O presidente Michel Temer tentou nesta quarta-feira melhorar sua imagem de chefe de Estado ao visitar o Kremlin para discutir cooperação com o colega Vladimir Putin, deixando momentaneamente para trás o cerco que tem se fechado em torno dele por acusações de corrupção.
Em público, os dois presidentes evitaram falar sobre os escândalos que sacodem Brasília e que pesam sobre ele e grande parte da classe política brasileira, e não abriram o microfone para as perguntas dos jornalistas.
"A delegação brasileira e eu voltaremos ao Brasil mais seguros no futuro", ressaltou Temer durante uma declaração à imprensa ao lado do presidente russo, após listar as áreas nas quais Moscou e Brasília, aliados dentro do grupo de países emergentes dos Brics, podem reforçar a cooperação bilateral.
A visita oficial permitiu a Temer um breve momento de distanciamento da crise, posando na terça à noite ao lado de Putin no Bolshoi, antes de revê-lo nesta quarta-feira, junto com o primeiro-ministro Dmitri Medvedev, para assinar acordos.
"Confirmamos nossa vontade de manter e de reforçar a parceria estratégica entre os nossos países", indicou o presidente brasileiro. "Sei o que podemos fazer para trabalhar ainda melhor para o bem dos nossos povos e estou convencidos que hoje demos um grande passo na direção desse futuro".
O presidente russo evocou discussões "substanciais e úteis", cujos "resultados contribuirão para o fortalecimento da cooperação" entre Moscou e Brasília, "um dos parceiros mais importantes da Rússia".
"Vários acordos visam expandir o comércio bilateral, aumentar os investimentos e reforçar o diálogo político" foram assinados durante as discussões, afirmou Temer.
"Nós concordamos que há um potencial inexplorado no comércio bilateral, há também um grande terreno para os investimentos russos no Brasil", ressaltou.
O Brasil busca investimentos russos fora do setor petrolífero, especialmente em infraestruturas para a construção de portos e estradas, mas também ferrovias.
Michel Temer também convidou Vladimir Putin a viajar ao Brasil em uma visita oficial. "O convite foi aceito com gratidão", segundo um comunicado do Kremlin, mas nenhuma data foi especificada.
Apoio de peso
Longe da atmosfera tranquila do Teatro Bolchoi e do Kremlin, a tensão reina em Brasília, onde o presidente é acusado de corrupção passiva, obstrução da justiça e organização criminosa.
"É a maior e mais perigosa organização criminosa do país. Comandada pelo presidente", segundo afirmou Joesley Batista, dono da JBS que detonou o escândalo há um mês.
Em razão dessas declarações, concedidas em uma entrevista à revista Época, a presidência processou o empresário por difamação, mas a queixa foi rejeitada nesta terça-feira por um juiz de Brasília.
Joesley gravou Temer dando supostamente seu aval para a compra do silêncio de Eduardo Cunha.
Um relatório parcial da investigação da Polícia Federal revelado terça-feira à noite pelo Supremo Tribunal Federal (STF) evoca "provas indicando a prática de corrupção passiva".
A versão final do relatório deve servir de base ao procurador-geral Rodrigo Janot para apresentar nos próximos dias um pedido de acusação formal. Para que o chefe de Estado seja levado ao STF, este pedido deve ser aprovado por dois terços da Câmara dos deputados.
À espera que seu futuro seja decidido, Temer aposta no fato de que muitos dos deputados também estão na mira da justiça. Também conta com um apoio de peso: o juiz Gilmar Mendes, cuja influência foi decisiva há duas semanas no Tribunal Superior Eleitoral no julgamento da cassação de sua chapa com a ex-presidente Dilma Rousseff.
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