedida de expressar suas visões. Não é democrático sermos excluídos do processo.
"O mais importante agora é chegar à democracia"
O veterinário lembra ainda que, nas últimas eleições parlamentares, boicotadas por diversos partidos, candidatos ligados à Irmandade, banida de participação oficial, conquistaram apenas 20% dos votos. Mesmo a liberação, nos seus cálculos, não seria suficiente para um assalto do grupo ao Parlamento. Sem falar que, a julgar tanto por lideranças formais quanto pelo discurso de integrantes mais corriqueiros, a Irmandade parece muito mais interessada em se livrar de Mubarak.
- O mais importante agora é pensar em como garantir a chegada da democracia ao Egito. Mesmo que isso signifique abrir mão de candidaturas em favor de outros partidos. Inclusive a minha - diz o jovem.
O Blog do Guilherme Araújo é um canal de jornalismo especializado em politicas publicas e sociais, negócios, turismo e empreendedorismo, educação, cultura. Guilherme Araújo, CEO jornalismo investigativo - (MTB nº 79157/SP), ativista politico, palestrante, consultor de negócios e politicas publicas, mediador de conflitos de médio e alto risco, membro titular da ABI - Associação Brasileira de Imprensa.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário