RIO — Conhecer o mundo é algo que pode ser feito de muitas maneiras. O canadense Sean Jordan, de 33 anos, escolheu uma das formas mais inusitadas: cansado da rotina, vendeu a parte da empresa de softwares da qual era sócio e pegou a estrada montado em uma Vespa P200 Elestart ano 2002, comprada há quatro anos.
Residente na Sérvia, Sean planejou a viagem durante quatro meses. Juntou a papelada que seria necessária para atravessar fronteiras e tomou as devidas vacinas. Em junho passado, partiu para a estrada a 80km/h, velocidade confortável para o motorzinho dois tempos de apenas 12cv. Hoje Sean está no Rio, abrigado em Santa Teresa, na casa de um amigo da irmã.
Mingau de sapo e fruta gosmenta
Foi muito chão até aqui. Cruzou Sérvia, Croácia, Hungria, Romênia, Moldávia, Ucrânia, Rússia, Turquia, Geórgia, Armênia, Irã, Dubai, Índia, Tailândia, Cambodja, Malásia, Sumatra e Indonésia, num total de 24 mil quilômetros. Em certos momentos teve que mudar de rota: como não conseguiu visto para entrar no Paquistão, de Dubai foi de avião para a Índia.
Seguindo os planos traçados, dormiu em albergues, hotéis baratos e casas de velhos (ou novos) amigos. Experimentou coisas estranhas, como o recheio gosmento de uma fruta chamada durian, na Malásia, ou uma espécie de mingau de sapo, na Indonésia. E considera inesquecíveis o açaí e o churrasco brasileiros.
Da gentileza iraniana à van em Copacabana
O canadense conta que o trânsito indiano foi o mais confuso que enfrentou:
— Quase morri dez vezes por dia lá...
Em países ditos tensos, o viajante teve surpresas positivas. No Irã, encontrou o povo mais hospitaleiro.
— Lá você sai na rua com cara de estrangeiro e as pessoas querem ser suas amigas. É fascinante — lembra.
Mas foi no mesmo Irã que Sean passou por dois apuros: primeiro, a Vespa começou a falhar dentro de um túnel longo e apinhado de caminhões. Felizmente, o motor funcionou o suficiente para sair. Dias depois, o aventureiro caiu por causa de uma imensa mancha de óleo na pista. Mas nada que causasse muitos danos.
A Vespa, aliás, tem sobrevivido bem à empreitada até aqui — mas não sem algumas dores de cabeça. Sean conta que a motoquinha nunca havia reclamado nos três anos em que a usou antes da viagem. Mas foi só começar a volta ao mundo e pronto: do carburador à parte elétrica, tudo deu alguma pane.
Sean já trocou oito pares de pneus, bem como o virabrequim e o cilindro do motor (uma vez) e o pistão (duas vezes), além de lâmpadas queimadas, fios partidos e afins. Problemas para achar peças? Só na Ucrânia, onde simplesmente não existem Vespas... No resto do mundo, foi fácil. Quando necessário, Sean conta com um contato remoto: o amigo Joern, na Alemanha, que é capaz de dar precisas consultorias técnicas online e diagnosticar problemas vendo fotos de peças, enviadas por e-mail. Mas o piloto evoluiu:
— Quando comecei a viagem eu não entendia nada de mecânica de Vespa. Agora posso dizer que sei bastante coisa! — jura o viajante.
Caipirinha deu rebordosa em Copacabana
A fase carioca da aventura teve alguns contratempos. O transporte aéreo da Vespa entre a Malásia e o Brasil foi mal feito e causou vários arranhões e peças quebradas. Aqui, Sean demorou 15 dias para conseguir liberar a moto na alfândega, sendo obrigado a cumprir a mesma via-crúcis burocrática por cinco vezes.
— Em nenhum lugar do mundo o processo foi tão complicado e tão caro — conta ele, lembrando que gastou mais de US$ 900 em taxas e afins.
Ainda no segundo dia no Rio, um azar: cansado após a viagem aérea desde a Malásia, foi a Copacabana e tentou relaxar com umas caipirinhas. Ao atravessar uma rua a pé, olhou para o lado errado e... pumba! Foi atropelado por uma van. Machucou o braço, que teve que ser imobilizado. Enquanto estava desmaiado, teve dinheiro e sua câmera fotográfica afanados.
Vieram em seu socorro os integrantes da Confraria Rio Vespa Clube, que reúne proprietários de Vespa na cidade. Com a ajuda da turma, as coisas foram se resolvendo. Agora, com moto e braço liberados, Sean prepara-se para continuar a viagem.
O plano é seguir para o sul do Brasil e depois rodar pela Rodovia Panamericana até Ontário, no Canadá, e reencontrar a família.
Motoneta com alma abre todas as portas
Sean comprou a Vespa na Alemanha, de segunda mão. Diz que escolheu a motoneta por ser simples e barata de se consertar. Seu trajeto incluiu países onde há muitas Vespas, facilitando a reposição de peças. E, claro, tem o carisma.
— A Vespa abre todas as portas. As pessoas ficam impressionadas com o que estou fazendo. Não seria assim se eu viajasse numa moto grande e vestido como um astronauta.
Residente na Sérvia, Sean planejou a viagem durante quatro meses. Juntou a papelada que seria necessária para atravessar fronteiras e tomou as devidas vacinas. Em junho passado, partiu para a estrada a 80km/h, velocidade confortável para o motorzinho dois tempos de apenas 12cv. Hoje Sean está no Rio, abrigado em Santa Teresa, na casa de um amigo da irmã.
Mingau de sapo e fruta gosmenta
Foi muito chão até aqui. Cruzou Sérvia, Croácia, Hungria, Romênia, Moldávia, Ucrânia, Rússia, Turquia, Geórgia, Armênia, Irã, Dubai, Índia, Tailândia, Cambodja, Malásia, Sumatra e Indonésia, num total de 24 mil quilômetros. Em certos momentos teve que mudar de rota: como não conseguiu visto para entrar no Paquistão, de Dubai foi de avião para a Índia.
Seguindo os planos traçados, dormiu em albergues, hotéis baratos e casas de velhos (ou novos) amigos. Experimentou coisas estranhas, como o recheio gosmento de uma fruta chamada durian, na Malásia, ou uma espécie de mingau de sapo, na Indonésia. E considera inesquecíveis o açaí e o churrasco brasileiros.
Da gentileza iraniana à van em Copacabana
O canadense conta que o trânsito indiano foi o mais confuso que enfrentou:
— Quase morri dez vezes por dia lá...
Em países ditos tensos, o viajante teve surpresas positivas. No Irã, encontrou o povo mais hospitaleiro.
— Lá você sai na rua com cara de estrangeiro e as pessoas querem ser suas amigas. É fascinante — lembra.
Mas foi no mesmo Irã que Sean passou por dois apuros: primeiro, a Vespa começou a falhar dentro de um túnel longo e apinhado de caminhões. Felizmente, o motor funcionou o suficiente para sair. Dias depois, o aventureiro caiu por causa de uma imensa mancha de óleo na pista. Mas nada que causasse muitos danos.
A Vespa, aliás, tem sobrevivido bem à empreitada até aqui — mas não sem algumas dores de cabeça. Sean conta que a motoquinha nunca havia reclamado nos três anos em que a usou antes da viagem. Mas foi só começar a volta ao mundo e pronto: do carburador à parte elétrica, tudo deu alguma pane.
Sean já trocou oito pares de pneus, bem como o virabrequim e o cilindro do motor (uma vez) e o pistão (duas vezes), além de lâmpadas queimadas, fios partidos e afins. Problemas para achar peças? Só na Ucrânia, onde simplesmente não existem Vespas... No resto do mundo, foi fácil. Quando necessário, Sean conta com um contato remoto: o amigo Joern, na Alemanha, que é capaz de dar precisas consultorias técnicas online e diagnosticar problemas vendo fotos de peças, enviadas por e-mail. Mas o piloto evoluiu:
— Quando comecei a viagem eu não entendia nada de mecânica de Vespa. Agora posso dizer que sei bastante coisa! — jura o viajante.
Caipirinha deu rebordosa em Copacabana
A fase carioca da aventura teve alguns contratempos. O transporte aéreo da Vespa entre a Malásia e o Brasil foi mal feito e causou vários arranhões e peças quebradas. Aqui, Sean demorou 15 dias para conseguir liberar a moto na alfândega, sendo obrigado a cumprir a mesma via-crúcis burocrática por cinco vezes.
— Em nenhum lugar do mundo o processo foi tão complicado e tão caro — conta ele, lembrando que gastou mais de US$ 900 em taxas e afins.
Ainda no segundo dia no Rio, um azar: cansado após a viagem aérea desde a Malásia, foi a Copacabana e tentou relaxar com umas caipirinhas. Ao atravessar uma rua a pé, olhou para o lado errado e... pumba! Foi atropelado por uma van. Machucou o braço, que teve que ser imobilizado. Enquanto estava desmaiado, teve dinheiro e sua câmera fotográfica afanados.
Vieram em seu socorro os integrantes da Confraria Rio Vespa Clube, que reúne proprietários de Vespa na cidade. Com a ajuda da turma, as coisas foram se resolvendo. Agora, com moto e braço liberados, Sean prepara-se para continuar a viagem.
O plano é seguir para o sul do Brasil e depois rodar pela Rodovia Panamericana até Ontário, no Canadá, e reencontrar a família.
Motoneta com alma abre todas as portas
Sean comprou a Vespa na Alemanha, de segunda mão. Diz que escolheu a motoneta por ser simples e barata de se consertar. Seu trajeto incluiu países onde há muitas Vespas, facilitando a reposição de peças. E, claro, tem o carisma.
— A Vespa abre todas as portas. As pessoas ficam impressionadas com o que estou fazendo. Não seria assim se eu viajasse numa moto grande e vestido como um astronauta.
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