Por que não posso ser falso à minha bandeira inicial se ela já não mais me representa?
Amigo torcedor, amigo secador, é como digo: homem que é homem muda até de sexo, mas não muda de time. A máxima, porém, só vale para nós, os amadores, os últimos românticos. Aos profissionais aplica-se outra regra. Vale ser mais volúvel que uma moça da Augusta, vale beijar o escudo de cada clube e morrer de amor por ele até que a janela de transferência ou um pé na bunda os separem.
Daí que vemos como uma tremenda bobagem, meu bem, querer envenenar o clássico Palmeiras x Corinthians com a filiação do Gladiador, ainda nos seus verdes anos, à Gaviões da Fiel. É apenas engraçado, vale uma tiração, e não passa disso. Doutor, eu não me engano, seu coração é corintiano. Há alguém que represente de forma mais legítima a massa alvinegra e fiel do que o Magrão, o filósofo greco-paraense Sócrates Brasileiro?
Basta uma visita aos arquivos sagrados de dona Guiomar, a mãe do mais ateniense dos ribeirão- -pretanos, para flagrar Sócrates enquanto jovem santista, como o pai, seu Raimundo, fãs declarados do Coutinho, o maior atacante que o doutor diz ter visto em campo. Força aí, amigo, foi bom te rever inteiraço após o susto. Viver, para o bem e para o mal, é como aquele "uhhh" das arquibancadas. Viver é susto.
Tu és tão querido que acabei de ser parado aqui em uma praça de Ourinhos, no bravo interior paulista, por uma turma que queria saber como estavas. Homens de todas as cores, classes e times. No Bar Doce, não queriam me deixar pagar a conta, só por causa da nossa proximidade. Finalmente, Magrones, estás servindo para alguma coisa. Risos, evidentemente, risos.
Mas é hora de retomar o nosso mantra inicial: homem que é homem muda até de sexo, mas não muda de time.
São raros os destemidos que trocam de camisa. Ou são ruins da cabeça ou não gostam tanto da coisa, digo, do futiba. O vira-casaca, porém, não deixa de ser um personagem interessantíssimo. Também conhecido, no Nordeste, como tapioca. E daí, por que não posso ser falso à minha bandeira inicial se ela já não mais me representa? Haja destemor e coragem. Nada óbvio.
Tem também aquele torcedor que se aposenta, por uma desilusão, um trauma. Conheço vários. Como também existiria o homem que odiava futebol e, uma vez sabendo da saga proletária do Gigante da Colina, mudaria de ideia, como me soprou anteontem no Rio o escritor Mauro Rosso: "Lima Barreto seria vascaíno, evidentemente".
E não se fala mais nisso.
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