GACC - Grupo de Assistência à Criança com Câncer

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Desde o início de suas atividades, em 1996, o GACC - então Grupo de Apoio à Criança com Câncer - existe para aumentar a expectativa de vida e garantir a oferta e a qualidade global do tratamento oferecido integral e indistintamente a crianças e jovens com câncer, diagnosticados com idades entre 0 e 19 anos incompletos, independente de sexo, cor, religião ou posição socioeconômica.

quinta-feira, 20 de março de 2014

Quem mais matou Dona Cláudia?

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A filha de Cláudia Ferreira da Silva, a mulher duas vezes assassinada – a tiros e ao ser arrastada como um farrapo pelo carro da polícia – por policiais militares no Rio , disse que os PMs a “acusaram” de ter dado um copo de café a “um bandido”.
Sejamos honestos: seu brutal assassinato está chamando a atenção do país porque se filmou a  queda de seu corpo do carro dos policiais e a cena dantesca de sua segunda morte.
Porque a primeira morte de Cláudia foi ter sido baleada, essencialmente, por ser moradora de uma favela e negra.
Se não era mãe de traficante – como a própria temia fossem confundidos seus filhos – era tia, amiga, prima, parente ou amiga deles.
Devia ser: afinal era negra e favelada. E seus filhos deveriam ser, também eram negros e favelados.
“Todo os dias, eles [ PMs] chegam atirando e depois vão ver quem é. Ela não deixava a gente ficar na rua com medo de acontecer alguma coisa ou de confundirem a gente com traficantes”.
Como a Cláudia, seus filhos, milhares de Cláudias, Cláudios e Claudinhos.
Bandidos ou não, mas sempre, ou quase sempre, negros e favelados.
Quando morava em Santa Teresa, um bairro envolto por favelas nos morros do Rio, conheci um rapaz que sempre estava no ônibus tardio em que eu voltava para casa – o bondinho ainda circulava, mas só até 21 horas – que andava sempre com uma Bíblia na mão.
Um dia, puxei conversa sobre religião e fiquei surpreso de saber que ele não era evangélico.
A Bíblia era só para estabelecer uma mínima dúvida nas muitas ocasiões em que  era parado pela PM. para não ser imediatamente tratado como bandido traficante.
Ele, afinal, era também negro e favelado, do Morro dos Prazeres. Logo, também, deveria ser um bandido.
E se em lugar de D. Cláudia, fosse o negrinho da corrente no pescoço quem ficasse pendurado pela roupa, sendo arrastado?
Aí seria “compreensível”, D. Sheherazade?
Escolhi essa foto do enterro de Dona Cláudia pensando em você, Ali Kamel, e no seu “não somos racistas”.
Olhe bem para ela e veja: há apenas um branco, sofrendo do mesmo jeito que os negros.
A dor tem cor? Tem classe? Tem comprovante de renda e endereço?
A dor deles é menor que seria a minha ou a sua, diante da mãe morta?
A barbárie e seu elogio só trazem mais barbárie.
Ou você acha que aqueles policiais se tornaram monstros, já nasceram assim, desprezando  a integridade de um ser humano – bandido ou não bandido – ao ponto de o colocarem, mesmo gravemente ferido, baleado, na caçamba de uma caminhonete?
Quem os açulou ao ponto de animalizá-los assim?
Não adianta apenas dizer que eles agiram como monstros – e agiram – sem tocarmos naquilo que os torna monstros – a eles,  policiais e aos bandidos .
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Quando este Estado teve um governante que não tolerava isso, Kamel, você, a sua Globo, as elites e as Sheherazades de então, vociferaram contra, porque Brizola “não deixava a polícia trabalhar”.
A foto ao lado mostra o que era a PM antes de sua chegada.
Negros e favelados, tratados como convinha tratar negros e favelados, então.
Eu lembro perfeitamente bem como essa história começou: quando dois policiais subiram o Morro do Chapéu Mangueira, no Leme, atirando contra um ladrão de bolsas.
Mataram uma menina de oito anos, sentada à porta de sua casa, no morro, brincando.
Ela, afinal, era negra e favelada.
Boa coisa não ia dar, não é?
O lobo tem as suas razões, sempre. 

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