Por que não havia democracia no Antigo Egito e não há na Rússia ou na
China (velhas ou novas) e na Venezuela? Porque em países
patrimonialistas, onde a estrutura de produção é altamente concentrada
numa só mão (a do Estado), a classe ou o grupo que toma o poder
simplesmente o reparte entre os seus membros e nele se perpetua.
Na
América Latina, esse é um fenômeno favorecido na origem por fortes
culturas autóctones, como a dos astecas e a dos incas, depois continuado
pelo regime colonialista, baseado na extração mineral e em algumas
poucas culturas agrícolas, e hoje pelos governos populistas que aqui
proliferam.
No mundo inteiro, o patrimonialismo leva à
concentração de riquezas em poucas mãos, ao despotismo, à corrupção e ao
atraso da sociedade. Por isso os processos de modernização das
sociedades sempre têm estado associados ao desenvolvimento da indústria e
do comércio, que, incentivando a iniciativa, a criatividade e a
liberdade de empreender, fortalecem as sociedades democráticas e livres.
Não é por acaso que Atenas, líder comercial do Mediterrâneo, inventou a
democracia.
Também não é por acaso a situação de relativa
singularidade, em relação a seus vizinhos na América Latina, que
desfrutam o Brasil, o Chile e, mais recentemente, a Colômbia. Tal
situação decorre de terem estes países uma iniciativa privada
razoavelmente estruturada e uma economia mais aberta e menos
unidependente.
Devemos essa conquista a uma forte, porém pouco
estudada, vertente empresarial do nosso povo - recentemente reabilitada
por Jorge Caldeira em sua História do Brasil por Empreendedores - e aos
enormes esforços governamentais e privados para criar uma indústria
local, especialmente desenvolvidos no governo JK, nos primeiros anos do
regime militar e, posteriormente, refrescados pelas privatizações dos
presidentes Fernando Collor de Melo a Dilma Rousseff.
O segmento
industrial, pouco expressivo no início do século 20, desenvolveu-se a
ponto de representar quase 30% do nosso Produto Interno Bruto (PIB). Com
ele, o emprego, a tecnologia, a pesquisa, a ciência, os sindicatos, a
classe trabalhadora e as bases da multiplicidade de interesses pessoais,
profissionais e empresariais fortaleceram, em sua diversidade, a dura
reconquista da democracia pelo povo brasileiro.
Isso, porém, está
em pleno retrocesso. Políticas incorretas voltam a nos levar a ter a
indústria representando apenas 15% do PIB - por efeito de educação
deficiente; logística ineficaz; preços de energia elevados; burocracia
governamental inepta; legislação trabalhista retrógrada e contrária ao
interesse do trabalhador; carga tributária injusta; e taxa de câmbio
estupidamente sobrevalorizada. Em suma, por causa de uma baixa inovação e
baixa competitividade.
E isso ocorre num país que, pela
facilidade de se abastecer competitivamente de todos os componentes das
cadeias produtivas, não tem desculpa alguma - salvo a da ignorância ou
curta visão - para se deixar ficar para trás novamente. Estudos recentes
de Regis Bonelli, consultor e pesquisador do Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (Ipea) no Rio de Janeiro, apontam para que algo na
faixa de 22% de participação da indústria no PIB seria o razoável.
O
déficit de US$ 90 bilhões na balança comercial do segmento industrial
expressa o desmonte de vários setores industriais por falta de isonomia
na competição com o exterior. Significa dizer que voltamos a ser uma
fazenda exportadora de produtos de baixo valor agregado. Que não
voltemos a ser a correspondente expressão política: um regime
centralizador, autoritário, repressor das liberdades e da democracia.
Para isso, a reação tem de começar pelo fortalecimento da atividade
empresarial moderna e privada, tarefa que requer uma atuação muito mais
proativa das associações empresariais e da sociedade.
É VICE-PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INFRAESTRUTURA E INDÚSTRIAS DE BASE (ABDIB)
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