A cúpula do PSDB ameaça expulsar o deputado federal Aécio Neves (MG) se ele não pedir afastamento do partido. A pressão pelo desligamento de Aécio se intensificou depois que ele virou réu pela segunda vez, na semana passada, acusado de receber propina de R$ 2 milhões do grupo J&F e tentar obstruir investigação da Lava Jato.
A maior cobrança está sendo feita pelo PSDB de São Paulo, já que o partido prevê, no curto prazo, o desgaste provocado pelo caso Aécio na campanha à reeleição do prefeito Bruno Covas. Aliados de Aécio afirmam que não há hipótese de o parlamentar mineiro se afastar ou pedir a desfiliação da legenda neste momento. Há, porém, um grupo próximo ao deputado que tenta convencê-lo a se licenciar.
O movimento que pede o afastamento de Aécio parte de dirigentes do PSDB próximos ao governador de São Paulo, João Doria, e ao presidente da legenda, Bruno Araújo. Doria é pré-candidato à sucessão do presidente Jair Bolsonaro, em 2022. Na quinta-feira passada, o diretório paulistano do partido, presidido por Fernando Alfredo, um dos aliados de Doria, aprovou um pedido de expulsão de Aécio. A mesma pauta deverá ser levada nesta quarta-feira, 10, ao diretório de São Bernardo por Carla Morando, líder tucana na Assembleia Legislativa do Estado, e, depois, ao diretório estadual paulista.
De acordo com Alfredo, o pedido de expulsão de Aécio não estava na pauta da reunião do diretório municipal de São Paulo – entrou como questão de ordem a pedido de um dos presentes. “Coloquei em votação e foi aprovado por unanimidade”, afirmou. Estavam presentes 68 dos 71 membros do diretório.
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Ele integra um colegiado de 20 presidentes de diretórios tucanos em capitais e é responsável por levar a demanda do grupo à executiva nacional do PSDB. “Há várias manifestações de outros presidentes querendo a expulsão do Aécio. Os únicos que se posicionaram contra foram os presidentes de Belo Horizonte e do Paraná", disse.
“Na minha opinião, vai crescer esse movimento pedindo a saída dele (Aécio) do partido. A capital deu um primeiro passo”, disse ao Estado o prefeito de São Bernardo, Orlando Morando, membro da executiva nacional e marido de Carla. “O que a gente percebe claramente da militância é que a presença dele gera um desconforto. As acusações são graves e as atitudes, em especial aquela conversa dele com os irmãos açougueiros, não são coisa que a gente admita dentro das figuras que compõem o PSDB”, acrescentou, se referindo ao áudio em que Aécio e Joesley acertam o pagamento dos R$ 2 milhões.
A pressão envolvendo o deputado não é a única. Também são alvo de investida pela expulsão o ex-governador Alberto Goldman e o ex-secretário estadual Saulo de Castro. Os dois foram expulsos pelo diretório paulista por infidelidade partidária enquanto Doria disputava o governo de São Paulo, mas o diretório nacional tucano ficou de dar um desfecho final ao caso. Os dois, na época, disseram ser fiéis aos valores do partido.
Doria. Em Cambridge, na Inglaterra, onde está para encontro com investidores, Doria afirmou ao Estadão/Broadcast que o melhor seria uma saída espontânea para evitar a necessidade de expulsão _ segundo ele, uma "marca muito dura" para a trajetória de qualquer político. Ele disse ainda que o partido "não vai virar as costas" para a sua história, mas precisa olhar para o futuro.
"Estamos na fase do novo PSDB, sob a direção do ex-deputado Bruno Araújo. O novo PSDB não apaga e nem desconsidera o valor de sua história. O PSDB não vai mais viver da história, vai fazer história", afirmou. "Para fazer história, é preciso liderar a história. E liderar é tomar posições, e não adiar decisões, que foi um pouco o que o PSDB fez nos últimos anos."
Sobre possíveis efeitos para o partido nas eleições do próximo ano, o governador afirmou que existe um "mal-estar". "Manter a filiação diante de fatos aparentemente graves provoca em vários setores do PSDB um mal estar. E diante da perspectiva das eleições de 2020, esse mal estar vai crescer."
Ainda segundo ele, o afastamento seria a forma mais "clara, transparente, equilibrada e serena" de conduzir esse processo. "Esta é uma solução política e eticamente adequada, mas é uma decisão que compete a ambos. Mas se não adotarem, o PSDB vai adotar."
Oficialmente, a cúpula do PSDB avalia que a manutenção de Aécio no partido levaria ao questionamento do novo Código de Ética, lançado em maio. Na prática, no entanto, há receio de que o caso envolvendo o ex-senador leve à derrocada dos tucanos nas eleições de 2020.
O Código de Ética do PSDB prevê aexpulsão de políticos condenados criminalmente ou que tiverem cometido infidelidade partidária. Não há, porém, punições para aqueles que estão sendo investigados, como é o caso de Aécio. Os defensores do deputado também afirmam que os crimes pelos quais ele é acusado são anteriores ao Código de Ética e, portanto, não estão sujeitos à sua régua. No ano passado, a Executiva Nacional do PSDB - à época comandado pelo ex-governador Geraldo Alckmin - chegou a arquivar uma representação que pedia a expulsão de Aécio.
Executiva. A executiva nacional informou, por meio de nota enviada ao Estadão, que o código de ética do partido vai guiar a decisão do Conselho de Ética, sugerindo que o presidente nacional, Bruno Araújo irá pautar o pedido de expulsão de Aécio. “O partido tem no Conselho de Ética o seu órgão responsável pela análise de qualquer matéria dessa natureza. O código de ética, o primeiro de um partido no País, guiará de forma isenta e com respeito ao princípio da ampla defesa a decisões que vier a tomar”, diz o texto.
Procurado, o diretório mineiro do PSDB se posicionou, por meio de nota, contra a remoção de Aécio do partido. “Temos plena confiança de que, assim como outros membros do partido, o deputado Aécio provará na justiça a correção dos seus atos. Sabemos que qualquer atitude em relação a ele atingirá inevitavelmente outros membros do partido, inclusive de São Paulo, que buscam na Justiça se defender das acusações que lhes são imputadas”, diz o texto. Procurado pela reportagem, o deputado não quis se manifestar sobre o assunto.
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