GACC - Grupo de Assistência à Criança com Câncer

GACC - Grupo de Assistência à Criança com Câncer
Desde o início de suas atividades, em 1996, o GACC - então Grupo de Apoio à Criança com Câncer - existe para aumentar a expectativa de vida e garantir a oferta e a qualidade global do tratamento oferecido integral e indistintamente a crianças e jovens com câncer, diagnosticados com idades entre 0 e 19 anos incompletos, independente de sexo, cor, religião ou posição socioeconômica.

sábado, 27 de agosto de 2011

Moisés Mendes - Maria Madalena e Patrícia Acioli

Maria Madalena, a que seguia Jesus, testemunhou a crucificação e depois o viu ressuscitar, é o mais bem-acabado ícone de uma difamação. Você sabe o que falam dela. Maria Madalena teria sido uma prostituta que decidiu seguir o salvador para se purificar.

A Bíblia, que se lê como quiser, nem em suas linhas mais labirínticas insinua que Maria Madalena se prostituía. Mas de onde tiraram a ocupação da moça? E daí, se era prostituta?

Se não sabemos os culpados, que se dane a vítima. Maria Madalena poderia ser um dos mitos intocáveis do cristianismo. Ela ofereceu a prova de que Jesus seria o filho de Deus, ao vê-lo sair do túmulo e voltar a andar. Ficou por aí como uma louca, uma coitada, uma mulher avulsa. Mulheres que se metem onde não devem são um mal bíblico.

A juíza Patrícia Amorim, assassinada com 21 tiros ao combater as máfias do Rio, é a nossa mais nova Maria Madalena. Você sabe o que falam de Patrícia. Era valente, sim, mas metia o dedo na cara dos policiais que viraram bandidos. Não se enquadrava nas liturgias da magistratura. Namorou um cabo da polícia militar que lhe servia de escolta. Apanhava do cabo. O policial seria de uma facção adversária das milícias condenadas pela juíza. Dizem mais de Patrícia. Ela sabia que o cabo era torto, então também ela era torta. Dá para confiar numa juíza assim? De onde tiraram tudo isso? Do que se ouviu dizer, do que saiu de forma fragmentada na imprensa e da imaginação dos difamadores. Sai da boca de quem nos rodeia.

Patrícia poderia ser nossa heroína real, como contraponto civilizado ao capitão Nascimento, nosso herói primitivo de cinema. Iniciamos a destruição da memória de Patrícia no dia seguinte a sua morte, porque não nos consideramos merecedores do seu atrevimento. É nossa autoflagelação. A coragem da juíza não cabe na nossa acomodação. Vamos debater seus defeitos. Se nada sabemos dos assassinos, nos dediquemos à dissecação da vítima.

Você vai saber mais das “fraquezas” da juíza e é quase certo que não saberá quase nada dos criminosos. Matando Patrícia todos os dias, com nossos trabucos morais, nos livramos de um desconforto. O que vamos fazer dessa mártir imperfeita?

Por que lidar com uma heroína que não entendemos, se temos heróis – e masculinos – menos complexos? A juíza estaria no lugar errado, assim como Maria Madalena não tinha que se meter com aqueles cabeludos. Não há como enfrentar métodos seculares de difamação.

No listão de vestibulandos aprovados pela UFRGS no ano passado, há centenas de Lucas, Marcos, Tiagos, Mateus, Joões, Josés. Há 29 Marias – Marias de Fátima, Marias Cristina, Isabel, Aparecida, Eduarda, etc., mas nenhuma Maria Madalena. Tenho ciúme de quem batiza uma filha com o nome de Maria Madalena.

Se a moça bíblica foi prostituta, como dizem, no que isso a desqualifica? E se a juíza valente era mesmo “uma pessoa complicada”, como a define a moral mediana dos seguidores de detratores, no que isso compromete sua bravura? Os difamadores merecem o capitão Nascimento, que combate milícias e máfias sem complicar ainda mais nossas aflições.

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