Na última seleção, foram escolhidos 2.582 municípios entre os mais pobres inscritos no Minha casa, Minha Vida
O governo federal decidiu mudar os critérios
de escolha dos projetos do programa Minha Casa, Minha Vida para cidades
com até 50.000 habitantes, passando a priorizar os municípios onde os
índices de pobreza são maiores. Como justificativa para a mudança, o
Ministério das Cidades afirmou que considera a habitação “importante
para melhorar a vida das pessoas e combater a miséria”.
Para os especialistas, o governo é coerente na mudança, pois nas
cidades de pequeno e médio porte a pobreza é um problema maior que o
déficit habitacional – critério que era utilizado anteriormente. “Como
solução para a miséria, entretanto, o Minha Casa, Minha Vida tem efeito
temporário”, afirma o economista Mansueto Almeida. O problema está,
segundo o economista, em construir casas em locais onde falta estrutura
em outras áreas, como saneamento, saúde e emprego. “Não adianta dar casa
para uma família onde, por exemplo, não há oportunidade de trabalho”,
explica. “Eles vão acabar vendendo a casa e migrando para outros
lugares”.
O Minha Casa, Minha Vida só funcionará efetivamente no combate à
miséria caso seja feito um planejamento para integrá-lo a outros
programas, afirma Geraldo Tadeu Moreira Monteiro, diretor do Instituto
Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro. “Contudo, hoje não há um
alinhamento dos programas de governo”, diz Monteiro. “No nosso último
levantamento, eram mais de 300 programas, distribuídos entre os
ministérios com diferentes focos e geridos de acordo com a lógica
burocrática e ministerial que faz com as ações não conversem entre si”.
Atraso - A mudança no critério de seleção do Minha
Casa, Minha Vida para cidades de até 50.000 habitantes atrasou em quase
três meses a divulgação do resultado da oferta pública que possibilitará
a construção de mais de 107.000 unidades habitacionais em todo o país. O
prazo foi adiado três vezes e, por fim, anunciado em 12 de abril.
Entretanto, as cotas de unidades habitacionais tiveram que ser
redistribuídas por causa do novo critério, processo que deve atrasar o
início das obras nos municípios – o que deixou alguns secretários de
habitação e prefeitos insatisfeitos.
“O melhor que o governo poderia ter feito era conduzir essa última
oferta pública da forma já estabelecida e realizar outra especificamente
para atender à questão da miséria”, acredita o presidente do Fórum
Nacional de Secretários de Habitação, Carlos Marun. “Inclusive, poderia
ser feita uma seleção com um subsídio maior para as famílias
beneficiadas, a fim de minimizar a necessidade de contrapartidas, pois
vamos tratar com alguns municípios que já são miseráveis e que não têm
como colocar mais dinheiro no projeto”, acrescentou.
Com o novo critério, a Região Nordeste passará de 43.000 para 60.000
unidades habitacionais, concentrando mais da metade das moradias que
serão construídas nesta fase do programa. Já o Sudeste passará de 29.000
para 12.000 unidades habitacionais. Cada família beneficiada pelo
programa receberá um subsídio do governo de 25.000 reais para erguer sua
casa.
Por meio de nota, o Ministério das Cidades disse que não houve mudança
no critério na seleção dos projetos do Minha Casa, Minha Vida, e sim
“uma priorização dos municípios com maior índice de domicílios em
situação de extrema pobreza”. No caso das cidades com mais de 50.000
habitantes, a seleção continuará sendo feita pelo déficit habitacional.
O ministério afirmou que o governo assumiu como prioridade o combate à
miséria e, para alcançar essa meta, “vários programas têm sido
utilizados”. “Ter habitação é um dos compromissos que se incorporou a
essa estratégia”, conclui a nota.
Gasto recorde - No ano das eleições municipais, o governo teve um gasto recorde
com seu programa-vitrine nos primeiros três meses. Foram 5 bilhões de
reais gastos com o Minha Casa, Minha Vida, segundo um levantamento feito
com dados do Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo
Federal (Siafi) pela ONG Contas Abertas.
O montante é cinco vezes maior que o gasto no mesmo período de 2011 –
ano em que a execução orçamentária do programa foi quase nula – e
aproximadamente metade de tudo o que foi desembolsado nos últimos três
anos com o Minha Casa, Minha Vida: cerca de 10,6 bilhões de reais.
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