GACC - Grupo de Assistência à Criança com Câncer

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Desde o início de suas atividades, em 1996, o GACC - então Grupo de Apoio à Criança com Câncer - existe para aumentar a expectativa de vida e garantir a oferta e a qualidade global do tratamento oferecido integral e indistintamente a crianças e jovens com câncer, diagnosticados com idades entre 0 e 19 anos incompletos, independente de sexo, cor, religião ou posição socioeconômica.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Por que as novas denúncias podem abalar o mito Lula?

 
Há cinco anos, Luiz Inácio Lula da Silva deixou o Palácio do Planalto em meio a uma popularidade recorde, elogios de líderes estrangeiros e tendo feito sua sucessora na Presidência da República. Era o auge da trajetória política do ex-metalúrgico de esquerda e a consolidação do mito popular Lula.
Esse mito se fundamenta no carisma pessoal do ex-presidente, na história do homem simples que subiu na vida, nas políticas econômicas e sociais que tiraram milhões de pessoas da miséria e também na imagem de ser um dos principais representantes da integridade moral que está na origem da fundação do PT. Esse mito é tão forte que faz de Lula, ao natural, um dos nomes mais cotados para suceder Dilma Rousseff em 2018.
Nas últimas semanas, porém, esse mito passou por aquele que é, até o momento, seu teste mais forte. É verdade que a Presidência de Lula teve seus percalços, como o escândalo do mensalão, mas a figura do líder operário que se empenha pelos mais pobres passou inabalada por todas as turbulências, pois as investigações não indicaram participação direta dele em nenhum caso.
Agora, no entanto, a situação ameaça se tornar bem diferente, à medida que surgem suspeitas ligando o ex-presidente a escândalos potencialmente incendiários. Elas envolvem um apartamento triplex no Guarujá, um sítio no interior de São Paulo, tráfico de influência e negócios entre seus filhos e grandes empresas.
Se, para muitos petistas e apoiadores do ex-presidente, o mensalão tinha o "atenuante" de que não era em proveito próprio, nas recentes denúncias esse raciocínio não se impõe. É a família de Lula que frequenta o sítio em Atibaia.
A situação é tão grave que, segundo relatos da imprensa brasileira, Lula estaria abatido. E cientistas políticos afirmam que o ex-presidente, em vez de ser uma figura que emprestava seu carisma a outros políticos e ao PT, pode estar se convertendo num fardo.
Nesta quarta-feira (17/02), o ex-presidente e sua mulher, Marisa Letícia, deverão depor no Ministério Público Federal de São Paulo para esclarecer a relação do casal com o imóvel no Guarujá. É a primeira vez que Lula deporá como investigado.
 
Manchas na trajetória política
"Lula vinha cultivando uma imagem de estadista e de potencial candidato à Presidência nas próximas eleições. O problema é que a fórmula que salvou o presidente em 2005, que envolvia culpar outras pessoas, parece não se aplicar desta vez. O efeito imediato dessas investigações é inviabilizar qualquer conversa sobre a volta de Lula em 2018. No longo prazo, elas mancham a trajetória política de Lula", afirma o cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília (UnB).
As manchas na imagem de Lula podem ser medidas em números. Pesquisas do instituto Datafolha divulgadas no final do ano passado apontam que a rejeição ao ex-presidente saltou de 17% para 47% nos últimos dois anos. Já a parcela dos entrevistados que o consideram o melhor presidente que o Brasil já teve caiu de 56% para 39%. Lula só conta com 22% das intenções de voto para as próximas eleições presidências – o que o coloca nove pontos percentuais atrás do senador Aécio Neves (PSDB).
Mais recentemente, uma pesquisa do instituto Ipsos divulgada no início de fevereiro afirmou que apenas 25% dos entrevistados consideram que Lula é honesto (em 2005, durante o escândalo do mensalão, eram 49%). O levantamento também mostra que 68% da população acredita que Lula não tem mais moral para falar de ética, e 67% disseram que o ex-presidente é tão corrupto como outros políticos.
Em 2015 começaram a surgir as primeiras suspeitas sobre o presidente. Elas envolviam sua relação com grandes empreiteiras, que custearam viagens e pagaram milhares de reais para o Instituto Lula em troca de palestras. A pecha de "lobista", no entanto, nunca passou de uma acusação não comprovada.
Na segunda metade de 2015 foi a vez do apartamento triplex num prédio no Guarujá, no litoral de São Paulo. A defesa do ex-presidente afirma que Lula e sua mulher tiveram uma cota para um imóvel no prédio, mas que o casal desistiu da compra e nunca foi proprietário de qualquer unidade.
Ainda assim, o caso levantou questões sobre o porquê de a construtora do prédio, a empreiteira OAS – cuja cúpula foi presa na Operação Lava Jato – ter gasto mais de 700 mil reais em reformas no imóvel, como a instalação de um elevador privativo. O promotor do caso já afirmou que tem indícios para denunciar o casal por ocultação de patrimônio.
Em outubro foi a vez de a Operação Zelotes chegar a Luís Cláudio Lula da Silva, um dos filhos do ex-presidente. As investigações apontam que Luis Cláudio, proprietário da LFT Marketing Esportivo, recebeu 2,4 milhões de reais em pagamentos de uma consultoria ligada a um suposto esquema de compra de medidas provisórias para beneficiar a indústria automotiva com incentivos no final do segundo mandato de Lula. O ex-presidente nega que a MP 471 tenha sido influenciada por lobbies. Já a defesa de Luis Cláudio afirma que o valor foi pago por uma consultoria na área esportiva que foi de fato prestada.
O nome de Lula também apareceu no início deste ano ligado ao sítio em Atibaia, que é de propriedade do filho de um amigo do ex-presidente, o empresário Fernando Bittar, também sócio de outro filho de Lula, Fábio Luis. Lula frequentava regularmente o local e chegou a enviar para o imóvel objetos pessoais que estavam no Palácio do Alvorada. Investigações mostram que a propriedade teve uma reforma custeada pela OAS, a Odebrecht e o pecuarista José Carlos Mumbai, um amigo do ex-presidente preso durante a Operação Lava Jato. Foram gastos cerca de 500 mil reais só na compra do material da reforma.
A defesa de Lula admitiu que ele frequentava o sítio e nega qualquer irregularidade, mas até agora tem evitado comentar as reformas feitas no local. A suspeita investigada na Operação Lava Jato é que as empreiteiras tenham reformado o local para presentear o ex-presidente.
 
Muito cedo para avaliar estrago
Para o cientista político Carlos Melo, do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), a imagem de Lula está sendo arranhada pelas denúncias. "É complicado quando uma das principais lideranças políticas do país não consegue esclarecer essas relações. Lula sempre quis passar a imagem do operário que chegou lá, não a de um milionário", comenta.
Segundo Melo, a divulgação de informações como a de que empreiteiras bancaram a compra de cozinhas de luxo e a instalação de elevadores particulares têm um potencial de dano maior do que denúncias envolvendo desvios de milhões ou bilhões, que são um tanto abstratas para a população.
O cientista compara a situação de Lula com a do ex-presidente Fernando Collor (1990-1992). "Collor já vinha sendo sacudido por escândalos, mas o que realmente o atingiu foi a divulgação de reformas suntuosas na Casa da Dinda [residência particular do então presidente], antes mesmo da comprovação de algo ilícito. Esse é o tipo de coisa que fica na mente das pessoas", afirma.
Melo, no entanto, ressalva que, até agora, as denúncias contra Lula ainda estão longe de serem comprovadas, e que, ao menos até o momento, as investigações não indicaram nenhuma troca concreta de favores por reformas ou presentes. "Até aqui, essas investigações têm um impacto maior do ponto de vista político do que do jurídico", diz.
Para o especialista, o cacife político do ex-presidente para 2018 está sendo comprometido. "O PT se comportava como se tivesse um Pelé no banco, que pode ser chamado para o jogo a qualquer momento. Agora ficou mais complicado", analisa. "Em 2010, com o bom momento da economia, essas denúncias teriam sido ignoradas, não significariam nada, mas agora têm mais potencial."
O cientista político Paulo Kramer avalia que será difícil para o ex-presidente recuperar a sua imagem. "Esses escândalos todos mostram que Lula e seu partido não só eram adeptos do patrimonialismo, que confunde a coisa pública com a privada, como o agravaram. Lula almejava ser uma figura maior que Getúlio Vargas, mas se as coisas continuarem assim ele vai acabar em pé de igualdade com Eduardo Cunha", afirma.
Já Melo afirma que, apesar dos abalos, ainda é muito cedo para avaliar se as manchas na imagem são permanentes. "Fernando Henrique Cardoso saiu desgastado da Presidência e se afastou por algum tempo. Hoje ele é uma figura respeitada. O distanciamento permite outras avaliações", afirma.

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