Uma assistente social a serviço da Prefeitura de São Paulo foi detida por policiais militares por volta das 16h30 desta terça-feira (20) nas imediações da nova Cracolândia, na Praça Princesa Isabel, no centro da capital, enquanto acompanhava uma abordagem policial a duas adolescentes.
A prisão revoltou os colegas da assistente, que trabalha em uma Organização Social contratada pela Prefeitura. Cerca de quarenta pessoas, incluindo agentes de saúde que também trabalham na Cracolândia, foram até a porta do 77°Distrito Policial de Santa Cecília para acompanhar o caso e se queixar das ações da polícia na área.
A agente foi ouvida e liberada ainda na noite de terça.
Segundo três colegas da assistente, que falaram ao Estado sob condição de anonimato, a assistente havia visto um grupo de quatro policiais abordar duas jovens que aparentavam ter menos de 18 anos. “Ela viu que uma das meninas levantou a blusa, provavelmente porque eles (policiais) mandaram, para ver se elas não estavam armadas, e decidiu ficar lá para acompanhar, porque não havia nenhuma policial mulher junto”, contou uma amiga da agente.
A abordagem foi na Rua Guaianases, nas proximidades da esquina com a Rua Helvétia. Na hora, os agentes sociais se preparavam para começar as abordagens aos dependentes da Cracolândia do fim da tarde, que resulta no encaminhamento de parte deles para albergues e atendimentos noturnos.
Os policiais, entretanto, não teriam gostado da aproximação da assistente social, ainda segundo o relato dessas colegas. “Eles pediram o RG dela, mas ela mostrou o crachá.”
O crachá tem o logotipo da Prefeitura, o nome da mulher e o número do seu RG. Mas os policiais não teriam aceitado aquela identificação e detiveram a assistente, também de acordo com os colegas.
“Um deles falou para mim que ela estava sendo presa por desobediência, porque não mostrou o RG. Depois, falaram que ela estava sendo presa por desacato”, disse uma das testemunhas. “Ela não queria ser levada. Então eles puxaram ela para dentro da viatura, ela ficou só de sutiã”, conta outra testemunha.
Além da prisão, de acordo com os relatos dos amigos da moça, o caso fez com que agentes sociais e de saúde fossem até a delegacia como forma de pressionar a polícia a parar com práticas que eles descreveram como “de intimidação”. “Eles não querem a gente aqui. A gente passa e ouve ‘será que tem droga nessa mochila?’ e outras coisas. Eles tem olhado, xingado, intimidado, mesmo”, contou um grupo de agentes. Essa hostilidade teria começado após as operações para acabar com a Cracolândia.
O delegado Ailton Camargo Braga, que registrou o caso, fez boletim de ocorrência tanto sobre as acusações de abuso de autoridade feitas pela agente quanto sobre o desacato que a moça teria cometido.
De acordo com o delegado, os policiais teriam sido acionados por guardas civis, que viram duas jovens sair do fluxo da Cracolândia e estranharam o fato, uma vez que elas não se pareciam com os usuários da de drogas da área. Eles negaram ter encostados nas duas, mas confirmaram terem feito a abordagem.
A assistente teria interpelado os PMs, questionado a ausência de uma policial feminina para fazer buscas nas jovens. Os policiais confirmaram ainda que não aceitaram o crachá da moça como identificação quando pediram que ela se identificasse.
“Eles a detiveram, mas ela resistiu. Chegou aqui sem blusa, com duas algemas, uma amiga dela que a cobriu”, disse o delegado, após concluir o registro e ouvir os envolvidos.
Colegas da agente planejam um protesto contra as ações da PM na área às 14 horas desta quarta-feira (21).
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