O México quer criar um imposto sobre alimentos gordurosos. Os Estados Unidos pretendem taxar bebidas que contêm muito açúcar para tentar resolver o problema da obesidade, que atinge milhões de pessoas. Mas a associação das onze principais empresas alimentícias do mundo rejeita tais impostos com veemência.
Esse foi apenas um dos tópicos de discussão durante a Conferência Internacional sobre Nutrição da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), que terminou nesta sexta-feira (21/11), em Roma.
Mesmo após o encontro entre representantes de 170 países e de organizações, importantes questões permanecem sem resposta, como o que precisa ser feito para reduzir a obesidade ou para combater a subnutrição na África e na Ásia.
Muitos representantes de países atingidos pela fome e subnutrição reconheceram que tais problemas são inaceitáveis, mas destacaram que houve avanços. Quase ninguém, no entanto, falou em compromissos para o futuro.
"Muitos tentaram colocar a alimentação no topo da lista de prioridades políticas. Isso é encorajador, mas não suficiente. Em países onde uma em cada duas crianças em idade de crescimento é desnutrida, a nutrição precisa ser o tema central da política", disse Neven Mimica, comissário para Cooperação Internacional e Desenvolvimento da União Europeia (UE).
Segundo Mimica, a UE irá doar 3,5 bilhões de euros para o combate à fome em países em desenvolvimento nos próximos anos. A doação não é novidade, pois já estava prevista no orçamento do bloco. O comissário anunciou que a UE se concentrará nas crianças atingidas pela fome e por uma dieta pobre.
"A desnutrição afeta 161 milhões de crianças, o que corresponde a 25% de todas as crianças no mundo. Não podemos aceitar isso. Nem sequer uma criança com fome seria aceitável. Num mundo cheio de conhecimento e prosperidade, simplesmente não podemos tolerar essa situação", afirmou Mimica.
Ao final da conferência em Roma, coordenada não apenas pela FAO, mas também pela Organização Mundial da Saúde (OMS), ficou a promessa de formulação de um programa de ação abrangente, com 60 pontos, nos próximos anos. Porém, não foi decidido um calendário concreto ou ferramentas de controle.
Qualidade também é importante
O ebola também foi tema na conferência. Ao abordar o assunto, a diretora-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Margaret Chan, destacou que a alimentação não está somente relacionada à quantidade, mas também à qualidade e à segurança dos alimentos.
O vírus do ebola teve origem em morcegos e macacos e, provavelmente, foi transmitido a seres humanos através do consumo de animais contaminados. Para Charles McClain – vice- ministro da Saúde da Libéria, um dos países mais atingidos pela epidemia atual –, é necessário uma mudança no comportamento alimentar.
"Devido à situação da carne de caça, investimos na criação de aves, peixes e suínos. Assim, esperamos contribuir para a segurança alimentar", disse o político em Roma.
Na Libéria e nos outros dois países gravemente atingidos pelo surto do ebola, Serra Leoa e Guiné, a epidemia também abalou a agricultura. Muitas culturas não foram plantadas ou colhidas, afetando diretamente a economia do país, afirmou McClain.
Além disso, as crianças também estão sofrendo consequências da epidemia. Muitas escolas tiveram que ser fechadas. "Os programas de alimentação escolar conduzidos pelo Programa Alimentar Mundial da ONU foram suspensos. Por isso, cerca de 127 mil crianças em idade escolar não recebem mais nenhuma refeição equilibrada", relatou McClain.
Ele afirmou que a Libéria ainda precisará de ajuda internacional por muitos anos para minimizar os efeitos da epidemia para a alimentação dos cidadãos do país.
Uma alimentação inadequada na infância pode ter consequências para a vida adulta. A FAO estima que o desempenho econômico de muitos países africanos e asiáticos poderia crescer 20% se as crianças tivessem uma nutrição correta.
Alimentação consciente
Muitos participantes da conferência em Roma defenderam uma alimentação equilibrada, assim como o consumo de alimentos locais. Em discurso feito no evento, nesta quinta-feira, o papa Francisco afirmou que produtos agrícolas não são produtos industriais comuns, negociados no mercado financeiro, mas têm um valor próprio.
O papa também censurou o desperdício de alimentos em países industrializados. Em resposta às críticas, representantes dos países membros da União Europeia se comprometeram a enfrentar o problema de maneira mais resoluta.
Mais atenção também deve ser dada ao 1,5 bilhão de pessoas que estão acima do peso. Um problema que atinge o mundo inteiro, e não apenas países ricos.
Apesar da falta de medidas concretas definidas na conferência, para Bernhard Walter, especialista para Segurança Alimentar da organização humanitária Brot für die Welt (Pão para o Mundo), da Igreja Evangélica da Alemanha, o evento teve saldo positivo. Muitos problemas foram abordados e geraram discussões relevantes, considera.
"Foi muito importante trazer o tema da desnutrição para a agenda internacional. Mas esse foi apenas um primeiro passo. Agora, precisamos ver como seguir adiante. É crucial que os países desenvolvam políticas e as apliquem", avalia.
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