SÃO PAULO - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso admitiu, nesta terça-feira, em seminário no instituto que leve seu nome, que há entendimentos sobre a fusão do PSDB com o DEM. Porém, ele afirmou que as conversas ainda são preliminares. FH também criticou a postura dos tucanos que, segundo ele, não souberam conviver com as várias tendências do partido.
A saída de Walter Feldman, um dos fundadores do PSDB, para o PSD, foi motivo de pesar para o ex-presidente.
Existem propostas nesse sentido. São aspectos delicados. Acho que o mais importante é manter a coesão dos partidos e, desde logo, dizer: aconteça o que acontecer, vamos nos manter unidos com certos objetivos maiores
_ Existem propostas nesse sentido. São aspectos delicados. Acho que o mais importante é manter a coesão dos partidos e, desde logo, dizer: aconteça o que acontecer, vamos nos manter unidos com certos objetivos maiores. Não sei qual a tendência, se vai haver fusão ou não.
Ele aproveitou para dar um puxão de orelhas no PSDB pela debandada tucana para o PSD, novo partido do prefeito Gilberto Kassab. Para o ex-presidente, "ninguém pode pregar a democracia, que implica pluralidade, se não a pratica". Fernando Henrique lamentou a saída do ex-deputado Walter Feldman, oitavo paulista a deixar a legenda em uma semana, e disse fazer um "apelo à unidade".
_ Acho lamentável a saída de qualquer pessoa, sobretudo de uma pessoa importante. É o momento de fazermos um esforço pela coesão. Faço até mesmo um apelo: não é o momento de ampliar divisões. Se quisermos ter um objetivo maior, como tem os venezuelanos hoje, que é de voltar a ter uma situação de que o PSDB exerça um papel construtivo no Brasil, na República, nós temos de estar unidos_ disse o ex-presidente à imprensa, durante um seminário com analistas e a oposição jovem ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez, no Instituto Fernando Henrique Cardoso (IFHC).
O ex-presidente tucano considerou anormal a ruptura das lideranças no partido.
_ Esse esforço (de coesão) implica que as várias tendências do partido entendam que tendências são normais, que opções por pessoas são normais. O que não é normal é ruptura, em função seja de personalismo, seja da falta de aceitação da diversidade. Ninguém pode pregar a democracia, que implica pluralidade, se não a pratica. Temos de ter pluralidade interna, expressão da nossa divergência, mas também uma coesão. Deixo um apelo pela unidade.
Enquanto apresentava um grupo de três jovens de oposição venezuelana, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso brincou com a polêmica causada por seu último artigo, no qual defendeu que o PSDB tenha foco na classe média como eleitorado. Fernando Henrique elogiou a juventude dos militantes e falou que, mais velho, tem ficado a cada dia mais cauteloso.
_ Passei a ser cautelosíssimo_ disse Fernando Henrique, comentando que o artigo foi pedido pelo ex-embaixador Rubens Barbosa:_ Pensei que ninguém fosse ler.
Ainda durante o evento no IFHC, o ex-presidente disse esperar que o governo Dilma tenha "sensibilidade" para associar a crítica ao regime de Chávez e os interesses dos dois países.
_ Dá a impressão de que, no que diz respeito aos direitos humanos, ela (Dilma) tem sido mais conseqüente em protestar. O Brasil tem interesses comuns com a Venezuela e nós não podemos de repente ter uma atitude que possa ser compreendida como contrária à Venezuela. Então, como distinguir a defesa dos direitos humanos com a participação da Venezuela na América Latina, no Mercosul, de acordo com os nossos interesses? Espero que o governo, sobretudo com o novo chanceler, tenha sensibilidade suficiente para ao mesmo tempo atender aos interesses do Brasil e da Venezuela.
Ainda nesta terça, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) e o presidente nacional do DEM, José Agripino Maia (RN),
acertaram o novo espaço do DEM no governo paulista. O partido comandará a Secretaria de Desenvolvimento Social, hoje encabeçada por um deputado estadual do PSDB. A negociação é um gesto importante num momento em que os dois partidos discutem uma fusão no futuro.
A possível saída do governador democrata de Santa Catarina, Raimundo Colombo, pode acelerar de vez a implosão do DEM. Com ele, sairiam inúmeros políticos catarinenses e o único governo estadual do partido seria o do Rio Grande do Norte, de Rosalba Ciarlini.