GACC - Grupo de Assistência à Criança com Câncer

GACC - Grupo de Assistência à Criança com Câncer
Desde o início de suas atividades, em 1996, o GACC - então Grupo de Apoio à Criança com Câncer - existe para aumentar a expectativa de vida e garantir a oferta e a qualidade global do tratamento oferecido integral e indistintamente a crianças e jovens com câncer, diagnosticados com idades entre 0 e 19 anos incompletos, independente de sexo, cor, religião ou posição socioeconômica.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Três letras e uma armadilha

A reação contrária dos analistas de mercado ao polêmico corte dos juros básicos, na reunião do Copom da semana passada, mesmo muito mais forte do que o usual, não chegou a surpreender. Acostumados a um Banco Central disposto a apertar o gatilho de alta na taxa Selic ao primeiro sinal de escape dos preços a uma trajetória de convergência para o centro da meta de inflação, os analistas já andavam desconfiados com o comportamento do BC da presidente Dilma Rousseff. Com a decisão do fim de agosto, as desconfianças em relação à perda de autonomia e ao abandono do regime de metas elevaram-se ao nível das certezas.

Se bem que a redução de 0,5 ponto porcentual na taxa básica tenha sido apoiada por representantes de setores da chamada economia real - o que surpreende menos ainda -, não é bom que a credibilidade do BC seja posta em xeque por um amplo segmento de formadores de expectativas de preços, como é o caso do setor financeiro.

O pior de tudo é que tanta celeuma acaba confinada a uma estreita faixa de manobra. Por mais que a economia mundial desabe e o novo mix da política macroeconômica brasileira - combinação de expansão monetária e contração fiscal - faça sentido, seu alcance, no quadro atual, tende a ser muito restrito.

Desde que o Plano Real recuperou a capacidade de o BC promover políticas monetárias ativas, o que foi reforçado pelo sistema de metas de inflação, a economia brasileira jamais deixou de figurar entre as campeãs dos juros altos. Toneladas de papel, litros de tinta e milhares de horas de seminários e workshops foram gastos na tentativa de encontrar as causas do "mistério dos juros altos".

Muitas explicações circulam na praça. Além do descontrole e da má qualidade dos gastos públicos, há quem atribua o "mistério" ao caráter dos brasileiros, viventes avessos à poupança e ao longo prazo, por uma deformação produzida por décadas de hiperinflação e/ou por um generoso sistema de proteção social. Outros localizam o centro do problema na rigidez e amplitude do crédito direcionado e, mais recentemente, na ampliação e concentração de linhas subsidiadas operadas por bancos públicos.

O governo, no entanto, prefere outro diagnóstico. Cresce, na Fazenda, a convicção de que uma parcela crítica da histórica resistência dos juros na economia brasileira deriva do peso das Letras Financeiras do Tesouro (LFTs) na composição da dívida pública. Um programa de redução do peso das LFTs está em gestação em Brasília.

As LFTs, criadas em 1987, na saída do Plano Cruzado 2, pelos futuros pais do Plano Real, são atreladas à taxa Selic e conectam o mercado monetário com o mercado da dívida pública - essa conexão é um caso único no mundo. O título, que nasceu em ambiente de hiperinflação, resiste bravamente à estabilização monetária, já tendo chegado a representar dois terços do total da dívida mobiliária, na passagem do segundo governo FHC para o primeiro mandato de Lula. Ainda hoje responde por um alentado terço da composição da dívida pública.

Agora, o governo sonha em restringir a participação das LFTs na dívida pública a uns 5% do total até 2014 - meta tida como excessivamente ambiciosa, pelas resistências dos detentores dos papéis e os consequentes custos para o Tesouro de uma troca maciça de títulos com rendimento diário e sem risco por papéis pré-fixados, sobretudo em ambiente de inflação relativamente elevada. Não é difícil entender, apesar da complexidade do tema, qual é, na visão do governo, o problema provocado por mais essa das nossas jabuticabas econômicas. Num resumo da história, argumenta-se que a mesma taxa com a qual o BC procura calibrar a inflação, de acordo com a meta, é a que o Tesouro é obrigado a usar para rolar uma parcela significativa da dívida pública.

Se o diagnóstico do governo estiver correto, o protagonismo das LFTs na composição da dívida pública expõe uma armadilha que produz distorções de grande monta na economia e reduz a eficácia da política econômica. Para começo de conversa, a função de rolar a dívida impõe resistência a cortes mais acentuados da taxa básica de juros. Além disso, por estimular a preferência dos aplicadores pelo curto prazo, inviabiliza a formação de linhas de financiamento privado de longo prazo. Não há quem discorde de que é preciso reduzir o peso das LFTs na dívida pública. Como fazê-lo, porém, é motivo de infindáveis polêmicas. Se o governo acha que, para reduzir os juros, é necessário tirar as LFTs de cena, seus críticos alegam que só reduzindo os juros será possível se livrar delas.

Uma nova independência

Como um simples tropeiro, sujo e com dor de barriga, foi assim que D. Pedro proclamou a Independência do Brasil, segundo Laurentino Gomes. Se os fatos daquele 7 de setembro de 1822 correspondem a esta versão, ou à imagem épica do brado retumbante às margens do Ipiranga, não vem ao caso aqui; o importante é que o Brasil ainda é uma república inacabada.

Se antes éramos colônia de Portugal, hoje somos súditos de Brasília. O Executivo governa com "medidas provisórias" de dar inveja aos decretos da ditadura. A carga tributária já chega a quase 40% do PIB. Há excesso de leis e regulações. O cidadão é tratado como um incapaz que necessita da tutela do Estado. Até quando vamos tolerar isso?

Amanhã celebraremos 189 anos de Independência. Peço ao leitor que, antes de abrir a merecida cerveja no feriado, dedique alguns minutos à reflexão acerca de nosso país. Vivemos em tempos de acelerada decadência moral e completa desmoralização da política. "Quando os que mandam perdem a vergonha, os que obedecem perdem o respeito", alertava o cardeal de Retz.

O brasileiro trabalha até maio apenas para sustentar uma máquina estatal ineficiente e corrupta. Em contrapartida, não tem segurança, educação, saúde ou infraestrutura decentes. O Estado falha em suas funções precípuas, enquanto estende seus tentáculos a inúmeras áreas que não deveria. Em nome da "justiça social", o Leviatã estatal se transformou numa gigantesca máquina de transferência de riqueza, cobrando enorme pedágio por isso. Não satisfeito, ainda quer ressuscitar a CPMF!

Recentemente, o Congresso desferiu mais um duro golpe nos brasileiros honestos, com a votação secreta que absolveu Jaqueline Roriz. Ela foi pega em vídeo recebendo propina, mas se alegou que o episódio ocorrera antes de sua eleição. Eis o escárnio total com que os deputados tratam seus eleitores: roubar pode, desde que não seja pego até as eleições. Tanto absurdo deveria parar o país, só que muitos estão perdendo a capacidade de indignação. Um rumo deveras perigoso.

Mas o espetáculo precisa continuar. Seguem batendo o bumbo da "faxina" contra a corrupção, ignorando detalhes importantes: as atitudes da presidente Dilma foram sempre reativas; ela veio do mesmo governo Lula que a antecedeu; Erenice Guerra, acusada de corrupção, estava ao lado de Dilma no dia da posse; e a própria presidente já sinalizou que a "faxina" acabou. É esta a "faxineira" que desperta tanta esperança na classe média?

A presidente alterou o discurso sobre austeridade fiscal. Aquilo que antes era considerado "rudimentar" agora é defendido como necessário para reduzir a inflação. Mas, novamente, vemos que o espetáculo é mais importante que o resultado. O governo pretende ampliar em R$10 bilhões o superávit primário, sendo que os gastos públicos chegam a R$1 trilhão. Algo análogo a uma família endividada que gasta R$10.000 anunciar uma redução de R$100 nas despesas, para "arrumar" as finanças.

Como o governo não reduz seus gastos, não desarma a bolha de crédito do BNDES e não aprova uma única reforma estrutural, resta derrubar os juros na marra. Foi justamente o que vimos semana passada, numa decisão inesperada do Copom, mesmo com inflação acima da meta. Trata-se de mais uma independência necessária: a do Banco Central. Quando este deixa de ser o guardião da moeda e passa a ser cúmplice do governo gastador, abrem-se as comportas da inflação galopante.

Não obstante, o brasileiro esclarecido parece acovardado, sem esperanças ou forças para lutar. Mas a apatia não nos levará a lugar algum além de mais abuso de poder. O derrotismo das pessoas de bem é grande aliado dos corruptos. O dirigismo estatal e a impunidade andam de mãos dadas com a corrupção. É preciso ter coragem para se erguer contra isso. É preciso ter visão de longo prazo, lutar contra a miopia daqueles que trocam a liberdade por migalhas, ainda que de ouro. Todos querem "direitos", mas ninguém quer responsabilidades. As mudanças dependem de nós.

Por isso, caro leitor, peço a você que use algum tempo ocioso neste feriado para pensar no que fazer de concreto para melhorar as coisas. Precisamos conquistar uma nova independência, desta vez dos abusos de Brasília. Se cada um colaborar à sua maneira, em vez de apenas se resignar ou esbravejar num bar com os amigos, quem sabe teremos alguma chance?

Aproveito e o convido a conhecer o trabalho do Instituto Millenium (www.imil.org.br), que luta pela democracia, a economia de mercado, o estado de direito e a liberdade, tão em falta neste país.

O custo da corrupção - GIL CASTELO BRANCO

Dizem que a primeira grande oportunidade para a corrupção prosperar surgiu na criação do mundo. Com o diabo à espreita e a inexistência de tribunais de contas, a "obra" foi realizada em seis dias, sem licitação. Ao que se saiba, não foi instalada qualquer Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) e nenhuma suspeita foi levantada quanto à idoneidade do Criador...

De lá para cá, os desvios se avolumaram pelos quatro cantos do mundo. O Banco Mundial estima que US$1 trilhão por ano sejam tragados pelos corruptos. O valor corresponde a 1,6% do PIB mundial em 2010 (US$63 trilhões), superando em 43% o gasto dos Estados Unidos com armamentos (US$698 bilhões). Paradoxalmente, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) considera que US$30 bilhões por ano são suficientes para acabar com a fome de quase um bilhão de pessoas no planeta. Assim, tal como no Brasil, "faxina mundial" em favor da moralidade poderia eliminar a miséria. Pura utopia.

Na realidade, a quantificação dos malfeitos é difícil, pela óbvia ausência de recibos e notas fiscais. No entanto, recentemente, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) divulgou estudo sobre o impacto da roubalheira em nosso país, concluindo que os desvios giram entre R$50,8 bilhões e R$84,5 bilhões por ano, algo em torno de 1,4% a 2,3% do PIB brasileiro em 2010.

Na hipótese otimista, tomando-se o extremo inferior do intervalo, o montante de R$50,8 bilhões é equivalente às ações concluídas entre 2007 e 2010 no setor de logística do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Em outras palavras, em cenário fictício de um ano sem corrupção, o país teria recursos para duplicar as obras realizadas nos últimos quatro anos em rodovias, ferrovias, marinha mercante, aeroportos, portos e hidrovias.

Na área social, com R$50,8 bilhões poderiam ser construídas 918 mil casas populares do programa Minha Casa, Minha Vida ou 57.600 escolas para as séries iniciais do ensino fundamental. É evidente, portanto, a imensa participação da desonestidade no chamado Custo Brasil.

Os cálculos realizados pela Fiesp derivam da pesquisa sobre o Índice de Percepção da Corrupção, realizada pela ONG Transparência Internacional. Desde 1995, a entidade atribui notas de 0 a 10 aos países mais ou menos corruptos, respectivamente. Ao longo desses 16 anos, a nota média do Brasil foi 3,65. Em 2009 e 2010, a nota 3,70 aproximou-se do valor médio, demonstrando que nas últimas décadas a situação é estável. Em resumo, há anos estamos sendo reprovados nessa matéria.

No domingo passado, o jornal "Folha de S.Paulo" divulgou interessante estudo do economista da Fundação Getúlio Vargas Marcos Fernandes da Silva, contabilizando os desvios de recursos federais descobertos no período 2002 a 2008. A soma de R$40 bilhões, apurada pelos órgãos de controle, obviamente não inclui o que permaneceu desconhecido, além das falcatruas nos estados e municípios. Assim, é apenas a ponta do iceberg.

O diagnóstico sobre as causas da corrupção brasileira é quase unânime. A colonização de 300 anos é o componente histórico. Outros pontos fundamentais são a imunidade parlamentar, o sigilo bancário excessivo, a falta de transparência das contas públicas, a elevada quantidade de funções comissionadas, os critérios para nomeação de juízes e ministros de tribunais superiores, o foro privilegiado para autoridades, os financiamentos de campanhas eleitorais, as emendas parlamentares e a morosidade da Justiça. Esses aspectos, em conjunto ou individualmente, levam à impunidade.

Apesar do consenso quanto aos focos que realimentam as fraudes, cerca de 70 projetos de lei estão engavetados no Congresso Nacional. Versam sobre a responsabilização criminal das empresas corruptoras, criação de obrigações para as instituições financeiras, sanções aplicáveis aos servidores no caso de enriquecimento ilícito, dentre outros temas relevantes. Enquanto isso foi votada a absolvição da deputada Jaqueline Roriz.

No Brasil, a oportunidade faz o ladrão. Com a proximidade da Copa de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016, a bola da vez são as obras nos estádios e de mobilidade urbana, além dos cursos de capacitação. Somente para a Copa já estão previstos investimentos de R$23,9 bilhões, valor que vai crescer. A possibilidade de a corrupção aumentar nos próximos anos é enorme. Afinal, em nosso país, realizar obra de grande porte sem risco de desvio de recursos é missão quase impossível. É tarefa para o Criador.

Tenho saudade de mim

Estava a ler o texto de Adauto Novaes (nosso filósofo sem torre de marfim) sobre a preguiça - tema de seu seminário/livro atual. Na realidade, são estudos sobre a lentidão, neste mundo cada vez mais veloz. E, aí, tive saudades da calma, do princípio, meio e fim, tive saudade das "geladeiras brancas e dos telefones pretos", das manhãs, tardes e noites, separadas pela luz que se coloria do rosa ao negro e se apagava aos poucos, tive saudade das mortiças casas de família, até da infelicidade de antigamente - de novela de rádio -, de lágrimas furtivas, dos casais com olhos sem luz, depois de casamentos esperançosos com buquês arrojados para um futuro que ia morrendo aos poucos.

Estou com saudades de tudo. De mim, inclusive. "Saudades" ou "saudade"? Tenho saudade (s) de meu velho professor de português, magrinho, irritadiço e doce, Luis Vianna Filho, que me bradava: "O senhor não tem acento circunflexo!", apontando meu nome que meu avô árabe registrara "Jabôr". E continuava: "Jabor é o certo. A única palavra dissílaba da língua terminada em "or" que tem circunflexo é "redôr", para diferenciar de "redor, em volta de", pois redôr é o pobre-diabo que fica puxando o sal nas salinas, com um rodo".

Lembrei-me dos miseráveis "redôres" de Cabo Frio, lembrei de minha juventude quando achei, por acaso, uma velha fotografia de jornal, em preto e branco, da passeata dos Cem Mil em 1968 na Cinelândia. No meio da multidão da foto, vi emocionado um pequeno rosto granulado - eu mesmo, ali, sentado no chão, ouvindo os discursos de Vladimir Palmeira e (talvez) de Dirceu -, bonito, cabelo longo, hippie guerreiro.

Tive uma nostalgia do passado até com a recente "reprise" de José Dirceu na mídia como poderoso chefão dos soviéticos que, aliás, aproveitaram os últimos escândalos para reciclar o lixo bolchevista de "controlar a Imprensa". (Eles não desistem). Fiquei nostálgico porque Dirceu era também uma sobrevivência do passado em minha vida. E tive uma bruta saudade da utopia. Sempre critiquei o Dirceu porque ele, do passado em preto e branco, tinha querido invadir o presente com uma subversão regressista, que poderia nos jogar de volta a um tempo morto. Muito mais do que os milhões desviados do "mensalão", critiquei-o ideologicamente, porque ele liderava uma tendência, viva ainda hoje, de se "tomar o Estado", "desapropriando" o dinheiro público pelo "bem do povo". Dirceu caiu por uma tentativa que mais uma vez falhou, em nossa esquerda de trapalhões, como foi em 63 ou em 68, no Congresso de Ibiúna.

Mas, mesmo assim, fiquei com saudade de mim mesmo. Tenho saudade de mim ali, com o rosto cheio de esperança na passeata, achando que mudava a história e que o mundo era fácil de mexer.

Como eu gostaria de explicar aos jovens de hoje o que era a infalível "certeza" daquela época remota, o que era a delícia de viver sentindo-se no "bom caminho", na "linha justa", salvando o futuro. Hoje, ninguém sabe o que era o sentimento de harmonia, de totalidade, em um mundo fragmentado e frio. Hoje, os meninos vivem em galáxias de informações, quando não há mais lugar para "A Verdade". Os jovens que nascem no grande deserto virtual não sabem que vivíamos num rio que corria para o futuro, em direção a uma felicidade completa, com lógica, com Sentido. Tenho saudade do futuro que hoje se espraia como uma grande enchente suja, sem foz, um deserto sem ponto final. Hoje sabemos que não há mais futuro nem chegada - só caminho.

Tenho saudade do amor da juventude, da minha namorada comunista - nós dois no sofá-cama do "aparelho" clandestino do PCB em Copacabana, o sofá-cama rasgado, com a mola aparecendo, onde nos amávamos antes da reunião da "base" com medo que chegasse o supervisor, um "camarada" com um doce nariz de couve-flor rosado e tristes sapatos pretos com meias brancas, que nos falava, melancólico, do imperialismo norte-americano. Tenho saudades dela, linda, corajosa, no apartamentinho com o cartaz dos girassóis do Van Gogh e uns livros da Academia Soviética, numa prateleira sobre dois tijolos.

Para nós, comunas, até a morte era pequena, como nos ensinava o camarada de nariz rosado: "O marxismo supera a morte, pois uma vez dissolvido no social, o indivíduo perde a ilusão de existir como pessoa. Ele só existe como espécie. E não morre!" E eu, marxista feliz, sonhava com a vida eterna...

Tenho saudade das madrugadas cheias de esperança, as madrugadas políticas, a boemia de esquerda, soldados de uma guerra imaginária. Meu Deus, como eu era importante, como me senti útil quando ajudei um pouco a luta armada, quando levei no meu fusca um casal de feridos sangrando no banco de trás, até um "aparelho", quando o líder da célula pegou o volante e eu fui ao lado, de olhos fechados para não saber onde estávamos - se bem que espreitei pela fresta das pálpebras e vi o casal mancando em direção a um prédio. Tenho saudades dessa trágica solidariedade, mas tremi nesse dia, pois comecei a entender que não havia apenas um deserto à nossa frente, mas uma avalanche de obstáculos imensos e que íamos acordar de um sonho para um pesadelo. Entendi que éramos fracos demais para moldar a realidade e que a vontade não bastava, pois as coisas comandavam os homens e a vida tem um curso próprio e misterioso. Entendi que ser político e lutar pelo futuro exige vagar e respeito pela insânia do mundo e que a tragédia é parte essencial da vida e que tentar saneá-la pode levar-nos a massacres piores. Entendi que luta política se faz com humildade e que só a democracia é revolucionária no Brasil. Fora isso, é o desastre. Mas, tenho saudade da mistura de poesia com revolução que era nossa vida, tenho saudade desse narcisismo onipotente e inocente, tenho saudade da esperança e da ilusão.

Em setembro - MIRIAM LEITÃO

No governo se temia o mês de setembro, mais do que agosto, que tem fama de período difícil. Por um motivo: os diretores das grandes instituições financeiras internacionais, administradores dos fundos de investimentos e hedge funds retornam das férias e reformulam suas carteiras diante dos novos eventos. A frase que ouvi em Brasília: "Em setembro, as bruxas voltam."

Ontem, nessa retomada do mercado financeiro internacional depois das férias de agosto, o que houve foi queda geral das bolsas e mais uma rodada de boatos, desta vez sobre a Itália estar para ser rebaixada, enquanto o país começava a debater o pacote de austeridade. Há fatos que deixam o mundo com a respiração presa, como os que vão acontecer na Alemanha. Amanhã, dia 7, a Corte alemã votará a legalidade do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (Feef) e, no fim do mês, o Parlamento alemão votará a ampliação do poder desse Fundo. Qualquer um dos dois fatos, mas principalmente o de amanhã, pode detonar uma crise de confiança em relação ao euro.

É exatamente esse cenário de incerteza que o Banco Central mostrou que temia ao tomar a decisão de baixar os juros. A convicção demonstrada é a de que esses tremores no mundo derrubariam a atividade e, portanto, a inflação no Brasil. A atividade está de fato cada vez mais fraca, mas não a inflação, como se pode ver no gráfico abaixo, que mostra a evolução das previsões das 100 instituições financeiras e consultorias pesquisadas semanalmente pelo Banco Central sobre o ano de 2011.

Na primeira pesquisa divulgada pelo Banco Central no mês de setembro o que se vê é a mesma divergência desagradável: a inflação está com tendência de alta neste ano e no próximo; e o crescimento, com tendência de queda. É só uma pesquisa feita pelo BC e as expectativas podem mudar, mas por enquanto o resultado é exatamente aquela mistura que ninguém quer, de menor crescimento e mais alta de preços.

O que está subindo neste momento é a expectativa de inflação ao fim do ano, porque a inflação, em si, vai cair no acumulado de 12 meses dos 7% atuais para um nível menor. Por enquanto, o mercado ainda prevê que fique dentro do espaço de flutuação do sistema de metas: 6,38% no final do ano. Isso, porque o último trimestre de 2011 tem chance de ser melhor do que o final de 2010. Mas um relatório da MB Associados mostra que a lista de alta de alguns produtos assusta: açúcar está com 35% de alta nos últimos 12 meses; álcool anidro, 43,6%; hidratado, 49%; café arábica, 60%; milho, 39%. Alguns desses produtos estão com problemas temporários, outros enfrentaram quebras de safra, como o álcool e o milho. As lavouras americanas de milho e soja estão com problemas ou por excesso de chuvas ou pela seca. Isso eleva também o preço da ração, que afeta o custo de produção da carne, segundo Rafael Ribeiro, da Scot Consultoria.

Outra lista de preços feita pelo economista Sérgio Vale, no Comentário de Conjuntura da MB, é a que mostra como o problema dos serviços está grave. Aluguel, cinema, estacionamento, médico estão com altas acima de 10% nos últimos 12 meses. Serviço bancário, 12%; hotel, 13,2%; mudança, 16% de alta, no mesmo período.

Apesar dessa alta de preços, a previsão de crescimento está em queda a cada nova pesquisa do Banco Central. Hoje, a expectativa é de menos de 4% para 2011 e 2012. Mesmo assim, a projeção é de juros em queda, porque a convicção geral é de que o BC vai continuar o movimento que começou na semana passada.

Uma análise feita pelo economista João Pedro Resende, do Itaú BBA, mostrou que dos países da região com o regime de metas de inflação - Chile, México, Colômbia e Peru - o Brasil está com a maior taxa. Peru está acima do teto da meta, mas é porque lá é de 2% e eles estão com 3,4%. O México está com inflação de 3,55%, a Colômbia está com 3,4%. O Chile tem meta de 3% e está com 2,9%. Por outro lado, todos eles têm taxas de juros bem mais baixas do que o Brasil: México e Colômbia, 4,5%; Chile, 5,25%; e Peru, 4,25%. O Brasil com seus 12% realmente parece um ponto fora da curva. Tudo o que resta é torcer para que o mês não seja tão conturbado quanto começou.

Caetano Veloso - Auto-Tune

O poder de interferir digitalmente na imagem (e no som) mudou o sentido do retoque

Auto-Tune é um processador, um plug-in, que você usa para afinar uma voz ou um instrumento numa gravação. É um manipulador de pitch, altura (não no sentido popular de “volume” mas no propriamente musical de subida ou descida entre sons graves e agudos). Uma vez comparei o uso do Auto-Tune ao do Photoshop, e Fernando Salem não gostou da comparação. Eu estava tentando explicar o mal-estar que tendemos a sentir quando percebemos que uma voz afinadíssima num CD foi tratada com essa ferramenta e, além de notar falsidade na lisura da nota e mudança no timbre da voz, ficar triste por não poder mais estar seguro a respeito de um cantor novo quanto a sua capacidade musical. (Meu filho Zeca me mostrou no You- Tube uma cantora pop americana que soava afinadíssima no clipe da gravação de estúdio e muito desafinada numa apresentação ao vivo.)

O Photoshop não nos deixa seguros quanto à situação real da pele ou dos músculos de uma pessoa fotografada — para dizer o mínimo. Houve um caso em que a “Economist” retirou alguém de perto de Obama numa foto de capa (era uma dessas capas simbólicas que a “Time” popularizou, e não uma informação jornalística, mas deu discussão). Nos perguntamos que uso Stalin faria da manipulação de fotos com tamanha precisão e poder de convencimento.

Salem relembra os retoques e as adições de cor tão populares em retratos de família feitos para pôr na parede das casas. Eu completaria lembrando que as imagens das estrelas nas capas e páginas das revistas que líamos em nossa infância não estavam isentas de intervenções. Os retoques eram mais perceptíveis à primeira vista — esta é a única diferença entre os tratamentos de imagem de uma “Fatos e Fotos” e do perfeito sumiço das celulites em retratos de supermodels em revistas atuais. O poder de interferir digitalmente  na imagem (e no som) mudou o sentido do retoque.

O Auto-Tune (como o Melodine e outros congêneres) também tem seus antepassados. A edição de trechos (mesmo sílabas) mais afinados, criando uma performance toda correta a partir de muitos pedaços de outras cheias de defeitos é apenas um exemplo. Mas quero ir mais longe aqui. A ideia é considerar o advento do Auto-Tune como algo semelhante ao advento do microfone elétrico. Não só Cher e T-Pain — mais Kanye West e tantos seguidores — mostram que pode haver um “cantar bem” que já conta com esse tipo de plug-in: ouvindo o jovem James Blake utilizar ferramentas de manipulação de pitch em números ao vivo (sim, mesmo entre cantores convencionais já faz tempo que se usa também ao vivo corretores de afinação, com resultados variados), percebemos que um uso artístico, propriamente musical, pode ser atingido nas relações entre o modo de cantar e o manuseio dos efeitos que essas ferramentas oferecem. Os critérios de julgamento da capacidade de cantar mudam com as novas tecnologias. Como mudaram quando microfones sensíveis deixaram para trás a necessidade de potência vocal. Quando eu era menino — e apesar da existência de Mário Reis — ainda era valor estético exigível que o cantor tivesse uma voz grande. Eu disse valor estético. Não era uma mera medição de potência vocal. Cantar bem significava poder e saber projetar intensamente a voz.

As gravações de Noel Rosa, de Cole Porter ou de Ary Barroso cantando eram acolhidas como documentos, não como performances que valessem por si mesmas. Mário Reis foi o primeiro a levar às últimas consequências o uso do microfone elétrico entre nós. Talvez seja um pioneiro mundial. Mesmo Chet Baker foi considerado um mau cantor por seus pares americanos. João Gilberto criou um estilo intrincado e tão rico a partir do uso mínimo da voz que praticamente encerrou o assunto. Mesmo assim, encontrou muita resistência entre críticos, colegas e, sobretudo, divulgadores de gravadoras.

Eu não conhecia James Blake. A bem dizer, ainda não conheço. Mas meu amigo Duda me mandou um link para uma apresentação dele no festival do Pitchfork, e eu fui olhar mais dois exemplos no YouTube. Ele usa manipuladores de altura em combinação com as intenções da emissão vocal de um modo tão sofisticado que parece ter dado um passo interessante nessa discussão.

É sabido que alguns cantores americanos fizeram questão de explicitar na contracapa de seus discos que não havia uso de nenhum artifício para afinar seus gorgeios. Outros o superexpõem. A sensação de que o uso pode ter resultados opostos ao pretendido, ou seja, fazer parecer que alguém canta bem, a gente pode ter ouvindo algumas gravações brasileiras em que o truque é usado mas o material inicial não é congenial a ele. Há uma canção que escrevi para Gal cantar que trata de modo oblíquo desse assunto, no novo disco. Passamos por todas as etapas sobre as quais falei acima durante a pós-produção da faixa. Resolvemos por deixar a voz dela sem o retoque, enquanto canta exatamente a respeito do assunto, e usamos o artifício — de modo ostensivo — apenas quando ela cantarola improvisadamente, sem palavras. E nesse uso, deixamos aparecer tanto a graça que pode advir de processos como esse quanto a relativa inadequação que pode haver entre certos estilos e sua utilização.

Estou no Colorado, num festival de cinema. O lugar é lindo. Tenho tarefas aqui. Devo ter escrito de modo mais confuso do que o habitual. Hoje apresento “Deus e o Diabo” para gente exigente. Penso no disco de Gal e no destino do Brasil. O mundo se vira.

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segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Após ver a relação do TSE , vejos que vai faltar partidos em caraguatatuba



























Justiça Eleitoral de Jundiaí e Itupeva quer receber o eleitor no feriado

Nesta 4ª feira, 7 de setembro, as Centrais de Atendimento Biométrico ao Eleitor de Jundiaí e Itupeva funcionarão, em regime de plantão, das 8 às 17 horas. Como se trata de um feriado no meio da semana, a Justiça Eleitoral espera receber um bom número de eleitores desses municípios, que devem comparecer munidos de documento de identificação com foto, título de eleitor e comprovante de residência. Esse é um recadastramento obrigatório e quem não comparecer terá o título cancelado.
A Central de Atendimento em Jundiaí funciona na rua dos Bandeirantes, 103, centro. Até agora, dos quase 270 mil eleitores, foram recadastrados 26.378 mil, o que representa cerca de 10% do eleitorado. O prazo final para o recadastramento em Jundiaí vai até 16 de dezembro.
Já a Central Biométrica de Itupeva funciona no Center Fênix, na rua Emancipadores do Município, 470, centro. Como os trabalhos biométricos começaram em maio, o prazo final para o eleitor de Itupeva é mais apertado: 21 de outubro. Até agora, dos 27,5 mil votantes, foram recadastrados 14 mil, mais de 50% dos eleitores.
A Justiça Eleitoral tem feito ampla divulgação do funcionamento de ambas as Centrais, inclusive com previsão para sábados e feriados (ver tabela abaixo), a fim de alertar o eleitor a não deixar para a última hora, quando as filas serão inevitáveis e o atendimento mais demorado. Quando não há filas, o eleitor consegue ser atendido em cerca de 10 minutos e já sair com seu novo título eleitoral em mãos. 

Funcionamento da Central em Jundiaí
 
7/9/2011 feriado
12/10/2011 feriado
28/10/2011 feriado
1º/11/2011 feriado
2/11/2011 feriado
15/11/2011 feriado
3/12/2011 sábado
8/12/2011 feriado
10/12/2011 sábado


Funcionamento da Central em Itupeva

7/9/2011 feriado
1º/10/2011 sábado
8/10/2011 sábado
12/10/2011 feriado
15/10/2011 sábado

PV estadual desliza na prestação de contas

Na sessão de ontem, a corte paulista desaprovou as contas dos diretórios estaduais do Partido Verde (PV) relativas ao exercício de 2008 referentes ao exercício de 2008. 

Com a decisão, a agremiação tive pela segunda vez no ano, a suspensão de novas cotas do fundo partidário. 

Em março, foram desaprovadas as contas relativas ao ano de 2007.
PV
Segundo o relator do processo do PV, juiz Encinas Manfré, as contas de 2008 prestadas pela sigla apresentavam diversas e graves irregularidades que não foram corrigidas ou sanadas, apesar de o partido ter sido intimado. 

Assim, o juiz determinou a devolução de R$ 34.818,49 ao Fundo Partidário, pois se refere a recursos de origem não identificada, e suspensão do repasse desse Fundo por um mês. 

A agremiação já havia tido o repasse de novas cotas do fundo partidário suspenso por um mês devido à reprovação das contas prestadas referentes ao exercício de 2007.

O Paradoxo da Homofilia

Não errei, não. Não quis me referir à doença hematológica que faz com que seu portador necessite transfusões de hemoderivados frequentes. Vou, na verdade, falar sobre outra doença, essa talvez mais grave, mais prevalente, mais vil…
Por detrás da manchete, “apenas” mais um caso de agressão a  uma “bichinha”. Chamou minha atenção, o fato de o agredido trabalhar na área da Saúde. Talvez por essa razão, minha máquina de esquecer não tenha funcionado direito e remoí esse fato alguns meses até que uma outra estória me fez lembrar do que não tinha esquecido…
Como é de conhecimento dos poucos, porém altamente seletos leitores e leitoras deste blog, gasto ainda grande parte do meu tempo em unidades de terapia intensiva pelos hospitais da grande São Paulo. Tenho notado que a área da Saúde trata seus não-heterossexuais da mesma forma que outras áreas do mercado de trabalho “teoricamente” menos esclarecidas sobre as nuanças da sexualidade humana, a saber, com preconceito e violência. Tenho convivido com médicos, médicas, enfermeiras e enfermeiros, fisioterapeutas entre tantos outros profissionais da área da Saúde, aberta ou veladamente homossexuais, e tenho uma estória para o caso específico do homossexual masculino, levemente efeminado, denominado vulgarmente de “bichinha”, por vezes com o escárnio da pronúncia dos “S” entredentes.
Um homem de 54 anos, empresário bastante bem-sucedido, em um passeio motociclístico de sábado de manhã, bastante comum atualmente na cidade de São Paulo, sofreu um acidente relativamente grave. Fraturas de costelas, traumatismo raquimedular (lesão da coluna vertebral), múltiplas escoriações. Foi para UTI. Com o famigerado colar cervical, intubado e necessitando de ventilação mecânica, logo se recuperou. Jovem, não tinha nenhuma doença crônica associada. Na célula que ficou internado na UTI, o técnico de enfermagem da manhã foi sempre o mesmo. Um pouco mais de 20 anos, bem menos que 30. Gay desses que não deixam dúvida, porém sem ser afetado ou escrachado demais. Pelo menos durante o trabalho. Pelo contrário, a forma e o carinho como cuidava do corpo inerte, por vezes malcheiroso e grande do paciente acidentado transmitia extrema competência. Transparecia a todo o momento o treinamento recebido. Costumo dizer que um profissional começa-se a avaliar pela forma como veste-se com o uniforme. Quem trabalha direito tem um relação com o traje de trabalho, acaba encontrando um jeito de arrumar a touca ou vestir o avental, de deixar os óculos de proteção (chamamos tudo de EPI – equipamento de proteção individual) de um jeito próprio. As mesmas atividades são feitas com elegância particular e tudo isso junto, faz com que admiremos o profissional no exercício de suas funções. Assim era o rapaz. Medicações, banhos, eletrocardiogramas, mudanças de decúbito, instalação das dietas, tudo feito corretamente, com zelo e segurança. O paciente melhorou, acordou, saiu do ventilador, sentou na cama, tirou a sonda nasoenteral para alimentação e começou a receber dieta oral, nos 2 ou 3 dias subsequentes. Cheguei um dia à UTI e o rapaz estava dando uma sopinha, às colheradas, ao paciente. Me postei diante da cama e fiquei observando, satisfeito. Tinha que examiná-lo e questioná-lo sobre dores, falta de ar, etc, mas como estava quase no final, resolvi esperar e apreciar aquele momento de pequena felicidade (dizem até que a vida é feita destas pequenas felicidades!). Ao perceber, o técnico de enfermagem começou a falar, com seus trejeitos característicos, de como ele estava melhor, levantando o ânimo do paciente. Ao terminar a refeição, ele saiu do quarto e eu fiquei a sós com o paciente. Tirei o estetoscópio da parede e antes de posicioná-lo nos ouvidos o paciente disparou: “Pô, Dr! Que é que essa bichona tá fazendo aqui?”
Me senti mal, mas não consegui responder nada. Limitei a dizer que ele tinha sido cuidado, durante quase toda a internação, por aquele rapaz e que ele era muito competente. Agora, com toda essa violência estampada nas páginas de sítios e jornais, me ocorre novamente essa estória de intolerância.
É esse o paradoxo da homofilia. Homossexuais masculinos costumam ter um olhar diferenciado para o cuidar. Amam a espécie humana – sem preconceito de gênero –  e aprendi a ver isso no meu trabalho, que, convenhamos, não é um parque de diversões. Peço a licença deste hibridismo, mas usei o homo- do latim que significa homem, anthropos (no grego), ser humano, junto com o sufixo grego –filia, afinidade por, gostar de, amar; e não o homo- grego (igual, o mesmo) pela exata força do trocadilho e pela estranheza que a expressão gera. Estranheza que me causa o fato de não entender como pode ser possível um homossexual que sofre um preconceito diuturno, eternas gozações e piadas de malgosto, bullyings, agressões verbais ou físicas da sociedade em que está inserido, possa demonstrar um amor tão verdadeiro e engajado pela mesma espécie (Homo) que o maltrata. Paradoxo afetivo-linguístico, sem dúvida. Sem dúvida, um caso de homoafetividade.