Biribol está longe de ser um esporte popular. A modalidade, que é uma exclusividade brasileira, é teoricamente um vôlei disputado em piscina. É justamente nesse jogo que a cidade de Ubatuba vem se destacando nos últimos anos. A equipe que representa o município nos Jogos Regionais acaba de se sagrar bicampeã na modalidade. Além disso, é o único time da cidade que conquistou quatro vezes consecutivas uma vaga para os Jogos Abertos, competição que reúne os melhores esportistas de todo o Estado de São Paulo.
Essa história começou em 2006, apenas com o objetivo de aumentar a participação ubatubense nos Jogos Regionais. Nesta época, José Luiz Bittencourt Júnior saiu “a caça” de atletas que estariam interessados em participar da inciativa. “A questão foi até um pouco pessoal. Eu tenho o joelho operado e queria praticar um esporte com menos impacto. Foi aí que tive a idéia do biribol. Começei perguntando para o pessoal do vôlei e eles se animaram. Conseguimos reunir um grupo de atletas e realizamos apenas um treino antes dos Jogos de 2006”, conta Bittencourt, acrescentando que a “quadra” foi improvisada em uma piscina grande, onde a rede era um barbante amarrado em dois bambus.
Logo na estreia em competições, o resultado já foi melhor do que o esperado. Na época, as disputas ainda não eram divididas em duas divisões e Ubatuba ainda conseguiu terminar na sexta colocação. Em 2007, Ubatuba foi a sede dos Jogos Regionais e a prefeitura, por sua vez, construiu uma piscina oficial para a disputa de biribol (8m x 4m com 1.3m de profundidade). A equipe ubatubense então já tinha um local mais adequado para realizar os treinos e o reflexo do trabalho ficou visível no desempenho do time municipal.
Jogando em casa, a equipe ficou na quarta colocação da competição, à frente de equipes que já tinham até conquistado medalhas no passado. No ano seguinte, o biribol de Ubatuba ficou com a prata e, em 2009, nos Jogos Regionais de Atibaia, a grande consagração de conquistar a medalha de ouro da segunda divisão.
“Essa conquista foi importante, pois comprovamos que Ubatuba, mesmo com um time amador, só ficava atrás dos profissionais. Os atletas profissionais que jogam o campeonato brasileiro são contratados pelas cidades mais tradicionais, como São José dos Campos e Pindamoiangaba” argumenta Bittencourt.
A conquista do título deu acesso à primeira divisão em 2010, onde o grupo ubatubense enfrentaria novamente as equipes que contam com profissionais da modalidade. O desempenho foi satisfatório, e a equipe, que fez questão de aplicar um sistema de rodízio entre os oito atletas (só jogam quatro por partida) terminou a competição regional na quinta posição.
Nesse ano, de volta ao nível de jogadores amadores, o biribol ubatubense foi apontado como grande favorito ao título e conquistou o bicampeonato da segunda divisão dos Jogos Regionais, no último dia 10. Em mais uma campanha irretocável, sem perder sequer um set, Ubatuba atropelou os seus adversários e garantiu a quarta classificação consecutiva para os Jogos Abertos do Interior, algo inimaginável para um esporte que tem cinco anos na cidade.
“Podemos não conseguir bater de frente contra os profissionais e jogadores mais tradicionais, mas mostramos que em menos de cinco anos de prática já estamos muito acima no nível amador. É só ver as parciais desta última competição”, diz outro integrante do time ubatubense, Georges Issa.
Na primeira fase, Ubatuba venceu Santa Isabel, Ilhabela e Franco da Rocha, todos por 2 a 0, garantindo o primeiro lugar do Grupo B. Nas semifinais, Ubatuba massacrou Caieiras, vencendo por 3 sets a 0, parciais de 21/03, 21/07 e 21/07. Ilhabela eliminou Caraguá, ganhando também por 3 a 0. O título para Ilhabela era improvável, mas a torcida acreditava. Com um público poucas vezes visto em jogos de biribol, Ilhabela lotou e coloriu a piscina do Centro Esportivo João do Pulo, em Pindamonhangaba. Mas a festa só durou até a bola subir para o primeiro saque. Sem dificuldade, Ubatuba fez 3 sets a 0, parciais de 21/09, 21/15 e 21/11, e levantou o caneco pela segunda vez.
“Acredito que é um desempenho expressivo não só em resultados, mas também pelo pouco tempo de treino. Ainda jogamos tipo vôlei, tem hora que sai até manchete. Os profissionais praticamente não usam manchetes. Sabemos que ainda falta algo, talvez uma maior estatura dos atletas e uma rotina mais intensa de treino para poder bater de frente com eles. Mas o fato é que já posso acreditar que isso é uma semente que estamos plantando para as próximas gerações”, explica José Luiz Bittencourt Júnior.
Compõem o time bicampeão Georges Issa, Caio Bittencurt, Paulinho Rocha, Vinícius Brito, Lyanderson Santos, Antônio Pinto e Bittencourt Jr. No entanto, os atletas gostam de ressaltar que o grupo é maior, contendo ainda nomes importantes da modalidade, como Salatiel Santos e Samuel Fernandes, desfalques nesta edição dos jogos.
Biribol
O biribol é uma espécie de voleibol jogado dentro de uma piscina, cujas dimensões são 8m de comprimento, 4m de largura e 1,3m de profundidade. Cada equipe é composta por quatro jogadores. Tem esse nome, pois foi criado por um professor de educação física morador da cidade de Birigui, no interior paulista, em 1968. O esporte só é praticado de forma organizada no Brasil, mas claro que nas piscinas de todo o mundo muita gente já esticou um barbante para praticar a modalidade. A rede que divide a piscina tem 2,62 metros e é maior do que a rede de vôlei (2,43 metros). As recepções e cortadas são realmente diferentes do esporte de quadra e parecem tapas na bola. Apesar de permitir os três toques, muitas jogadas são finalizadas “de segunda”. Os sets vão até 21, sem vantagem.