Os termos climatério e menopausa frequentemente causam muita confusão, pois são usados como se tivessem o mesmo significado, quando na realidade são eventos distintos.
O climatério é um fenômeno endócrino que ocorre naturalmente em todas as mulheres. As mulheres têm número limitado de folículos ovarianos, que produzem os principais hormônios femininos: o estrogênio e a progesterona. O número de folículos reduz gradualmente, uma vez que, a cada ciclo menstrual, um grupo deles é recrutado para promover a ovulação. No final, quando há poucos folículos viáveis, os ovários perdem progressivamente a capacidade de produzir seus hormônios, o que ocorre, em geral, em torno dos 41 anos de idade. Nesta fase, as menstruações continuam normalmente, embora possam assumir ritmo irregular. Assim, o climatério marca o final da vida reprodutiva da mulher.
A busca por medicamentos que não contém hormônios para amenizar os sintomas do climatério é uma estratégia muito importante para melhorar a qualidade de vida das mulheres que se encontram nessa fase da vida e não podem se submeter à TRH.
Já a menopausa nada mais é do que a última menstruação, momento no qual a mulher entra no período pós-menopausa. Pode-se dizer que a mulher apresentou sua última menstruação quando está há mais de um ano sem menstruar. Na mulher brasileira, esse fenômeno ocorre por volta dos 51 anos de idade.
Vários sintomas podem estar presentes durante o período de climatério. São provocados, principalmente, pela produção reduzida dos principais hormônios femininos. Entre eles destacam-se os sintomas vasomotores, que incluem as ondas de calor (fogachos) e o suor noturno, que causam grande transtorno. Esses sintomas acometem cerca de 80% das mulheres, desaparecendo espontaneamente em cerca de 50% delas dentro de quatro anos, mas permanecem em 30% das com mais de 60 anos, situação extremamente desconfortável. Eles podem aparecer espontaneamente, ao longo do dia, ou estar associados a fatores desencadeadores, como emoções, mudanças súbitas de temperatura, estresse, consumo de álcool, café ou bebidas quentes. Outras manifestações clínicas comuns no climatério são insônia, formigamentos, alterações de humor, cansaço, dores musculares, dores articulares, dor de cabeça, palpitação, zumbidos, redução da libido, diminuição da lubrificação vaginal, deposição de gordura no abdome e flancos.
É importante frisar que as mulheres passam aproximadamente um terço de suas vidas após a menopausa. É óbvio que tais sintomas reduzem significativamente a qualidade de vida e necessitam ser tratados. O tratamento de referência é a terapia de reposição hormonal (TRH), atualmente disponível em diversas apresentações. Embora a TRH seja efetiva para reduzir os sintomas, alguns estudos recentes puseram em cheque a relação entre o risco e o benefício da TRH, em especial, pela possibilidade do aumento do risco de câncer de mama. Isso fez com que muitas mulheres descontinuassem a TRH. Há, também, as mulheres que não se adaptam com a TRH e aquelas para as quais existem contraindicações, por apresentar risco aumentado de câncer de mama, por exemplo.
Por esse motivo, atualmente, há novo interesse pela terapia dos sintomas vasomotores com medicamentos não hormonais que possam melhorar a qualidade de vida das mulheres, sem, contudo, aumentar o risco de doenças graves.
O tratamento pode ser realizado sem o auxílio de medicamentos (tratamento não farmacológico), usando, por exemplo, a acupuntura ou estabelecendo modificações no estilo de vida. Neste caso, usar roupas leves, diminuir a temperatura dos quartos, beber bebidas frias, evitar alimentos quentes e apimentados, praticar atividades físicas, reduzir o peso e parar de fumar são medidas que podem contribuir para a melhora dos sintomas.
Os medicamentos são outra estratégia frequentemente utilizada de forma isolada ou em associação às terapias não farmacológicas. O tratamento medicamentoso inclui a TRH (estrogênio, progesterona, tibolona e os moduladores seletivos de hormônios estrogênicos) e o não hormonal. As substâncias não hormonais mais bem estudadas são os antidepressivos que atuam via serotonina, via serotonina/noradrenalina e a gabapentina. Os medicamentos não hormonais usados para tratar manifestações clínicas do climatério podem ser divididos em cinco grupos principais:
- Medicamentos que agem via serotonina: são exemplos a paroxetina, o citalopram, o escitalopran, a sertralina e a fluoxetina. A paroxetina foi recentemente aprovada pelo FDA para o tratamento dos sintomas vasomotores do climatério. É o primeiro medicamento não hormonal aprovado para esse fim nos Estados Unidos. O novo medicamento, denominado Brisdelle®, contém dose mais baixa de paroxetina (7,5mg) quando comparada à dose de 20mg dos comprimidos usualmente disponíveis no mercado
- Medicamentos que agem via serotonina + noradrenalina (exemplos: a venlafaxina, desvalafaxina e a duloxetina)
- Os antiepiléticos (exemplo: a gabapentina). A pregabalina, substância usada para tratamento fibromialgia, parece ser, também, eficaz
- Medicamentos fitoterápicos (exemplos: Cemicifuga racemosa, Glycine max, Valeriana, isoflavonas etc)
- A homeopatia também tem sido utilizada, especialmente, para o alívio dos sintomas vasomotores. Algumas substâncias utilizadas na homeopatia são A. racemosa, A. montana, Glonoinum, L. mutus e S. canadensis.
A busca por medicamentos que não contém hormônios para amenizar os sintomas do climatério é uma estratégia muito importante para melhorar a qualidade de vida das mulheres que se encontram nessa fase da vida e não podem se submeter à TRH.
Deve-se enfatizar, contudo, o fato de que os medicamentos não hormonais, mesmo os fitoterápicos, podem ter efeitos colaterais severos em doses altas. Além disso, eles podem interagir com outros medicamentos que a mulher já esteja utilizando, provocando diversas complicações. Dessa forma, embora avanços importantes estejam ocorrendo, a terapia deve ser sempre individual, realizada sob supervisão médica, com criteriosa avaliação entre os riscos e benefícios.
Referências
UMLAND ME, FALCONIERI L. Treatment options for vasomotor symptoms in menopause: focus on desvenlafaxine. International Journal of Women?s Health 2012:4 305?319.
MORROW PKH, MATTAIR DN, HORTOBAGYI GN. Hot Flashes: A Review of Pathophysiology and Treatment Modalities. The Oncologist 2011:16:1658?1664 www.TheOncologist.com.