Quando eu brinquei na
demonstração de que o Brasil seria um país que poderia ser levado a sério, eu não tinha menor noção pregulóide de que um dia eu poderia ficar indignado com uma cagadona jactante do Supremo Tribunal Federal (STF), acrescentando mais cropólitos na nossa claudicante trajetória de republiqueta de gatunildos e ladronaldos. Sempre tive a esperança beócia de que a justiça tardaria, mas que, mesmo atrasada que só o trem de Cortês, um dia lá nas esferas da eternidade, vingasse. Eu sempre achei melhor aquela do antes tarde do que nunca, muito embora achasse que nunca era o definitivo.
Confesso que fiquei maravilhado com a campanha Ficha Limpa, promovida por 1,3 milhões de cidadãos brasileiros. Na hora eu disse: tô dentro. E timbunguei do jeito que estava. Afinal era uma campanha levantada pela sociedade civil brasileira legitimada constitucionalmente, objetivando a melhoria das nossas instituições políticas e envolvendo a vida pregressa dos candidatos para inelegibilidade de Fabos (fabricantes de bosta) e Fabobas (Fabos que são usuários do óleo de peroba). Resultado: em 2010, virou a Lei Complementar 135/2010 – a lei da Ficha Limpa.
Aí entra em cena o eleitor e o juridiquês, ou seja: vamos ver no que dá para ver como é que fica.
Como o juridiquês é um português na maior remoeta – faz que vai, nem vai, nem fica (?!?) -, ou como diz Thoreau: “[..] Valem tanto quanto cavalos e cachorros [...] como a maioria dos legisladores, políticos, advogados, funcionários e dirigentes, que servem ao Estado principalmente com a cabeça, e é bem provável que sirvam tanto ao Diabo quanto a Deus [...]”. E o eleitor é um fabo em pequenas proporções. Aí, babau.
É que o juridiquês discutia o princípio da anterioridade, indubitavelmente arranchado nas pilas dos ficha suja. E o eleitor tinha a oportunidade de sacramentar a volta do enterro, defenestrando as trepeças. No que deu? O juridiquês empancou e o eleitor cagou na rabichola e deu brecha. O litígio foi parar no STF, jogo duro: 5x5. Aí, no de repente aparece um de minerva aos 49 minutos do segundo tempo e pei bufe: 6x5 pros empestados.
Perdemos o jogo e a revanche tinha ficado para 2012.
Aí o juridiquês foi mais longe feito chato de galocha numa manhã chuvosa: a lei é inconstitucional.
Que é que é isso, meu? Aí a
OAB sinalizou que pode acionar o STF para garantir a Ficha Limpa em 2012. Pode não, deve. Se não for, não me espantarei; afinal a corda de guaiamum sempre se espicha, né não?
Enquanto isso: e agora? Ou a gente leva ao pé da letra o que dizia Thoreau “[...] A lei nunca fez os homens sequer um pouco mais justos; e o respeito reverente pela lei tem levado até mesmo os bem-intecionados a agir cotidianamente como mensageiros da injustiça”, ou então vamos apenas sacramentar nossa sina de palermas. Eu insisto e canto a
Carta à República do Milton Nascimento e do Fernando Brant:
Sim é verdade, a vida é mais livre
O medo já não convive nas casas, nos bares, nas ruas
Com o povo daqui
E até dá pra pensar no futuro e ver nossos filhos crescendo e sorrindo
Mas eu não posso esconder a amargura
Ao ver que o sonho anda pra trás
E a mentira voltou
Ou será mesmo que não nos deixara?
A esperança que a gente carrega é um sorvete em pleno sol
O que fizeram da nossa fé?
Eu briguei, apanhei, eu sofri, aprendi,
Eu cantei, eu berrei, eu chorei, eu sorri,
Eu saí pra sonhar meu país
E foi tão bom, não estava sozinho
A praça era alegria sadia
O povo era senhor
E só uma voz, numa só canção
E foi por ter posto a mão no futuro
Que no presente preciso ser duro
E eu não posso me acomodar
Quero um país melhor