Inicia-se hoje o julgamento da presidente Dilma Rousseff no Senado. Julgamento é modo de dizer, pois o veredito já está dado, assistir-se-á (mesóclise em homenagem a Temer) a uma pantomima.
A presidente já não fala para convencer os senadores, mas para a história. Porém, fala mal à posteridade: a sua carta, “mensagem ao povo brasileiro”, é burocrática e deixa de apontar as verdadeiras razões políticas pelas quais será imolada.
Uma única vez ela aponta (indiretamente) os seus algozes: “Jamais se encontrará na minha vida registro de desonestidade, covardia ou traição (Temer). Ao contrário dos que deram início a este processo injusto e ilegal, não tenho contas secretas no exterior, nunca desviei um único centavo do patrimônio público para meu enriquecimento pessoal ou de terceiros e não recebi propina de ninguém (Eduardo Cunha)”.
Vejam a diferença da Carta Testamento de Getúlio Vargas: “Mais uma vez as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam; e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes”.
Notem como são os mesmo temas em debate: “A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a Justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar a liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobras, mal começa esta a funcionar a onda de agitação se avoluma”. (Petrobras, interesses americanos no Sul, salário mínimo, impostos.)
Na segunda-feira, a presidente faz pessoalmente sua defesa no Senado. Como a legalidade atropelada, sua fala teria de ser, no mínimo, uma espécie de “Eu acuso”; mas é difícil prever seu comportamento.
Porém, de um jeito ou de outro, os golpistas serão condenados pelo tribunal da história.
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