"Agnelo Queiroz afirma que não há fatos que liguem seu governo com Cachoeira"
Identificado pela Polícia Federal como o '01 de Brasília' e o
'Magrão', citado em diálogos da quadrilha comandada pelo contraventor
Carlinhos Cachoeira, o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz
(PT), está sob pressão do seu partido, com o governo sob vigilância do
Planalto e como protagonista de uma crise que faz ressuscitar o fantasma
da intervenção federal. Auxiliares diretos seus se envolveram ou
tentaram se aproximar do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos
Cachoeira.
Mesmo assim, em entrevista ao Estado, Agnelo garante
que não vai renunciar nem se afastar do cargo 'sob qualquer hipótese'. A
não ser uma: 'Só se me abaterem fisicamente', diz, reproduzindo
inconscientemente o script do ex-ministro do Trabalho, Carlos Lupi, de
que só deixaria o governo a bala - e que saiu demitido. 'Tenho
conversado com a presidente Dilma', adverte, para sinalizar apoio.
Cercado
por denúncias desde que assumiu o cargo em 2011, e com baixos índices
de popularidade, Agnelo é alvo de inquérito criminal no Superior
Tribunal de Justiça (STJ) por suspeita de irregularidades desde seus
tempos no Ministério do Esporte (2003-2006) e, depois, como diretor da
Agência de Vigilância Sanitária (2007-2010). Agora é alvo também da CPI
mista do Congresso que vai investigar as atividades de Cachoeira. Além
do apoio da presidente Dilma, garante que tem o da direção do PT para
resistir às pressões. 'O cara só pensa nisso (renúncia) se tem culpa no
cartório. E eu não tenho', afirma. Ele vê, na CPI, uma oportunidade de
provar sua inocência.
O governador disse que encontrou no governo
uma máquina pública dominada por 'corrupção sistêmica' e, assim, atraiu a
ira de grupos econômicos poderosos contrariados. Disse também ter-se
encontrado apenas uma vez com Cachoeira, numa reunião com empresários da
indústria farmacêutica, em 2009 ou 2010, e negou que tenha recebido
apoio financeiro ou caixa dois para sua campanha.
O senhor vai renunciar ou se afastar do cargo para facilitar as investigações?
Absolutamente.
O cara só pensa nisso se tem culpa no cartório. Defendo a CPI e quero a
apuração disso porque não tenho culpa no cartório.
O Planalto
mandou reforços federais para seu governo, numa espécie de intervenção
branca. O sr. perdeu o apoio da presidente Dilma e do PT?
Os
reforços foram iniciativa nossa. Não foi nada (de intervenção ou
socorro) do Planalto. Passei um ano e três meses paquerando para trazer
um grande quadro federal, que é daqui de Brasília, o Luiz Paulo Barreto
(ex-ministro da Justiça, que assumiu a Secretaria de Planejamento do GDF
esta semana). Não houve intervenção. Só fala isso quem não conhece a
presidente Dilma. Não tem acontecido isso (abandono do Planalto ou do
PT). Tenho conversado com a presidente. Ontem mesmo (quinta-feira)
estive com o presidente Rui Falcão (do PT). Tenho apoio de vários
partidos e da minha bancada inteira no DF.
O presidente Rui Falcão afirmou que a CPI vai servir para desmascarar a farsa do mensalão...
Acho
que ela vai desmascarar mesmo os ataques contraditórios que estou
sofrendo. Estão tentando fazer com que a população acredite que há uma
ligação (minha com Cachoeira). Mas os diálogos mostram o contrário: que
os caras não conseguiram (emplacar o lobby). Não há um único exemplo de o
cara ter emplacado alguma coisa.
Brasília vive o trauma de
escândalos recentes, como o da Caixa de Pandora, que provocaram a prisão
e cassação de um governador e indiciamento de vários políticos. O sr.
teme ser punido por esse clima de clamor público?
Essa crise não é
minha nem do PT, nem de Brasília. Não há um único fato que mostre
envolvimento do governo do DF com esse grupo (de Cachoeira).
E quanto às suspeitas de favorecimento da Delta nos contratos com o GDF?
Não
teve nenhuma facilidade, sequer um aditivo em favor da Delta. Ela só
está aí porque ganhou na Justiça o direito de manter o contrato.
Porque
então o sr., eleito governador em 2010, pediu ao governador em
exercício, Rogério Rosso, a prorrogação do contrato com a Delta? Não é
uma forma de beneficiar?
Em absoluto. Fiz um pedido genérico em relação a serviços essenciais do governo. Se não, quem vai recolher o lixo?
O
que se coloca nos diálogos interceptados é que a Delta e Cachoeira
deram apoio financeiro à sua candidatura e depois cobraram a fatura em
forma de nomeações e contratos.
Nego absolutamente. Cite uma
nomeação ou contrato. A nomeação do João Monteiro (SLU) foi minha. É uma
pessoa séria, não tem vinculação nenhuma com esse segmento.
Com
relação ao Cachoeira, num primeiro momento o sr. disse que não o
conhecia e depois admitiu ter tido um contato com ele. Como foi esse
contato e do que trataram?
Há uma forçação de barra brutal.
Chegaram a publicar, a partir de diálogos de terceiros, que eu estava
pedindo uma audiência com o Cachoeira (risos). É absolutamente
mentiroso. Se eu quisesse falar com ele, por ser um empresário do ramo
farmacêutica, jamais falaria com ele por vias como essas. Foi um
encontro antes de eu ser candidato. Visitei várias indústrias em Goiás,
São Paulo, fiz reuniões. Falei com outros empresários, não só com ele.
A que o sr. atribui essa onda de denúncias?
Há
uma tentativa desesperada de envolver o meu nome e o PT nessa crise.
Essa crise não é nossa, é do DEM e do PSDB de Goiás. A PF investigou um
ano e meio a contravenção-jogos, caça-níqueis, bingos e os crimes
conexos. O que a PF pegou, efetivamente? Pegou um senador, Demóstenes
Torres, e o DEM de Goiás , em 300 telefonemas, entre os quais negociando
interesse do jogo no Congresso. Está tudo fartamente disponível. Uma
série de relações com o setor político de Goiás. Prefeitos, deputados,
vereadores. Na lista da PF não constam o DF nem meu governo. Não fomos
lenientes ou omissos com relação à expansão do jogo no DF.
Mas o senhor afastou seu chefe de gabinete e dois assessores. Não é uma forma de admitir envolvimento?
Em
absoluto. Não há uma declaração ou diálogo direto dessas pessoas. Há um
diálogo atribuindo influência sobre o chefe de gabinete (Cláudio
Monteiro), falando em dinheiro para indicar o presidente do Serviço de
Limpeza Urbana. O que ele (Monteiro) fez? Saiu do governo, vai se
defender, mostrar que isso é falso e, uma vez provada a falsidade,
voltar pro governo.
O sr. não recebeu nenhuma doação de campanha ou caixa dois, seja de Cachoeira ou da Delta?
Em absoluto.
Além
da Monte Carlo, o sr. é alvo de inquérito, no STJ que apura
irregularidades na sua gestão no Ministério do Esporte e na Anvisa.
O
processo que corre no STJ é do meu interesse porque provém de uma
denúncia de um bandido, que alegou ter-me dado suborno na véspera do
período eleitoral (abril de 2010). Foi espontaneamente a uma delegacia
num sábado e lá encontrou o delegado e o promotor para tomar o
depoimento. Como depois eu fui eleito, o caso subiu para o STJ. Espero
desmascarar esses detratores. As denúncias com relação à Anvisa já foram
apuradas e rechaçadas. No (programa do Ministério do Esporte) Segundo
Tempo não há nada contra minha gestão, tive todas as contas aprovadas,
com certidão do TCU e CGU.
Quem está tentando derrubá-lo?
Estou
enfrentando grupos poderosos, que saquearam o patrimônio público. Sou
alvo desses interesses contrariados. Instaurei uma Secretaria de
Transparência e fiz 14 mil auditorias. Estou buscando o dinheiro
saqueado. Estou pedindo de volta R$ 750 milhões roubados. Já declarei
várias empresas inidôneas. E não tem ninguém preso. (O esquema) está aí
operando, com métodos que não há em nenhum outro lugar do País.
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