Após a apresentação do relatório sobre o acidente de avião que matou o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, o advogado da família divulgou nota em que defende uma “aprofundada análise” do documento e lamenta o fato de a Aeronáutica não ter usado um simulador de voo para auxiliar nas investigações da tragédia.
O relatório foi divulgado nesta terça-feira (19) pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa).
Apresentação do relatório final da investigação do acidente que matou sete pessoas, entre elas o ex-governador de Pernambuco e candidato à presidência da República Eduardo CamposFabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
“A família sente a necessidade de uma aprofundada análise do relatório do Cenipa. Mas, de pronto, lamenta que não tenha sido feito o teste com o simulador de voo”, diz a nota. Para a família de Campos, que era candidato à Presidência da República, o uso de um simulador de voo nas mesmas condições do dia do acidente seria importante para auxiliar a investigação.
De acordo com tenente-coronel Raul de Souza, da equipe de investigação do Cenipa, foram feitas tentativas junto à empresa fabricante do avião para realizar a simulação, mas não houve resposta. “Poderíamos ter acrescentado ou afastado algumas hipóteses [para o acidente]”, reconheceu o oficial.
Para o major aviador Carlos Henrique Baldin, o simulador apenas encurtaria o caminho para a conclusão das investigações, sem resultados diferentes. “A gente conseguiu suplantar a falta de simulador com cálculos manuais, matemáticos. Por conta disso, demoramos um pouco mais para concluir o relatório”, disse o militar em entrevista coletiva realizada após a divulgação do relatório.
Conjunto de falhas
De acordo com a investigação do Cenipa, uma série de fatores pode ter determinado a queda do avião que levava Eduardo Campos. Entre eles, o preparo insuficiente da tripulação. Nem o piloto, Marcos Martins, nem o copiloto, Geraldo Magela da Cunha, tinham feito cursos para pilotar a aeronave modelo Cessna 560 XL. Martins estava preparado para operar uma aeronave de modelo anterior, e o copiloto não tinha treinamento para nenhuma das duas versões.
O trajeto feito por Martins minutos antes do acidente também foi citado no relatório. O piloto informou, por rádio, que tinha tomado os procedimentos para pouso, mas a aeronave não estava na posição recomendada naquele momento do procedimento. Ele deveria ter feito duas curvas no espaço aéreo próximo à pista de pouso – chamadas bloqueio e rebloqueio –, mas seguiu direto em direção à pista, em uma espécie de atalho, segundo o relatório da Aeronáutica.
De acordo com o Cenipa, a falta de treinamento do piloto e o co-piloto naquele modelo de aeronave pode ter dificultado a arremetida do avião quando eles não conseguiram pousar e tentaram levantar voo. A rota inadequada somada à baixa visibilidade decorrente do mau tempo podem ter provocado uma “desorientação” em Martins e Cunha.
Apesar dos padrões de voz do copiloto, gravados durante o voo, demonstrarem aparente fadiga e sonolência, a equipe do Cenipa evitou atribuir culpa a Cunha. “A gente não tem como mensurar, apesar do teste de avaliação de voz. A gente não pode afirmar que isso [cansaço] tenha comprometido o desempenho [do co-piloto]”, disse o major aviador Baldin.
O Cenipa, apesar de concluir que houve falha humana, evitou responsabilizar apenas o piloto e o co-piloto pela tragédia. “A gente consegue inferir, com todas as informações, que a aeronave estava apta para o voo. Mas não foi 100% falha humana”, disse o tenente-coronel Souza.
Um relatório alternativo será apresentado amanhã (20), às 9h30, pela Associação Brasileira de Parentes e Vítimas de Acidentes Aéreos, em São Paulo. A entidade adiantou que o relatório vai expor falha mecânica da aeronave.
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