Em uma tarde nublada depois da missa de meio-dia, na ornamentada catedral de granito na cidade espanhola de Santiago de Compostela, a praça adjacente estava abarrotada de turistas, muitos andando com varas de madeira e carregando mochilas. Por séculos, os autodenominados peregrinos têm caminhado dúzias – e algumas vezes centenas – de quilômetros para chegar até aqui, tendo percorrido as antigas rotas cristãs coletivamente conhecidas como 'El Camino de Santiago’, ou Caminhos de Santiago, porque acredita-se que a catedral guarde os restos mortais do apóstolo São Tiago Maior.
Enquanto muitos andarilhos são religiosos, um número crescente de pessoas (atraídas talvez pelo apelo épico do percurso) têm feito a migração para a cidade, na região esparsamente povoada do noroeste de Galiza, por razões seculares. Lara Steinbiss e Irene Arbeiter-Sanchez, duas adolescentes da Alemanha, chegaram à catedral depois de caminharem durante nove dias, como parte de um trabalho para a escola. O jardineiro orgânico da Inglaterra Jon Cope, 30 anos, inclinou-se descalço na praça, com as unhas do pé pretas servindo como prova da árdua jornada de 86 dias e 2.253 quilômetros, que ele descreveu como “religiosa no sentido da adoração à vida, em vez da adoração a Deus”.
Quaisquer que sejam os motivos, eles estão chegando a um lugar sedento por expandir seu apelo para além da devoção religiosa. Neste ano, enquanto a cidade observa o aniversário de 800 anos da consagração da catedral com uma série de festivais e eventos culturais que celebram a rica herança religiosa da cidade, ela também comenta orgulhosamente sobre um novo e decididamente moderno atrativo: uma estrutura espetacular chamada Cidade da Cultura da Galiza.
O centro cultural, inaugurado oficialmente em janeiro, fica a menos de um quilômetro do centro histórico da cidade. Embora ainda não esteja terminado completamente, o ambicioso projeto já está sendo proclamado como um farol da cultura do século 21, em uma cidade que depende de sua fama como destino religioso desde a Idade Média.
Em janeiro, visitantes tiveram o primeiro vislumbre do interior da Cidade da Cultura, um amplo complexo projetado pelo arquiteto americano Peter Eisenman, que está em construção há dez anos, com um custo de aproximadamente 400 milhões de euros (aproximadamente US$ 557 milhões). O design de Eisenman, um pesado campus de granito de edifícios aninhados para formar ondas gigantes de pedra e vidro, foi modelado com base na antiga cidade histórica de Santiago e venceu projetos de arquitetos de ponta como Rem Koolhaas, Ricardo Bofill, Jean Nouvel e Daniel Libeskind, em um concurso internacional patrocinado pelo governo regional em 1999.
12 anos depois, o príncipe herdeiro Felipe e sua esposa, a princesa Letizia, ajudaram a inaugurar os dois primeiros edifícios prontos, agora abertos ao público: uma biblioteca e um arquivo cheios de documentos culturais e históricos. Duas outras estruturas – um museu, que irá sediar exposições itinerantes, e um edifício de escritórios administrativos – estão agendadas para inauguração no final desse ano, enquanto os componentes finais do projeto, incluindo um centro artístico de diversos andares para música e performances, ainda estão em construção.
O projeto não correu sem complicações, tendo sido iniciado nos anos que sucederam o sucesso do Museu Guggenheim projetado por Frank Gehry, na cidade espanhola de Bilbao, mas foi construído em uma era de maior austeridade.
Roberto Varela, ministro regional da cultura e turismo, prefere a Cidade da Cultura a alguns edifícios largamente aclamados. “Pela primeira vez, temos uma estrutura que é verdadeiramente nova e moderna, e pode competir com outras estruturas similares da Espanha”, diz ele, especificamente citando o museu de Bilbao e a Cidade das Artes e das Ciências em Valência, comparações que sublinham o enorme tamanho e o escopo ambicioso da Cidade da Cultura – como se chamá-la de 'Cidade’ não fosse sugestivo o suficiente.
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