Levante o braço quem nunca se aborreceu com a burocracia bancária, amargando uma fila ou tendo de providenciar uma lista de documentos para abrir uma simples conta; ou nunca precisou implorar para ter um mínimo de atenção do gerente; ou nunca ficou irritado ao se confrontar com juros extorsivos quando precisou de um empréstimo.
Se uma pesquisa com perguntas desse tipo fosse feita no Brasil, é bem possível que 60% respondessem que já haviam passado por pelo menos um dos perrengues anotados acima. Digo 60% pois este é o índice de pessoas “bancarizadas” no Brasil, isto é, que dispõem de conta em banco.
Da mesma forma que as empresas de tecnologia, as “startups”, chacoalharam vários ramos de negócios solidamente estabelecidos – desde a comunicação até os transportes urbanos -, chegou a vez de os bancos terem de enfrentar esses novos e ágeis concorrentes. Como aconteceu com os outros negócios, as novas plataformas de serviços bancários não surgiram a partir de empresas financeiras já estabelecidas, mas com novos empreendedores, com conceitos inovadores.
Na brecha das grandes, burocráticas, lentas e caras (para os clientes) estruturas bancárias, estão brotando as chamadas “fintechs” – das palavras em inglês “financial” (finanças) e “technology” (tecnologia) – oferecendo praticamente todos os serviços bancários a custos e juros mais baixos – e com a facilidade de tudo ser feito online.
Alguns analistas preveem que, em um curto espaço de tempo, as fintechs substituirão os bancos tradicionais. Entretanto, as instituições financeiras estão procurando adaptar-se aos novos tempos, com os bancos criando departamentos de “inovação” para não ficar fora desse novo mercado – e seus executivos acompanham de perto a movimentação das fintechs, viajando periodicamente para o Vale do Silício (Estados Unidos), onde se concentram as novas empresas de tecnologia. Os grandes bancos internacionais também se preocupam com o avanço das startups financeiras.
Não por acaso, as fintechs ganharam força com a crise de 2008, que levou à desestruturação de gigantes bancários, obrigando o governo dos Estados Unidos a intervir para que não fossem à falência, pois, sendo “grande demais para quebrar”, poderiam levar a uma crise de proporções inauditas, caso não fossem socorridos. Tornou-se público também a sua cara estrutura, com seus executivos de salários exorbitantes.
Como a tecnologia dos smartphones está disseminada – mesmo entre a população de menor poder aquisitivo -, além dos clientes tradicionais dos grandes conglomerados bancários, as novas empresas podem capturar a clientela que não tem conta em banco, cerca de 55 milhões de brasileiros. Algumas fintechs apresentam-se mesmo como especializadas em serviços para pessoas de baixa renda.
Uma ressalva que sempre gosto de fazer a respeito dessas novas empresas de tecnologia: elas não são entidades de benemerência ou surgem apenas para facilitar a vida das pessoas (ainda que possam fazer isso) como algumas gostam de alardear. Elas visam a resultados econômicos.
A Uber, por exemplo, quando surgiu, apresentava-se como um inocente aplicativo de “carona compartilhada”, e não como uma empresa capitalista. Essas empresas, como qualquer outra, visam ao lucro. Por óbvio, não há problema nenhum nisso, mas sempre é bom esclarecer.
NOTAS
Serviços
Alguns serviços oferecidos pelas fintechs: seguros, empréstimos (a juros mais baixos), cartões de crédito (sem cobrança de anuidade), pagamentos, gestão financeira para pequenos negócios, transferência de recursos.
Especialização
Normalmente, cada empresa é especializada em um tipo de negócio e pode atender pessoas físicas e jurídicas. No Brasil existem 130 fintechs; no mundo, mais de 1.400.
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